domingo, 26 de outubro de 2025

800 anos do Cântico das Criaturas — Uma celebração franciscana protestante

800 anos do Cântico das Criaturas — Uma celebração franciscana protestante

Neste ano de 2025, o mundo cristão celebra os 800 anos do “Cântico das Criaturas” (ou Cântico do Irmão Sol), composto por Francisco de Assis por volta de 1225, no mosteiro de São Damião, enquanto enfrentava dores, enfermidade e quase cegueira. Esse hino, considerado a primeira grande poesia da língua italiana, é uma das expressões mais puras da espiritualidade cristã medieval — e, ainda hoje, fala profundamente à alma protestante que busca viver a fé com simplicidade, humildade e gratidão diante do Criador.

Francisco canta não a si mesmo, nem suas dores, mas a Deus refletido em toda a criação: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas...” — um verso que ecoa o Salmo 148, onde céu, terra, sol, lua e ventos são convocados à adoração. Seu olhar é bíblico e pascal: ele enxerga a criação como um espelho do amor de Deus, reconciliada e redimida em Cristo. Por isso, mesmo em meio à doença, Francisco louva. Ele transforma o sofrimento em adoração, e a natureza em liturgia.

Para o movimento franciscano protestante, especialmente dentro do novo monasticismo e da espiritualidade contemplativa, o Cântico das Criaturas é um lembrete de que a adoração não se limita aos templos, mas se estende ao jardim, à montanha, à cidade e ao coração humano. É uma canção ecológica e cristocêntrica, que vê a criação não como algo a ser dominado, mas como irmã e companheira na peregrinação do Reino.

Celebrar os 800 anos deste cântico é, portanto, mais do que lembrar um texto antigo — é redescobrir o louvor cósmico que une fé, simplicidade e cuidado com a Casa Comum. É ouvir, com os ouvidos de um discípulo, o eco da graça no vento, na água, no fogo, e até na “irmã morte corporal”, como Francisco a chamou — não como inimiga, mas como passagem para a plena comunhão com o Criador.

Neste jubileu do Cântico das Criaturas, a Ordem Evangélica dos Servos Intercessores (OESI) une-se à grande família franciscana universal para proclamar, em espírito reformado e ecumênico:

> “Louvado seja o Senhor, que nos chama a viver reconciliados com a criação, com o próximo e com o Evangelho da cruz.”

Assim, oito séculos depois, o cântico ainda nos convida a viver uma fé encarnada, poética e serva — uma fé que vê em cada criatura um reflexo da bondade do Pai e um motivo para orar, servir e amar.

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