segunda-feira, 10 de novembro de 2025

A Espiritualidade da Franciscana Isabel da Hungria

A Espiritualidade da Franciscana Isabel da Hungria
falecida em 17 de novembro de 1231
Jovem viúva de 20 anos, Isabel foi expulsa de seu castelo com os quatro filhos pequenos e só conseguiu alojamento num depósito, ao lado dos porcos. 
Nessa situação,  mandou cantar um Te Deum, para agradecer a 
Nosso Senhor a graça de sofrer em união com Ele.
Isabel nasceu em 1207, na Hungria. Aos 4 anos, entrava na capela do castelo, abria o grande livro dos Salmos, e ainda sem saber ler, olhava-o longamente e passava muitas horas recolhida em oração. Ao brincar com outras meninas, procurava algum jeito de encaminhá-las para a capela. Quando esta estava fechada, beijava-lhe a porta, a fechadura, as paredes, pois, dizia ela, "Deus lá dentro repousa".
Antes de completar dez anos, perdeu a mãe, a Rainha Gertrudes. Na mesma época, faleceu também seu protetor, o Duque Herman, o qual era pai de seu futuro esposo e a tratava como filha, amando-a justamente por sua piedade inocente e graciosa.
Aos 13 anos de idade, realizou-se seu casamento com o poderoso e não menos piedoso Duque Luiz da Turíngia, ao qual havia sido prometida desde tenra infância.
Isabel fazia bom uso da imensa riqueza de seu esposo, distribuindo aos pobres generosas esmolas. Isto causava profunda irritação a muitas pessoas da corte, sobretudo aos seus dois cunhados, Henrique e Conrado. Acusando-a de estar "dilapidando o patrimônio familiar", estes não perdiam oportunidade de tentar fazer-lhe mal.
E ela, por sua vez, não se contentava em simplesmente dar moedas ou alimentos. Seu amor a Deus a impelia a ações muito mais generosas.
No ano de 1226, estando seu esposo na Itália com o Imperador Frederico II, uma terrível fome assolou toda a Alemanha, sobretudo a Turíngia. Pelas matas e campos, andavam multidões de infelizes à procura de raízes e frutas para se alimentarem. Bois, cavalos e outros animais que morriam eram logo devorados pelos homens famintos. Em breve a morte começou sua ceifa. Pelos campos e estradas, amontoavam- se os cadáveres.
Nessa terrível situação, a única ocupação de Isabel, dia e noite, era socorrer os infelizes. Transformou seu castelo na "morada da caridade sem limites", como escreve um de seus biógrafos. Distribuiu aos indigentes todo o dinheiro do tesouro Ducal. Vencendo a oposição de alguns administradores egoístas, mandou abrir os celeiros do castelo, e ela mesma dirigiu a distribuição de tudo, sem nada reservar para seus próprios familiares. Com equilíbrio e bom senso, fazia dar a cada necessitado uma ração diária. Aqueles que, por fraqueza ou doença, não conseguiam subir até o castelo, eram objeto de uma solicitude especial de parte da Santa: ela descia para ir pessoalmente socorrê-los no sopé da montanha.
Fundou três hospitais para auxiliar os doentes: um para mulheres pobres, outro só para crianças, e um terceiro para todos em geral.
Onde havia um agonizante, lá estava ela, a fim de ajudá-lo a morrer bem.
Passado esse terrível período de desolação, ela reuniu os homens e mulheres em condições de trabalhar, providenciou sapatos, roupas e ferramentas para os que não tinham, e ordenou que fossem para o campo cultivar. Em breve voltaram os bons tempos de fartura e ela pôde ver com alegria o trigo encher os celeiros e o sorriso voltar aos lábios de toda aquela gente.
Em Santa Isabel, reluz muito a solicitude para com os necessitados. Mas ela era exímia na prática de todas as virtudes. Poucas pessoas levaram tão longe quanto ela o desapego aos bens desta terra e a conformação amorosa com a vontade de Deus. Esposa exemplar, unida em matrimônio com um marido modelar, a ele dedicava todo o afeto natural e legítimo de seu nobre coração. E era retribuída na mesma proporção. Muito mais do que isso, porém, unia-os o amor a Deus, o desejo de perfeição.
Nesta perspectiva, compreende-se com facilidade a dor da separação, quando o Duque da Turíngia partiu para a Cruzada, em 1227. Sofrimento incomparavelmente maior quando, pouco tempo depois, recebeu a notícia de que ele havia falecido antes mesmo de chegar à Terra Santa.
Esse era, porém, apenas o início de uma cascata de sofrimentos. Agora ela não tinha mais a proteção de seu virtuoso esposo. Disso se aproveitaram seus dois cunhados para deixarem expandir o ódio que lhe tinham. No mesmo dia a expulsaram do castelo, sob um frio muito rigoroso, com os quatro filhos pequenos, sem lhe permitir levar qualquer dinheiro, agasalho ou alimento. E num requinte de crueldade, proibiram, sob severas penalidades, que qualquer habitante da cidade lhe desse abrigo.
Após bater sem resultado em inúmeras portas, um taberneiro - condoído, porém, temeroso de represálias - acolheu-a, mas oferecendo-lhe como albergue uma espécie de cavalariça que servia também de chiqueiro! Deste modo, a Duquesa e filha de Rei viu-se reduzida a passar a noite, com os filhos, na companhia dos porcos, agasalhando- se nos utensílios de montaria para não morrer de frio.
No dia seguinte, pessoas caridosas e de caráter levaram-lhe alimentos. Uma noite e um dia passou ela nesta "pousada dos porcos", onde foi altamente recompensada por uma aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Um velho sacerdote das redondezas ofereceu-lhe alojamento, não dispondo senão de um miserável casebre. Certo dia, a santa Duquesa visitou o convento dos Frades Menores para pedir... Auxílio? Não. Pediu-lhes para cantarem um Te Deum, na intenção de agradecer ao Senhor a graça de participar nos seus sofrimentos!
Por ordem de seus cunhados, alguns esbirros arrancaram-na daquele miserável abrigo, para mantê-la aprisionada em péssimas condições nas dependências de um velho castelo.
Após alguns meses de indescritíveis sofrimentos, sua tia Matilde, abadessa de Kitzing, tomou conhecimento desses fatos e enviou mensageiros com duas viaturas para levá-la com os filhos para o seu convento.
Passado pouco tempo, seu tio Egbert, Bispo-Príncipe de Bamberg, lhe comunicou uma proposta de casamento com o Imperador Frederico II, o mais poderoso soberano da época. Mas Isabel tinha ambições muito maiores! Seu coração estava todo voltado para o Infinito, nada nesta terra podia satisfazê-lo.
Passados poucos dias, regressaram à Turíngia os cavaleiros que tinham acompanhado o Duque Luiz à Cruzada. Apresentando-se a Conrado e Henrique, censuraram-lhes corajosamente a dureza e crueldade com que haviam tratado a viúva e os filhos de seu próprio irmão. Os dois culpados não resistiram à franqueza altiva dos seus vassalos. E, chorando, pediram perdão a Isabel, restituindo-lhe todos os bens de que a haviam despojado.
Isabel mandou construir ao lado do convento dos Frades Menores uma casa modestíssima - apelidada de "palácio de abjeção" pelos parentes de seu falecido marido - na qual se instalou, com os filhos e os serviçais que lhe permaneceram fiéis.

Na Sexta-Feira Santa de 1229, fez votos na Ordem de São Francisco, e tomou o hábito das Clarissas. Tendo edificado para si apenas uma pobre morada, empregou seus recursos em construir igrejas para Deus e hospitais para os doentes pobres, dos quais ela mesma passou a cuidar dia e noite, com mais carinho e solicitude do que antes. Deus concedeu-lhe a graça de servir aos desvalidos, não somente o pão para o corpo, mas também o esplendor da sua própria luz, através dos milagres que realizava por seu intermédio.
Certo dia, encontrou um menino estropiado e disforme, estendido na soleira da porta de um hospital. Além de surdo-mudo, ele não conseguia andar senão de quatro, como um animal. A mãe deixara-o ali, na esperança de que a boa Duquesa dele se apiedasse e o acolhesse. Logo que o viu, Isabel abaixou-se para acariciar-lhe os cabelos sujos e revoltos. E perguntou-lhe:
- Onde estão teus pais? Quem te deixou aqui? Não recebendo resposta, repetiu as perguntas. Mas o pobre ente apenas a fitava com olhos arregalados. Desconfiando de alguma possessão diabólica, ela disse em alta e clara voz:
- Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu te ordeno, a ti ou a quem em ti estiver, que me respondas de onde vens!
No mesmo instante, o menino ergueu- se e - ele que não havia aprendido a falar! - explicou-lhe com desembaraço sua triste vida. Depois, caindo de joelhos, pôs-se a chorar de alegria e louvar a Deus todo-poderoso.
- Eu não conhecia Deus, nem sabia de sua existência. Todo o meu ser era morto. Não sabia nada. Bendita sejas tu, senhora, que obtiveste de Deus a graça de não morrer como até o presente vivi. A estas palavras, Isabel pôs-se também de joelhos para agradecer ao Senhor, junto com o menino, e, por fim, recomendou-lhe:
- Agora volta para teus pais e não digas nada do que te aconteceu. Diz apenas que Deus te socorreu. Guarda-te sempre do pecado para não acontecer de voltares a ser o que eras.
A notícia desse milagre correu como um rastilho de pólvora, espalhando por toda a Turíngia a fama de santidade de Isabel. Em consequência, aumentou o número dos que a ela recorriam. E Deus dignava-Se de, por sua intercessão, atender a todos.
No dia 16 de novembro de 1231, Isabel adoeceu. Após receber a unção dos enfermos e o viático, Nosso Senhor lhe apareceu e revelou-lhe que dentro de três dias viria levá-la para o Céu. Depois desta visão, seu rosto ficou tão resplandecente que era quase impossível fixar-lhe os olhos.
Ao primeiro canto do galo do dia 19, ela disse: "Eis a hora em que Jesus nasceu de Maria Virgem. Que galo imponente e lindo seria aquele, o primeiro a cantar naquela noite maravilhosa! Ó Jesus, que resgatastes o mundo, que resgatastes a mim!"
Em seguida, disse baixinho: "Silêncio... Silêncio!..." E deixou pender a cabeça, como se dormisse. Sua alma acabava de entrar na glória celeste.


Texto baseado em: QUEIROZ, Antonio. Revista Arautos do Evangelho, Nov/2004, n. 35, p. 22 à 25)


O Presépio de Greccio – Releitura Protestante da narrativa de Tomás de Celano



O Presépio de Greccio – Releitura Protestante da narrativa de Tomás de Celano

Era tempo de Natal. Francisco, servo do Senhor, desejava celebrar o nascimento do Salvador de modo profundamente espiritual.
Dizia ele aos irmãos:

“Quero trazer à memória o nascimento do Senhor Jesus em Belém; quero contemplar, com os olhos da fé, a humildade daquele Menino que se fez carne por nós; quero recordar o modo como foi deitado numa manjedoura, entre o boi e o jumento, para que jamais esqueçamos o amor de Deus que se fez pobre para nos enriquecer com a sua graça.”

Com o coração ardente, pediu que num bosque de Greccio fosse preparado um lugar simples, com feno e uma manjedoura, e que se colocassem ali os animais do campo. Não se tratava de um espetáculo, mas de uma oração viva, um Evangelho em imagem, para reacender no povo o amor por Cristo encarnado.

Chegada a noite de Natal, irmãos e irmãs das vilas vizinhas subiram ao monte com tochas e cânticos. A luz das chamas iluminava o escuro da montanha como se o próprio céu descesse à terra. Todos se reuniram ao redor da manjedoura, e Francisco, cheio de alegria, contemplava aquele sinal: o Verbo feito carne, o Senhor da glória deitado no feno.

Ali, na simplicidade daquele lugar, a Palavra foi lida e proclamada. Francisco falou do Rei que veio pobre, do Criador que se fez criatura, do Senhor que desceu para servir. Sua voz tremia de emoção, e muitos choravam, pois compreendiam que o Salvador nasceu não em palácios, mas entre os humildes, para redimir os pecadores e reconciliar o mundo com Deus.

Entre os presentes, um dos irmãos teve uma visão interior: parecia-lhe ver o Menino Jesus deitado na manjedoura, e Francisco o tomava com ternura, como quem desperta alguém do sono. E compreendeu-se que o sentido dessa visão era espiritual: por meio do testemunho de Francisco, o amor por Cristo adormecido em muitos corações foi despertado novamente.

Desde então, Greccio tornou-se símbolo de renovação espiritual, lembrando a todos que o verdadeiro Natal acontece quando Cristo nasce no coração de quem crê.
E ali, onde antes havia apenas feno e silêncio, ergueu-se o louvor do povo que compreendeu o mistério:

“O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (João 1.14).

Reflexão devocional

O presépio de Greccio nos ensina que o Natal não é um enfeite, mas uma confissão: Deus veio habitar conosco.
A manjedoura é um altar da humildade divina, onde o Senhor da eternidade se curva para servir.
Assim, quando contemplamos o presépio, somos convidados não a adorar as formas, mas a adorar o Cristo vivo, o Emanuel, Deus conosco, que nasceu, morreu e ressuscitou por nós.