quinta-feira, 25 de abril de 2013


Cidade italiana expõe vida e morte de são Francisco de Assis

FABIANO MAISONNAVE
Exatos 831 anos após o nascimento de são Francisco, Assis, na província de Perugia (a cerca de 200 km de Roma), acaba de ganhar outra dádiva, desta vez a homenagem do novo
papa ao seu filho mais ilustre.
Mas o provável aumento do turismo na cidade histórica de 20 mil habitantes exigirá muita abstração do turista que procura uma experiência espiritual na companhia de uma turba de visitantes.

Mais do que nunca, o epicentro da visita a Assis é a basílica de são Francisco, um enorme complexo construído entre 1228 e 1253.
A construção, uma das mais belas da Itália, reúne afrescos revolucionários pintados sobre sua bela arquitetura e guarda o túmulo do santo, que escolheu o local da construção, chamado à época de colina do Inferno, para ficar próximo ao local onde pessoas eram executadas publicamente.
Lalo de Almeida/Folhapress
Freiras observam afrescos de Giotto na basílica de são Francisco, em Assis
Freiras observam afrescos de Giotto na basílica de são Francisco, em Assis
Para os interessados em conhecer a trajetória de são Francisco, a recomendação é começar pelos 28 afrescos atribuídos a Giotto (1267-1337) pintados nas paredes da igreja da parte superior, construída em estilo gótico. Na época, era a melhor forma de narrar a vida do santo aos camponeses analfabetos.
Hoje, com a ajuda de um audioguia, fica fácil entender passagens como o sermão aos pássaros ou quando ele se despe para renunciar aos bens materiais.
Mais difícil é apreciar em silêncio devido aos grupos ruidosos de turistas e estudantes, indiferentes aos reiterados pedidos de silêncio feitos pelos monges via alto-falante, incluindo um assertivo "shhhh".
Na igreja da parte inferior, de teto mais baixo, destaque para os impressionantes afrescos do século 13 sobre o altar principal, pintados por Maestro delle Vele, um aluno de Giotto.
Lalo de Almeida/Folhapress
Vista da basílica de são Pedro, em Assis, onde esta enterrado Sao Francisco
Vista da basílica de são Pedro, em Assis, onde esta enterrado Sao Francisco

Depois de apreciar os altares e as abóbodas ricamente pintados, é possível descer até o sóbrio túmulo de são Francisco, de apelo principalmente espiritual.
Ali, não é difícil encontrar Massimo Copppo, que passa boa parte do dia nas imediações da basílica com vestes franciscanas e os pés descalços vermelhos e feridos pelo frio da região da Umbria. Assim, ele se tornou uma atração momentânea do local.

Editoria de Arte/Folhapress
ALÉM DA BASÍLICA
Embora sem o esplendor da basílica, Assis tem diversas atrações que merecem visita.
No centro, está a fachada impressionante do templo de Minerva, erguido no século 1º. Adiante, a basílica de santa Clara guarda a cruz de são Damião, que teria revelado a Francisco sua missão de reformar a Igreja.
Todos os pontos de interesse podem ser alcançados a pé pelas ruas estreitas e íngremes da cidade.


ABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A ASSIS (ITÁLIA)

terça-feira, 9 de abril de 2013


A Festa da Páscoa para Francisco de Assis
Rev. Edson Cortasio Sardinha

            A Páscoa foi marcante na vida de Francisco de Assis. Como crente do século XIII, amou a morte e a ressurreição do Senhor do profundidade e sensibilidade.
            Boaventura diz que em sua morte Francisco "pediu que fosse lido o texto de São João que começa assim: "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, havendo amado os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou..." (Jo 13,1).  Queria ouvir nessa passagem do Evangelho o chamado do Bem-Amado que bate à porta, esse Bem-Amado de quem estava separado apenas pela simples parede da carne. Por fim, tendo-se realizado nele todos os planos de Deus, o bem-aventurado adormeceu no Senhor, orando e cantando um salmo".[i]
            Francisco tentava enxergar a tristeza e a pobreza do Senhor que ficou sozinho na noite de Páscoa, preso pelos guardas do Templo. Tentava ver na festa da Páscoa a páscoa solitária que o Senhor passou tanto na prisão e morte como no túmulo.
            Tomás de Celano conta que "num dia de Páscoa, os frades prepararam no eremitério de Gréccio uma mesa mais bonita, com toalhas brancas e copos de vidro. Quando Francisco desceu de seu quarto de oração (cela) e foi para a mesa, viu a arrumada em lugar elevado e ostentosamente enfeitada: toda ela ria, mas ele não sorriu. Às escondidas e devagarzinho, saiu, pôs na cabeça o chapéu de um pobre que lá estava, tomou um bordão e foi para fora. Esperou à porta até que os frades começaram a comer, porque estavam costumados a não esperá-lo quando não vinha ao sinal. Quando iniciaram o almoço, clamou à porta como um pobre de verdade: "Uma esmola, por amor de Deus, para um peregrino pobre e doente". Os frades responderam: "Entra, homem, pelo amor daquele que invocaste". Entrou logo e se apresentou aos comensais. Que espanto provocou esse peregrino! Deram-lhe uma escudela, e ele se sentou à parte, pondo o prato na cinza. E disse: "Agora estou sentado como um frade menor". Dirigindo-se aos irmãos, disse: "Mais do que os outros religiosos, devemos deixar-nos levar pela pobreza do Filho de Deus. Vi a mesa preparada e enfeitada, e vi que não era de pobres que pedem esmola de porta em porta". O fato demonstra que ele era semelhante àquele outro peregrino que ficou sozinho em Jerusalém nesse mesmo dia de Páscoa. Mas, quando falou, deixou abrasado o coração de seus discípulos[ii].
            Para Francisco as festividades da Páscoa não deveriam ser repletas de comidas e bebidas. deveria ser semelhante ao ressuscitado que apareceu no caminho de Emaús.
Para Francisco devemos celebrar a Páscoa como peregrinos. Pedia que celebrassem a Páscoa em pobreza de espírito, sempre lembrando que estamos nesta vida em trânsito para a vida eterna.
            Boaventura diz que "certo dia de Páscoa, encontrando-se em um santuário ou eremitério, tão distanciado do contato dos homens que não podia facilmente mendigar seu alimento, lembrou-se daquele que no mesmo dia apareceu em traje de peregrino aos discípulos no caminho de Emaús. Pediu esmola a seus irmãos, considerando-se a si mesmo como um pobre peregrino. E tendo-a recebido com humildade, instruiu-os nas divinas letras, exortando-os a que no deserto deste mundo se julgassem peregrinos e estrangeiros, isto é, como verdadeiros israelitas, e a que celebrassem continuamente em pobreza de espírito a Páscoa do Senhor, ou seja, o trânsito desta vida à vida eterna"[iii].
            O Tempo da Páscoa deve ser celebrado sempre pensando na ressurreição do Senhor e na nossa ressurreição. Somos peregrinos a caminho do Céu mediante a graça do Senhor através de sua Morte e ressurreição. Jesus ressuscitou! Ele ressuscitou realmente!


[i] S. Boaventura, LEGENDA MENOR : c.5
[ii] Tomás de Celano,  SEGUNDA VIDA DE SÃO FRANCISCO - Cp 31
[iii] S. Boaventura, LEGENDA MAIOR C. 9