Francisco e a Teologia da Criação.
800 anos do Cântico das Criaturas.
Ao contemplar os céus, o sol, a lua, o vento, a água, o fogo e a terra, Francisco de Assis exprimiu uma fé que se torna missão e cântico: a criação inteira é dom de Deus, reflexo do seu amor e chamada à adoração. Neste texto para a formação da OFSE, examinamos como essa visão se articula com a teologia protestante-reformada, abrindo caminho para uma espiritualidade franciscana evangélica.
1. A criação como dom e revelação
Francisco inicia o seu célebre cântico com estas palavras:
> “Altíssimo, onipotente, bom Senhor, a ti pertencem o louvor, a glória e toda bênção … Louvado sejais, meu Senhor, com todas as tuas criaturas…” (versão do *Cântico das Criaturas).
Aqui se revela um primeiro princípio: a criação é manifestação de Deus — não um fim em si mesma — e por isso «com todas as tuas criaturas» se dirige ao Senhor. Francisco reconhece que todas as criaturas são irmãs e irmãos (“irmão sol”, “irmã água” etc.), não como divindades, mas como portadoras de significado sacramental:
“Francisco nos recorda que a criação revela a presença de Deus quando é engajada de forma apropriada”
No contexto reformado, essa ideia ecoa a afirmação de João Calvino de que “a obra da criação e a constante governação do universo” manifesta o conhecimento de Deus (Institutas I.5) e que tudo foi criado “desde o nada” com perfeição (Institutas I.15) . Assim, a criação torna-se um palco teológico: revela o Criador e exige do criatura-ser humano uma postura de gratidão, humildade e culto.
2. Humanidade, criação e cruz
Francisco não trata o ser humano como alheio à criação, mas como parte dela: “irmão” ao sol, “irmã” à terra. Ele rompe com o dualismo sagrado-profano, sendo coerente com uma teologia da encarnação e da cruz: a redenção não exclui o mundo criado, mas o abraça em Cristo (cf. Colossenses 1.20). Nesse sentido, a criação não é mero cenário, mas companheira da salvação.
No horizonte reformado, Calvino afirma que o ser humano foi criado à imagem de Deus (Gen 1.26-27) e que essa imagem implica sabedoria, justiça e santidade, “mas em forma finita” para o homem. A teologia da criação, para a OFSE, deve lembrar que a redenção integral alcança não apenas a alma humana mas todo o cosmos — em aliança com o Criador e com as criaturas.
3. A criação como liturgia e missão
O cântico de Francisco, composto por volta de 1224-25 (próximo aos seus últimos anos), enquanto estava enfermo e frágil, torna-se oração e missão: louvar o Senhor “com” todas as criaturas. Para a OFSE, esse gesto nos convida a viver uma liturgia universal: a natureza, a fraternidade, o serviço, a pobreza libertam-nos da tirania da exploração da criação e nos inserem no cuidado, no louvor e na intercessão.
Calvino, nesse sentido, alerta que a doutrina da criação serve “à utilização” prática: “o fim da doutrina é levar ao amor e ao temor de Deus”. A criação, portanto, não é objeto passivo, mas campo de vocação: o cristão franciscano-evangélico ora, serve e testemunha entre as criaturas, reconhecendo-as como irmãs e irmãos — e ao mesmo tempo adorando o Criador.
4. Aplicação formativa para a OFSE
Como irmãos e irmãs da OFSE, sob o manto da OESI, somos chamados a viver esta teologia da criação em três dimensões práticas:
Contemplação agradecida: reconhecer a criação como obra de Deus e convocar-a a louvar, como Francisco o fez. Em momentos de silêncio orante, deixar que o “irmão sol” e a “irmã lua” falem ao nosso espírito.
Serviço humilde: entrar na criação como servidor, não como senhor. Em atitudes de simplicidade, pobreza evangélica e carinho ecológico, manifestamos a reconciliação trazida pela cruz.
Missão intercessora: a criação geme (Rm 8.22) e clama por redenção. Como ordem de servos intercessores, unimo-nos à criação em súplica ao Criador, para que a reconciliação em Cristo se manifeste também no âmbito ecológico e comunitário.
Conclusão
A teologia da criação de Francisco e o marco reformado de Calvino não são opostos, mas se mutuamente enriquecem. Francisco nos ensina a louvar com todas as criaturas, e Calvino a entender que os céus e a terra proclamam a glória de Deus (Sl 19.1; Instituto I.5). Que a OFSE viva esse chamado com fé, humildade e serviço — para que o louvor que começou há 800 anos no “Cântico das Criaturas” se prolongue hoje em oração, missão e cuidado da criação.
> “Louvado seja o Senhor, que nos chama a viver reconciliados com a criação, com o próximo e com o Evangelho da cruz.”
Ao contemplar os céus, o sol, a lua, o vento, a água, o fogo e a terra, Francisco de Assis exprimiu uma fé que se torna missão e cântico: a criação inteira é dom de Deus, reflexo do seu amor e chamada à adoração. Neste texto para a formação da OFSE, examinamos como essa visão se articula com a teologia protestante-reformada, abrindo caminho para uma espiritualidade franciscana evangélica.
1. A criação como dom e revelação
Francisco inicia o seu célebre cântico com estas palavras:
> “Altíssimo, onipotente, bom Senhor, a ti pertencem o louvor, a glória e toda bênção … Louvado sejais, meu Senhor, com todas as tuas criaturas…” (versão do *Cântico das Criaturas).
Aqui se revela um primeiro princípio: a criação é manifestação de Deus — não um fim em si mesma — e por isso «com todas as tuas criaturas» se dirige ao Senhor. Francisco reconhece que todas as criaturas são irmãs e irmãos (“irmão sol”, “irmã água” etc.), não como divindades, mas como portadoras de significado sacramental:
“Francisco nos recorda que a criação revela a presença de Deus quando é engajada de forma apropriada”
No contexto reformado, essa ideia ecoa a afirmação de João Calvino de que “a obra da criação e a constante governação do universo” manifesta o conhecimento de Deus (Institutas I.5) e que tudo foi criado “desde o nada” com perfeição (Institutas I.15) . Assim, a criação torna-se um palco teológico: revela o Criador e exige do criatura-ser humano uma postura de gratidão, humildade e culto.
2. Humanidade, criação e cruz
Francisco não trata o ser humano como alheio à criação, mas como parte dela: “irmão” ao sol, “irmã” à terra. Ele rompe com o dualismo sagrado-profano, sendo coerente com uma teologia da encarnação e da cruz: a redenção não exclui o mundo criado, mas o abraça em Cristo (cf. Colossenses 1.20). Nesse sentido, a criação não é mero cenário, mas companheira da salvação.
No horizonte reformado, Calvino afirma que o ser humano foi criado à imagem de Deus (Gen 1.26-27) e que essa imagem implica sabedoria, justiça e santidade, “mas em forma finita” para o homem. A teologia da criação, para a OFSE, deve lembrar que a redenção integral alcança não apenas a alma humana mas todo o cosmos — em aliança com o Criador e com as criaturas.
3. A criação como liturgia e missão
O cântico de Francisco, composto por volta de 1224-25 (próximo aos seus últimos anos), enquanto estava enfermo e frágil, torna-se oração e missão: louvar o Senhor “com” todas as criaturas. Para a OFSE, esse gesto nos convida a viver uma liturgia universal: a natureza, a fraternidade, o serviço, a pobreza libertam-nos da tirania da exploração da criação e nos inserem no cuidado, no louvor e na intercessão.
Calvino, nesse sentido, alerta que a doutrina da criação serve “à utilização” prática: “o fim da doutrina é levar ao amor e ao temor de Deus”. A criação, portanto, não é objeto passivo, mas campo de vocação: o cristão franciscano-evangélico ora, serve e testemunha entre as criaturas, reconhecendo-as como irmãs e irmãos — e ao mesmo tempo adorando o Criador.
4. Aplicação formativa para a OFSE
Como irmãos e irmãs da OFSE, sob o manto da OESI, somos chamados a viver esta teologia da criação em três dimensões práticas:
Contemplação agradecida: reconhecer a criação como obra de Deus e convocar-a a louvar, como Francisco o fez. Em momentos de silêncio orante, deixar que o “irmão sol” e a “irmã lua” falem ao nosso espírito.
Serviço humilde: entrar na criação como servidor, não como senhor. Em atitudes de simplicidade, pobreza evangélica e carinho ecológico, manifestamos a reconciliação trazida pela cruz.
Missão intercessora: a criação geme (Rm 8.22) e clama por redenção. Como ordem de servos intercessores, unimo-nos à criação em súplica ao Criador, para que a reconciliação em Cristo se manifeste também no âmbito ecológico e comunitário.
Conclusão
A teologia da criação de Francisco e o marco reformado de Calvino não são opostos, mas se mutuamente enriquecem. Francisco nos ensina a louvar com todas as criaturas, e Calvino a entender que os céus e a terra proclamam a glória de Deus (Sl 19.1; Instituto I.5). Que a OFSE viva esse chamado com fé, humildade e serviço — para que o louvor que começou há 800 anos no “Cântico das Criaturas” se prolongue hoje em oração, missão e cuidado da criação.
> “Louvado seja o Senhor, que nos chama a viver reconciliados com a criação, com o próximo e com o Evangelho da cruz.”
Amém.