segunda-feira, 24 de novembro de 2025

“Preparai o Caminho do Senhor” (Is 40.3): Um Caminho Franciscano-Protestante para o Natal


“Preparai o Caminho do Senhor” (Is 40.3): Um Caminho Franciscano-Protestante para o Natal

O Advento é o tempo da espera ativa, em que a Igreja se coloca novamente sob a luz das promessas e aprende a caminhar com vigilância, humildade e esperança. Para nós, irmãos franciscanos da OFSE, este período adquire um sabor particular: é o tempo de retornar ao presépio de Greccio, onde Francisco não apenas representou o nascimento de Cristo, mas buscou “ver com os olhos do corpo as dificuldades em que se achou por falta do necessário um Menino recém-nascido” (Tomás de Celano, Vida Primeira, 84).

Francisco de Assis compreendia o Natal como a festa na qual a humildade de Deus brilha com mais força. Ele dizia:

> “Celebremos, pois, o dia em que Deus se fez nosso pequenino irmão”
(Legenda Perusina, 114).

A partir deste olhar franciscano, mas firmemente enraizado na Sagrada Escritura, nós – franciscanos protestantes da OESI – recebemos o Advento como uma escola espiritual. Aqui somos conduzidos a três movimentos essenciais:

1. Memória ― recordamos que o Verbo se fez carne (Jo 1.14).


2. Conversão/Arrependimento ― preparamos o coração para acolher o Rei humilde (Mc 1.1–3).


3. Esperança ― vivemos aguardando a manifestação final da glória de Cristo (Tito 2.13).

O teólogo franciscano Boaventura afirma que “a Encarnação é a primeira expressão da humildade do Altíssimo” (Itinerarium, I). Para nós, protestantes franciscanos, essa humildade se encontra plenamente na autoridade da Escritura e na suficiência da graça manifestada em Jesus Cristo. O Advento, portanto, não é apenas preparação litúrgica, mas uma prática de discipulado: aprender a acolher Cristo em sua mansidão, sua pobreza e sua luz.

Cinco Práticas Franciscano-Protestantes para Viver o Advento

1. Contemplar a Palavra Encarnada (Lectio Franciscana – Jo 1.1–14)

Assim como os primeiros frades reuniam-se entorno da Palavra, ocupando-se de “meditar continuamente na lei do Senhor” (Regra Não Bulada, XXII), também nós somos chamados a reservar tempo diário para ler, orar e contemplar as promessas do Advento.
Prática: ler diariamente um texto messiânico (Isaías, Salmos, Mateus 1–2, Lucas 1–2, João 1) e orar pedindo: “Senhor, faze nascer em mim a tua luz.”

2. Caminhar em Humildade e Simplicidade (Fil 2.5–11)

Francisco via na manjedoura o ícone da simplicidade do Reino. Ele ensinava:

> “O Altíssimo se fez pequeno por amor a ti; faze-te pequeno por amor a Ele.”
Prática: escolher uma atitude concreta de simplicidade: reduzir excessos, praticar generosidade, viver com propósito e gratidão.

3. Cultivar o Arrependimento e a Reorientação do Coração (Mc 1.3; Tg 4.8)

Advento é tempo de preparar o caminho. Para nós da OFSE, isso significa permitir que o Espírito realinhe nossos afetos, prioridades e hábitos. O arrependimento, na tradição reformada e na Devotio Moderna — que influenciou Tomás de Kempis — é retorno amoroso ao Deus que vem ao nosso encontro.
Prática: fazer um exame diário da alma, confessando pecados, reconciliando-se com Deus e com o próximo.

4. Praticar a Caridade Encarnação (Lc 2.7; Mt 25.40)

A manjedoura é o primeiro altar da humildade divina. Por isso, Francisco dizia que o Natal era “a festa das festas”, porque ali contemplamos a pobreza do Menino que veio enriquecer a todos (cf. 2Cor 8.9).
Prática: escolher uma ação concreta de misericórdia durante o Advento (visitar alguém, enviar alimentos a uma família, apoiar missionários, consolar um enfermo, interceder intensamente por alguém).

5. Guardar o Silêncio que Espera (Sl 62.1; Hc 2.20)

Os franciscanos sempre viram no silêncio um caminho para acolher o Verbo. A OFSE, como expressão protestante dessa espiritualidade, entende o silêncio não como vazio, mas como escuta ativa, espaço para que Cristo seja formado em nós.
Prática: adotar momentos diários de silêncio orante, sem pedidos longos, apenas disponibilidade: “Fala, Senhor, o teu servo ouve.”

Conclusão: Caminhar para Belém, Caminhar para Cristo

O Advento nos ensina a viver a fé com o coração apontado para Belém e para a Jerusalém celeste. Ele nos recorda que o Salvador veio, vem e virá.

Francisco de Assis nos convida a nos aproximarmos da manjedoura “com lágrimas de alegria”, contemplando o Deus que se aproxima. Como irmãos da OFSE, chamados à simplicidade evangélica e à intercessão contemplativa, somos enviados a viver um Advento que una doutrina bíblica, devoção profunda e prática concreta.

Que possamos, neste tempo santo, caminhar com Isaías, com os profetas, com Maria, com José, com o Poverello de Assis e com toda a Igreja do Senhor, proclamando:

“O povo que andava em trevas viu uma grande luz” (Is 9.2).

Que essa luz brilhe em nossos mosteiros, casas e corações até o Dia em que veremos o Rei em sua glória.



quinta-feira, 20 de novembro de 2025

VIDA DE ORAÇÃO!

 

  EVANGELHO DE JOÃO 16,24

24- Até agora, não pedistes nada em meu nome.

Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja

completa.

É esta confiança maravilhosa que Cristo Jesus nos dá ao nos assegurar

que pedindo em seu nome, teremos nossas petições atendidas desde que

estejam em conformidade com a Santa Vontade do Pai que tanto nos ama!

Temos que ter fé e descansar em Cristo Jesus, pois desde sempre seu amor 

por nós é infinito.

Amados irmãos e irmãs, lembremo-nos sempre que Deus nosso Pai nunca se

agrada da morte do ímpio sem salvação.

Saibamos pedir e pedir com amor por todos, pois cabe somente a Deus julgar

e temos nosso grande intercessor, Jesus Cristo!

Ainda no Evangelho de João 16-33, diz:

33- Eu vos disse estas coisa para que, em mim,

tenhais paz.

No mundo tereis aflições.

Mas tende coragem!

Eu venci o mundo.

Sim, com Cristo Jesus, venceremos nossas aflições e o encontraremos tendo uma

vida de oração.

Tendo uma vida de renúncias e entrega aos cuidados do Pai amado!

Somos de Deus!

Somos de Cristo Jesus!

Somos do Espírito Santo de Deus!

Paz e bem!

Frei Isaac do Sagrado Silêncio de Deus

OESI- ORDEM EVANGÉLICA DOS SERVOS INTERCESSORES

OFSE-ORDEM FRANCISCANA DOS SERVOS EVANGÉLICOS



VIDA DE ORAÇÃO!

 

EVANGELHO DE JOÃO 16,24

24- Até agora, não pedistes nada em meu nome.

Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja

completa.

É esta confiança maravilhosa que Cristo Jesus nos dá ao nos assegurar

que pedindo em seu nome, teremos nossas petições atendidas desde que

estejam em conformidade com a Santa Vontade do Pai que tanto nos ama!

Temos que ter fé e descansar em Cristo Jesus, pois desde sempre seu amor 

por nós é infinito.

Amados irmãos e irmãs, lembremo-nos sempre que Deus nosso Pai nunca se

agrada da morte do ímpio sem salvação.

Saibamos pedir e pedir com amor por todos, pois cabe somente a Deus julgar

e temos nosso grande intercessor, Jesus Cristo!

Ainda no Evangelho de João 16-33, diz:

33- Eu vos disse estas coisa para que, em mim,

tenhais paz.

No mundo tereis aflições.

Mas tende coragem!

Eu venci o mundo.

Sim, com Cristo Jesus, venceremos nossas aflições e o encontraremos tendo uma

vida de oração.

Tendo uma vida de renúncias e entrega aos cuidados do Pai amado!

Somos de Deus!

Somos de Cristo Jesus!

Somos do Espírito Santo de Deus!

Paz e bem!

Frei Isaac do Sagrado Silêncio de Deus

OESI- ORDEM EVANGÉLICA DOS SERVOS INTERCESSORES

OFSE-ORDEM FRANCISCANA DOS SERVOS EVANGÉLICOS

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

A Espiritualidade da Franciscana Isabel da Hungria

A Espiritualidade da Franciscana Isabel da Hungria
falecida em 17 de novembro de 1231
Jovem viúva de 20 anos, Isabel foi expulsa de seu castelo com os quatro filhos pequenos e só conseguiu alojamento num depósito, ao lado dos porcos. 
Nessa situação,  mandou cantar um Te Deum, para agradecer a 
Nosso Senhor a graça de sofrer em união com Ele.
Isabel nasceu em 1207, na Hungria. Aos 4 anos, entrava na capela do castelo, abria o grande livro dos Salmos, e ainda sem saber ler, olhava-o longamente e passava muitas horas recolhida em oração. Ao brincar com outras meninas, procurava algum jeito de encaminhá-las para a capela. Quando esta estava fechada, beijava-lhe a porta, a fechadura, as paredes, pois, dizia ela, "Deus lá dentro repousa".
Antes de completar dez anos, perdeu a mãe, a Rainha Gertrudes. Na mesma época, faleceu também seu protetor, o Duque Herman, o qual era pai de seu futuro esposo e a tratava como filha, amando-a justamente por sua piedade inocente e graciosa.
Aos 13 anos de idade, realizou-se seu casamento com o poderoso e não menos piedoso Duque Luiz da Turíngia, ao qual havia sido prometida desde tenra infância.
Isabel fazia bom uso da imensa riqueza de seu esposo, distribuindo aos pobres generosas esmolas. Isto causava profunda irritação a muitas pessoas da corte, sobretudo aos seus dois cunhados, Henrique e Conrado. Acusando-a de estar "dilapidando o patrimônio familiar", estes não perdiam oportunidade de tentar fazer-lhe mal.
E ela, por sua vez, não se contentava em simplesmente dar moedas ou alimentos. Seu amor a Deus a impelia a ações muito mais generosas.
No ano de 1226, estando seu esposo na Itália com o Imperador Frederico II, uma terrível fome assolou toda a Alemanha, sobretudo a Turíngia. Pelas matas e campos, andavam multidões de infelizes à procura de raízes e frutas para se alimentarem. Bois, cavalos e outros animais que morriam eram logo devorados pelos homens famintos. Em breve a morte começou sua ceifa. Pelos campos e estradas, amontoavam- se os cadáveres.
Nessa terrível situação, a única ocupação de Isabel, dia e noite, era socorrer os infelizes. Transformou seu castelo na "morada da caridade sem limites", como escreve um de seus biógrafos. Distribuiu aos indigentes todo o dinheiro do tesouro Ducal. Vencendo a oposição de alguns administradores egoístas, mandou abrir os celeiros do castelo, e ela mesma dirigiu a distribuição de tudo, sem nada reservar para seus próprios familiares. Com equilíbrio e bom senso, fazia dar a cada necessitado uma ração diária. Aqueles que, por fraqueza ou doença, não conseguiam subir até o castelo, eram objeto de uma solicitude especial de parte da Santa: ela descia para ir pessoalmente socorrê-los no sopé da montanha.
Fundou três hospitais para auxiliar os doentes: um para mulheres pobres, outro só para crianças, e um terceiro para todos em geral.
Onde havia um agonizante, lá estava ela, a fim de ajudá-lo a morrer bem.
Passado esse terrível período de desolação, ela reuniu os homens e mulheres em condições de trabalhar, providenciou sapatos, roupas e ferramentas para os que não tinham, e ordenou que fossem para o campo cultivar. Em breve voltaram os bons tempos de fartura e ela pôde ver com alegria o trigo encher os celeiros e o sorriso voltar aos lábios de toda aquela gente.
Em Santa Isabel, reluz muito a solicitude para com os necessitados. Mas ela era exímia na prática de todas as virtudes. Poucas pessoas levaram tão longe quanto ela o desapego aos bens desta terra e a conformação amorosa com a vontade de Deus. Esposa exemplar, unida em matrimônio com um marido modelar, a ele dedicava todo o afeto natural e legítimo de seu nobre coração. E era retribuída na mesma proporção. Muito mais do que isso, porém, unia-os o amor a Deus, o desejo de perfeição.
Nesta perspectiva, compreende-se com facilidade a dor da separação, quando o Duque da Turíngia partiu para a Cruzada, em 1227. Sofrimento incomparavelmente maior quando, pouco tempo depois, recebeu a notícia de que ele havia falecido antes mesmo de chegar à Terra Santa.
Esse era, porém, apenas o início de uma cascata de sofrimentos. Agora ela não tinha mais a proteção de seu virtuoso esposo. Disso se aproveitaram seus dois cunhados para deixarem expandir o ódio que lhe tinham. No mesmo dia a expulsaram do castelo, sob um frio muito rigoroso, com os quatro filhos pequenos, sem lhe permitir levar qualquer dinheiro, agasalho ou alimento. E num requinte de crueldade, proibiram, sob severas penalidades, que qualquer habitante da cidade lhe desse abrigo.
Após bater sem resultado em inúmeras portas, um taberneiro - condoído, porém, temeroso de represálias - acolheu-a, mas oferecendo-lhe como albergue uma espécie de cavalariça que servia também de chiqueiro! Deste modo, a Duquesa e filha de Rei viu-se reduzida a passar a noite, com os filhos, na companhia dos porcos, agasalhando- se nos utensílios de montaria para não morrer de frio.
No dia seguinte, pessoas caridosas e de caráter levaram-lhe alimentos. Uma noite e um dia passou ela nesta "pousada dos porcos", onde foi altamente recompensada por uma aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Um velho sacerdote das redondezas ofereceu-lhe alojamento, não dispondo senão de um miserável casebre. Certo dia, a santa Duquesa visitou o convento dos Frades Menores para pedir... Auxílio? Não. Pediu-lhes para cantarem um Te Deum, na intenção de agradecer ao Senhor a graça de participar nos seus sofrimentos!
Por ordem de seus cunhados, alguns esbirros arrancaram-na daquele miserável abrigo, para mantê-la aprisionada em péssimas condições nas dependências de um velho castelo.
Após alguns meses de indescritíveis sofrimentos, sua tia Matilde, abadessa de Kitzing, tomou conhecimento desses fatos e enviou mensageiros com duas viaturas para levá-la com os filhos para o seu convento.
Passado pouco tempo, seu tio Egbert, Bispo-Príncipe de Bamberg, lhe comunicou uma proposta de casamento com o Imperador Frederico II, o mais poderoso soberano da época. Mas Isabel tinha ambições muito maiores! Seu coração estava todo voltado para o Infinito, nada nesta terra podia satisfazê-lo.
Passados poucos dias, regressaram à Turíngia os cavaleiros que tinham acompanhado o Duque Luiz à Cruzada. Apresentando-se a Conrado e Henrique, censuraram-lhes corajosamente a dureza e crueldade com que haviam tratado a viúva e os filhos de seu próprio irmão. Os dois culpados não resistiram à franqueza altiva dos seus vassalos. E, chorando, pediram perdão a Isabel, restituindo-lhe todos os bens de que a haviam despojado.
Isabel mandou construir ao lado do convento dos Frades Menores uma casa modestíssima - apelidada de "palácio de abjeção" pelos parentes de seu falecido marido - na qual se instalou, com os filhos e os serviçais que lhe permaneceram fiéis.

Na Sexta-Feira Santa de 1229, fez votos na Ordem de São Francisco, e tomou o hábito das Clarissas. Tendo edificado para si apenas uma pobre morada, empregou seus recursos em construir igrejas para Deus e hospitais para os doentes pobres, dos quais ela mesma passou a cuidar dia e noite, com mais carinho e solicitude do que antes. Deus concedeu-lhe a graça de servir aos desvalidos, não somente o pão para o corpo, mas também o esplendor da sua própria luz, através dos milagres que realizava por seu intermédio.
Certo dia, encontrou um menino estropiado e disforme, estendido na soleira da porta de um hospital. Além de surdo-mudo, ele não conseguia andar senão de quatro, como um animal. A mãe deixara-o ali, na esperança de que a boa Duquesa dele se apiedasse e o acolhesse. Logo que o viu, Isabel abaixou-se para acariciar-lhe os cabelos sujos e revoltos. E perguntou-lhe:
- Onde estão teus pais? Quem te deixou aqui? Não recebendo resposta, repetiu as perguntas. Mas o pobre ente apenas a fitava com olhos arregalados. Desconfiando de alguma possessão diabólica, ela disse em alta e clara voz:
- Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu te ordeno, a ti ou a quem em ti estiver, que me respondas de onde vens!
No mesmo instante, o menino ergueu- se e - ele que não havia aprendido a falar! - explicou-lhe com desembaraço sua triste vida. Depois, caindo de joelhos, pôs-se a chorar de alegria e louvar a Deus todo-poderoso.
- Eu não conhecia Deus, nem sabia de sua existência. Todo o meu ser era morto. Não sabia nada. Bendita sejas tu, senhora, que obtiveste de Deus a graça de não morrer como até o presente vivi. A estas palavras, Isabel pôs-se também de joelhos para agradecer ao Senhor, junto com o menino, e, por fim, recomendou-lhe:
- Agora volta para teus pais e não digas nada do que te aconteceu. Diz apenas que Deus te socorreu. Guarda-te sempre do pecado para não acontecer de voltares a ser o que eras.
A notícia desse milagre correu como um rastilho de pólvora, espalhando por toda a Turíngia a fama de santidade de Isabel. Em consequência, aumentou o número dos que a ela recorriam. E Deus dignava-Se de, por sua intercessão, atender a todos.
No dia 16 de novembro de 1231, Isabel adoeceu. Após receber a unção dos enfermos e o viático, Nosso Senhor lhe apareceu e revelou-lhe que dentro de três dias viria levá-la para o Céu. Depois desta visão, seu rosto ficou tão resplandecente que era quase impossível fixar-lhe os olhos.
Ao primeiro canto do galo do dia 19, ela disse: "Eis a hora em que Jesus nasceu de Maria Virgem. Que galo imponente e lindo seria aquele, o primeiro a cantar naquela noite maravilhosa! Ó Jesus, que resgatastes o mundo, que resgatastes a mim!"
Em seguida, disse baixinho: "Silêncio... Silêncio!..." E deixou pender a cabeça, como se dormisse. Sua alma acabava de entrar na glória celeste.


Texto baseado em: QUEIROZ, Antonio. Revista Arautos do Evangelho, Nov/2004, n. 35, p. 22 à 25)


O Presépio de Greccio – Releitura Protestante da narrativa de Tomás de Celano



O Presépio de Greccio – Releitura Protestante da narrativa de Tomás de Celano

Era tempo de Natal. Francisco, servo do Senhor, desejava celebrar o nascimento do Salvador de modo profundamente espiritual.
Dizia ele aos irmãos:

“Quero trazer à memória o nascimento do Senhor Jesus em Belém; quero contemplar, com os olhos da fé, a humildade daquele Menino que se fez carne por nós; quero recordar o modo como foi deitado numa manjedoura, entre o boi e o jumento, para que jamais esqueçamos o amor de Deus que se fez pobre para nos enriquecer com a sua graça.”

Com o coração ardente, pediu que num bosque de Greccio fosse preparado um lugar simples, com feno e uma manjedoura, e que se colocassem ali os animais do campo. Não se tratava de um espetáculo, mas de uma oração viva, um Evangelho em imagem, para reacender no povo o amor por Cristo encarnado.

Chegada a noite de Natal, irmãos e irmãs das vilas vizinhas subiram ao monte com tochas e cânticos. A luz das chamas iluminava o escuro da montanha como se o próprio céu descesse à terra. Todos se reuniram ao redor da manjedoura, e Francisco, cheio de alegria, contemplava aquele sinal: o Verbo feito carne, o Senhor da glória deitado no feno.

Ali, na simplicidade daquele lugar, a Palavra foi lida e proclamada. Francisco falou do Rei que veio pobre, do Criador que se fez criatura, do Senhor que desceu para servir. Sua voz tremia de emoção, e muitos choravam, pois compreendiam que o Salvador nasceu não em palácios, mas entre os humildes, para redimir os pecadores e reconciliar o mundo com Deus.

Entre os presentes, um dos irmãos teve uma visão interior: parecia-lhe ver o Menino Jesus deitado na manjedoura, e Francisco o tomava com ternura, como quem desperta alguém do sono. E compreendeu-se que o sentido dessa visão era espiritual: por meio do testemunho de Francisco, o amor por Cristo adormecido em muitos corações foi despertado novamente.

Desde então, Greccio tornou-se símbolo de renovação espiritual, lembrando a todos que o verdadeiro Natal acontece quando Cristo nasce no coração de quem crê.
E ali, onde antes havia apenas feno e silêncio, ergueu-se o louvor do povo que compreendeu o mistério:

“O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (João 1.14).

Reflexão devocional

O presépio de Greccio nos ensina que o Natal não é um enfeite, mas uma confissão: Deus veio habitar conosco.
A manjedoura é um altar da humildade divina, onde o Senhor da eternidade se curva para servir.
Assim, quando contemplamos o presépio, somos convidados não a adorar as formas, mas a adorar o Cristo vivo, o Emanuel, Deus conosco, que nasceu, morreu e ressuscitou por nós.

domingo, 2 de novembro de 2025

Comentário Devocional do Cântico das Criaturas - nos 800 anos.


Comentário Devocional do Cântico das Criaturas - nos 800 anos.

A criação que se torna oração

Por Ir. Rev. Edson — para a OFSE (Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos)

O Cântico das Criaturas, composto por São Francisco de Assis em 1225, é mais do que poesia: é uma profissão de fé cósmica. Nascido do sofrimento e da contemplação, ele traduz o Evangelho em linguagem da criação. A OFSE, ao lê-lo em chave protestante, reconhece nele uma confissão que une o amor bíblico por Deus à gratidão pela obra de suas mãos.

“Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória, a honra e toda bênção.”

Francisco inicia o Cântico com uma doxologia. Como nos salmos, o louvor não é opção, mas obrigação santa (Sl 150). A teologia reformada também começa aqui: Deus é o centro de toda glória. Como declara João Calvino (Institutas, I.1.2), “a verdadeira sabedoria consiste em conhecer a Deus e a si mesmo”. A OFSE reconhece que toda vocação franciscano-evangélica começa na contemplação do Altíssimo e termina no serviço humilde.

“Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol...”

O Sol é símbolo da presença benevolente do Criador. Em Gênesis 1, o Sol e a Lua são servos de Deus, não divindades. Francisco, iluminado pela graça, os vê como irmãos. Lutero também afirmava que “todas as criaturas são máscaras de Deus” (WA 10/3, 392), isto é, instrumentos pelos quais Ele se revela. Assim, o servo da OFSE aprende a ver na natureza uma liturgia: cada raio de luz é um versículo do Evangelho natural que proclama a glória do Senhor (Sl 19.1).

“Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Lua e pelas estrelas...”

Francisco não adora os astros, mas adora o Criador que lhes deu ordem e esplendor. O monge Basílio Magno, em suas Homilias sobre a Criação (Hom. II), dizia: “Quando contemplas o céu, não te detenhas na beleza das estrelas, mas sobe em pensamento até o Criador.” A espiritualidade da OFSE retoma essa escada da contemplação: a beleza é um degrau, não o destino.

“Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão Vento, e pelo ar, e pelas nuvens, e pelo sereno e todo o tempo...”

Aqui se revela uma teologia da providência. Francisco louva o Deus que governa o clima, o invisível e o imprevisível. Em linguagem protestante, é o mesmo Deus que “faz nascer o seu sol sobre maus e bons” (Mt 5.45). Louvar o vento é confiar na soberania divina em meio às mudanças — uma lição para cada servo evangélico que vive o ministério em tempos incertos.

“Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Água... pelo irmão Fogo...”

Francisco contempla a utilidade das criaturas. A água purifica e o fogo aquece — sinais sacramentais da graça. João Wesley, em seu Sermão sobre os Meios de Graça (Sermão 16), ensina que “Deus se comunica a nós por instrumentos materiais, simples e visíveis.” A natureza, portanto, é um sacramental do amor de Deus, e a OFSE vê nela uma escola de humildade e dependência.

“Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã, a Mãe Terra...”

A terra é fecunda e paciente, como o próprio Cristo que, no silêncio do túmulo, germinou a nova criação. O servo franciscano evangélico aprende a amar o chão que pisa e a cuidar dele como mordomo do Reino (Gn 2.15). Lutero escreveu que “o trabalho do camponês é tão santo quanto o do pregador, pois ambos servem à criação de Deus” (WA 15, 664).

“Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor...”

Aqui o cântico se eleva do cosmos ao coração humano. O perdão é o milagre moral da criação redimida. É neste ponto que Francisco encontra o Cristo crucificado. A cruz é o verdadeiro sol da alma, e a OFSE, ao contemplar esse versículo, recorda que o maior louvor é suportar as dores com paz e intercessão.

“Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã, a Morte corporal...”

Francisco encerra com um canto de esperança. Para o mundo, a morte é silêncio; para o servo de Cristo, é o último versículo de um salmo que termina em glória. Paulo declarou: “Morrer é lucro” (Fp 1.21), e Wesley reafirmou: “O crente morre cantando.” A espiritualidade franciscano-evangélica acolhe essa verdade: quem vive em louvor morre em adoração.

Assim, o Cântico das Criaturas é, para a Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos (OFSE), uma lectio divina da criação — um salmo maior, onde tudo canta o Evangelho. Cantar este cântico é confessar que Cristo é Senhor do visível e do invisível, e que “nele tudo subsiste” (Cl 1.17).

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

o Cântico das Criaturas e a Reforma Protestante


O Cântico da Criaturas e a Reforma

A espiritualidade franciscana protestante do louvor

Por Ir. Rev. Edson — para a OFSE (Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos)

Em 1225, São Francisco de Assis entoou o Cântico das Criaturas, também chamado de Cântico do Irmão Sol, oferecendo à Igreja um dos mais belos testemunhos da integração entre fé e criação. O texto, nascido da pobreza e da contemplação, tornou-se uma das expressões mais puras da teologia do louvor. O que muitos esquecem é que esse mesmo espírito atravessou os séculos e reencontrou sua voz na Reforma Protestante, quando o louvor foi novamente reconhecido como resposta livre e viva à graça de Deus.

A OFSE, como expressão contemporânea do franciscanismo protestante, lê o Cântico das Criaturas à luz da Escritura e da Reforma, reconhecendo que, tanto em Francisco quanto em Lutero, há uma mesma paixão pelo Deus encarnado e pela bondade de sua criação. Ambos reagiram à espiritualidade fria e distante do seu tempo. Francisco o fez saindo dos palácios para cantar com os pobres; Lutero, saindo dos claustros para cantar com o povo de Deus.

Martinho Lutero afirmou: “A música é dom de Deus, não invenção humana; ela expulsa o demônio e torna as pessoas alegres” (WA 50, 370). O Cântico das Criaturas reflete o mesmo princípio: a criação é uma sinfonia que louva o Criador. Assim como Lutero traduziu os salmos para que o povo pudesse cantar a fé, Francisco traduziu a criação em louvor para que toda a natureza se tornasse oração.

A teologia reformada da criação, expressa em João Calvino (Institutas, I.14.20), reforça essa mesma visão: “Toda a criação é um espelho no qual podemos contemplar a glória de Deus”. Francisco, sete séculos antes, já havia contemplado essa glória ao chamar o sol, o vento e a água de irmãos e irmãs. Na espiritualidade da OFSE, esses ecos se encontram — a humildade franciscana e a reverência reformada formam uma única melodia de adoração.

Mas o louvor franciscano-protestante não é apenas estético; ele é ético e missionário. Como recorda João Wesley, “a santidade não é outra coisa senão amor em ação” (Sermão 92, Sobre a Santidade Interior e Exterior). O cântico torna-se missão quando se transforma em cuidado, quando o servo evangélico vê no irmão, na criação e nos pobres o rosto de Cristo sofredor. Assim, o louvor se faz serviço.

A Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos (OFSE) vive, portanto, essa herança de maneira encarnada: cantar é evangelizar, louvar é servir, contemplar é cuidar. No cântico e na cruz, o servo franciscano reconhece que “dele, por ele e para ele são todas as coisas” (Rm 11.36).

O Cântico das Criaturas, relido à luz da Reforma, é uma ponte espiritual entre Assis e Wittenberg. Em ambos, o Evangelho é redescoberto como liberdade e gratidão. Na OFSE, celebramos esse cântico não como relíquia medieval, mas como oração viva do coração protestante que crê, trabalha e louva — porque, em Cristo, “toda a criação geme e aguarda” (Rm 8.22), mas também canta a esperança de sua redenção.



terça-feira, 28 de outubro de 2025

O Louvor no Sofrimento - O Cântico das Criaturas como oração de esperança

O Louvor no Sofrimento - O Cântico das Criaturas como oração de esperança.

Por Ir. Rev. Edson — para a OFSE (Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos)

Francisco de Assis compôs o Cântico das Criaturas no ocaso de sua vida terrena, já marcado pela dor, quase cego e carregando em seu corpo os estigmas do Cristo Crucificado. O louvor que nasce nesse contexto não é fruto de um romantismo ingênuo, mas de uma fé pascal que transforma a dor em adoração. Em Francisco, o sofrimento não silencia a alma: torna-se cântico, torna-se evangelho vivido.

É significativo que o Cântico tenha sido escrito quando ele se encontrava enfermo em São Damião (1225), “cheio de dores nos olhos e de fraqueza no corpo”, como relata Tomás de Celano (Vita Secunda, cap. 165). E mesmo assim, “Francisco começou a louvar o Senhor pelas suas criaturas, dizendo: ‘Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas’”. O louvor brota, portanto, do meio da cruz — e é por isso que ele tem poder redentor.

A OFSE, seguindo o carisma do Pobrezinho de Assis, reconhece que o louvor verdadeiro é aquele que nasce da comunhão com o Cristo crucificado. O apóstolo Paulo escreveu: “para que eu conheça Cristo, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos” (Fp 3.10). Esse é também o caminho franciscano-evangélico: louvar não apenas quando há luz, mas quando a sombra se faz mais densa.

Martinho Lutero, em sua Teologia da Cruz (WA 5, 163), afirmou que “o verdadeiro teólogo é aquele que conhece Deus através da cruz e do sofrimento”. Francisco conheceu o Criador nas feridas do mundo. E por isso podia chamar o fogo, o vento e até a “irmã morte corporal” de irmãs suas — porque todas as coisas foram reconciliadas em Cristo (Cl 1.20).

O louvor franciscano é, portanto, profundamente evangélico e escatológico. Ele proclama, como João Wesley pregou em seu sermão Sobre a Perfeição Cristã (Sermão 40), que “a alegria perfeita não está na ausência da dor, mas na presença constante do amor de Deus”. A OFSE herda essa mística da esperança: cada irmão e irmã é chamado a cantar a fidelidade do Senhor mesmo entre as feridas da história.

Quando o servo franciscano evangélico ora e canta, ele une sua voz à do próprio Cristo, que na cruz entoou o Salmo 22. É o mesmo louvor que transforma a noite em aurora, a perda em promessa. Louvar, neste caminho, é resistir à desesperança, é confessar que a graça é mais forte que o sofrimento.

Como escreveu São Francisco: “Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor e suportam enfermidade e tribulação. Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz, pois por ti, Altíssimo, serão coroados.” (Cântico das Criaturas).

Que a OFSE continue a testemunhar, no meio do mundo ferido, este cântico que vence a dor com amor — para a glória do Altíssimo, que faz novas todas as coisas.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Francisco e a Teologia da Criação.800 anos do Cântico das Criaturas


Francisco e a Teologia da Criação.
800 anos do Cântico das Criaturas. 

Ao contemplar os céus, o sol, a lua, o vento, a água, o fogo e a terra, Francisco de Assis exprimiu uma fé que se torna missão e cântico: a criação inteira é dom de Deus, reflexo do seu amor e chamada à adoração. Neste texto para a formação da OFSE, examinamos como essa visão se articula com a teologia protestante-reformada, abrindo caminho para uma espiritualidade franciscana evangélica.

1. A criação como dom e revelação

Francisco inicia o seu célebre cântico com estas palavras:

> “Altíssimo, onipotente, bom Senhor, a ti pertencem o louvor, a glória e toda bênção … Louvado sejais, meu Senhor, com todas as tuas criaturas…” (versão do *Cântico das Criaturas). 
Aqui se revela um primeiro princípio: a criação é manifestação de Deus — não um fim em si mesma — e por isso «com todas as tuas criaturas» se dirige ao Senhor. Francisco reconhece que todas as criaturas são irmãs e irmãos (“irmão sol”, “irmã água” etc.), não como divindades, mas como portadoras de significado sacramental:
“Francisco nos recorda que a criação revela a presença de Deus quando é engajada de forma apropriada” 
No contexto reformado, essa ideia ecoa a afirmação de João Calvino de que “a obra da criação e a constante governação do universo” manifesta o conhecimento de Deus (Institutas I.5) e que tudo foi criado “desde o nada” com perfeição (Institutas I.15) . Assim, a criação torna-se um palco teológico: revela o Criador e exige do criatura-ser humano uma postura de gratidão, humildade e culto.


2. Humanidade, criação e cruz

Francisco não trata o ser humano como alheio à criação, mas como parte dela: “irmão” ao sol, “irmã” à terra. Ele rompe com o dualismo sagrado-profano, sendo coerente com uma teologia da encarnação e da cruz: a redenção não exclui o mundo criado, mas o abraça em Cristo (cf. Colossenses 1.20). Nesse sentido, a criação não é mero cenário, mas companheira da salvação.
No horizonte reformado, Calvino afirma que o ser humano foi criado à imagem de Deus (Gen 1.26-27) e que essa imagem implica sabedoria, justiça e santidade, “mas em forma finita” para o homem.  A teologia da criação, para a OFSE, deve lembrar que a redenção integral alcança não apenas a alma humana mas todo o cosmos — em aliança com o Criador e com as criaturas.

3. A criação como liturgia e missão

O cântico de Francisco, composto por volta de 1224-25 (próximo aos seus últimos anos), enquanto estava enfermo e frágil, torna-se oração e missão: louvar o Senhor “com” todas as criaturas.  Para a OFSE, esse gesto nos convida a viver uma liturgia universal: a natureza, a fraternidade, o serviço, a pobreza libertam-nos da tirania da exploração da criação e nos inserem no cuidado, no louvor e na intercessão.
Calvino, nesse sentido, alerta que a doutrina da criação serve “à utilização” prática: “o fim da doutrina é levar ao amor e ao temor de Deus”.  A criação, portanto, não é objeto passivo, mas campo de vocação: o cristão franciscano-evangélico ora, serve e testemunha entre as criaturas, reconhecendo-as como irmãs e irmãos — e ao mesmo tempo adorando o Criador.

4. Aplicação formativa para a OFSE

Como irmãos e irmãs da OFSE, sob o manto da OESI, somos chamados a viver esta teologia da criação em três dimensões práticas:

Contemplação agradecida: reconhecer a criação como obra de Deus e convocar-a a louvar, como Francisco o fez. Em momentos de silêncio orante, deixar que o “irmão sol” e a “irmã lua” falem ao nosso espírito.

Serviço humilde: entrar na criação como servidor, não como senhor. Em atitudes de simplicidade, pobreza evangélica e carinho ecológico, manifestamos a reconciliação trazida pela cruz.

Missão intercessora: a criação geme (Rm 8.22) e clama por redenção. Como ordem de servos intercessores, unimo-nos à criação em súplica ao Criador, para que a reconciliação em Cristo se manifeste também no âmbito ecológico e comunitário.


Conclusão

A teologia da criação de Francisco e o marco reformado de Calvino não são opostos, mas se mutuamente enriquecem. Francisco nos ensina a louvar com todas as criaturas, e Calvino a entender que os céus e a terra proclamam a glória de Deus (Sl 19.1; Instituto I.5). Que a OFSE viva esse chamado com fé, humildade e serviço — para que o louvor que começou há 800 anos no “Cântico das Criaturas” se prolongue hoje em oração, missão e cuidado da criação.

> “Louvado seja o Senhor, que nos chama a viver reconciliados com a criação, com o próximo e com o Evangelho da cruz.”


Amém. 

Ao contemplar os céus, o sol, a lua, o vento, a água, o fogo e a terra, Francisco de Assis exprimiu uma fé que se torna missão e cântico: a criação inteira é dom de Deus, reflexo do seu amor e chamada à adoração. Neste texto para a formação da OFSE, examinamos como essa visão se articula com a teologia protestante-reformada, abrindo caminho para uma espiritualidade franciscana evangélica.

1. A criação como dom e revelação

Francisco inicia o seu célebre cântico com estas palavras:

> “Altíssimo, onipotente, bom Senhor, a ti pertencem o louvor, a glória e toda bênção … Louvado sejais, meu Senhor, com todas as tuas criaturas…” (versão do *Cântico das Criaturas). 
Aqui se revela um primeiro princípio: a criação é manifestação de Deus — não um fim em si mesma — e por isso «com todas as tuas criaturas» se dirige ao Senhor. Francisco reconhece que todas as criaturas são irmãs e irmãos (“irmão sol”, “irmã água” etc.), não como divindades, mas como portadoras de significado sacramental:
“Francisco nos recorda que a criação revela a presença de Deus quando é engajada de forma apropriada” 
No contexto reformado, essa ideia ecoa a afirmação de João Calvino de que “a obra da criação e a constante governação do universo” manifesta o conhecimento de Deus (Institutas I.5) e que tudo foi criado “desde o nada” com perfeição (Institutas I.15) . Assim, a criação torna-se um palco teológico: revela o Criador e exige do criatura-ser humano uma postura de gratidão, humildade e culto.


2. Humanidade, criação e cruz

Francisco não trata o ser humano como alheio à criação, mas como parte dela: “irmão” ao sol, “irmã” à terra. Ele rompe com o dualismo sagrado-profano, sendo coerente com uma teologia da encarnação e da cruz: a redenção não exclui o mundo criado, mas o abraça em Cristo (cf. Colossenses 1.20). Nesse sentido, a criação não é mero cenário, mas companheira da salvação.
No horizonte reformado, Calvino afirma que o ser humano foi criado à imagem de Deus (Gen 1.26-27) e que essa imagem implica sabedoria, justiça e santidade, “mas em forma finita” para o homem. A teologia da criação, para a OFSE, deve lembrar que a redenção integral alcança não apenas a alma humana mas todo o cosmos — em aliança com o Criador e com as criaturas.

3. A criação como liturgia e missão

O cântico de Francisco, composto por volta de 1224-25 (próximo aos seus últimos anos), enquanto estava enfermo e frágil, torna-se oração e missão: louvar o Senhor “com” todas as criaturas. Para a OFSE, esse gesto nos convida a viver uma liturgia universal: a natureza, a fraternidade, o serviço, a pobreza libertam-nos da tirania da exploração da criação e nos inserem no cuidado, no louvor e na intercessão.
Calvino, nesse sentido, alerta que a doutrina da criação serve “à utilização” prática: “o fim da doutrina é levar ao amor e ao temor de Deus”. A criação, portanto, não é objeto passivo, mas campo de vocação: o cristão franciscano-evangélico ora, serve e testemunha entre as criaturas, reconhecendo-as como irmãs e irmãos — e ao mesmo tempo adorando o Criador.

4. Aplicação formativa para a OFSE

Como irmãos e irmãs da OFSE, sob o manto da OESI, somos chamados a viver esta teologia da criação em três dimensões práticas:

Contemplação agradecida: reconhecer a criação como obra de Deus e convocar-a a louvar, como Francisco o fez. Em momentos de silêncio orante, deixar que o “irmão sol” e a “irmã lua” falem ao nosso espírito.

Serviço humilde: entrar na criação como servidor, não como senhor. Em atitudes de simplicidade, pobreza evangélica e carinho ecológico, manifestamos a reconciliação trazida pela cruz.

Missão intercessora: a criação geme (Rm 8.22) e clama por redenção. Como ordem de servos intercessores, unimo-nos à criação em súplica ao Criador, para que a reconciliação em Cristo se manifeste também no âmbito ecológico e comunitário.


Conclusão

A teologia da criação de Francisco e o marco reformado de Calvino não são opostos, mas se mutuamente enriquecem. Francisco nos ensina a louvar com todas as criaturas, e Calvino a entender que os céus e a terra proclamam a glória de Deus (Sl 19.1; Instituto I.5). Que a OFSE viva esse chamado com fé, humildade e serviço — para que o louvor que começou há 800 anos no “Cântico das Criaturas” se prolongue hoje em oração, missão e cuidado da criação.

> “Louvado seja o Senhor, que nos chama a viver reconciliados com a criação, com o próximo e com o Evangelho da cruz.”


Amém.

domingo, 26 de outubro de 2025

800 anos do Cântico das Criaturas — Uma celebração franciscana protestante


800 Anos do Cântico das Criaturas

Uma Celebração Franciscana Protestante

Por Irmão Rev. Edson — OESI | Movimento Franciscano Protestante

OFSE Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos.

“Louvai ao Senhor desde os céus; louvai-o nas alturas!
Louvai-o, sol e lua; louvai-o, todas as estrelas luzentes.”
(Salmo 148.1,3)

Neste ano de 2025, a Igreja de Cristo celebra os 800 anos do Cântico das Criaturas (Cântico do Irmão Sol), composto por Francisco de Assis em torno de 1225, no silêncio orante do mosteiro de São Damião. Doente, quase cego e exaurido, o santo transformou sua dor em louvor — compondo uma das mais belas orações poéticas da história cristã.

Francisco não canta a si mesmo, mas ao Senhor Criador, a quem chama de “Altíssimo, onipotente e bom Senhor”. Em cada elemento da natureza ele reconhece a presença do amor divino: o sol que aquece, a lua que ilumina, a água que purifica, a terra que alimenta. Tudo é dom; nada é posse. Em seu olhar, a criação inteira se torna um ícone do Evangelho, revelando a ternura e a glória do Criador.

O Cântico das Criaturas nasce da mesma fé dos Salmos 8, 19 e 148, onde toda a criação é chamada à adoração. Francisco retoma essa harmonia original e a transforma em vida orante, recordando-nos que adorar é também contemplar. O mundo é o grande templo de Deus, e o louvor pode brotar tanto do altar quanto do jardim, do canto das aves, do trabalho humano e do silêncio da alma.

Para nós, do movimento franciscano protestante e da OESI, celebrar este jubileu é proclamar que o Evangelho reconcilia não apenas o ser humano com Deus, mas todas as coisas (Cl 1.20). A criação, ferida e gemendo, é chamada novamente à comunhão com o Criador. É o cântico da redenção que ecoa através dos séculos.

O Cântico das Criaturas permanece um chamado à simplicidade, à gratidão e à vida reconciliada. É uma confissão de fé em forma de poesia — um Evangelho cantado que une espiritualidade, ecologia e esperança.

“Louvado seja o Senhor, que nos chama a viver reconciliados com a criação, com o próximo e com o Evangelho da cruz.”


🌿 O Cântico das Criaturas

(Versão Protestante Contemporânea — inspirada em Francisco de Assis)

Louvado sejas, Senhor meu Deus,
por todas as tuas criaturas,
pelo sol que clareia o dia
e anuncia a tua bondade.

Louvado sejas, Senhor,
pela lua e pelas estrelas,
que brilham serenas nas noites,
lembrando tua fidelidade.

Louvado sejas, Senhor,
pelo vento e pelas nuvens,
pelo ar que sustenta a vida
e pelo sopro do teu Espírito.

Louvado sejas, Senhor,
pela irmã água, tão pura e humilde,
que nos lava, refresca e sustenta
como o batismo renova o coração.

Louvado sejas, Senhor,
pelo irmão fogo,
que ilumina a noite e aquece a casa,
símbolo da tua presença ardente.

Louvado sejas, Senhor,
pela irmã terra, nossa mãe,
que nos alimenta com flores e frutos,
e nos ensina a humildade do pó.

Louvado sejas, Senhor,
por todos os que perdoam por amor,
que servem e sofrem em paz,
porque neles habita o teu Reino.

Louvado sejas, Senhor,
pela irmã morte corporal,
da qual ninguém pode fugir;
mas felizes são os que em Cristo morrem,
pois ressuscitarão para a tua glória.

A ti, ó Altíssimo,
sejam o louvor, a glória e a honra.
Tudo é teu, Senhor da vida;
e somente a ti pertence o cântico eterno.
Amém.


🕯️ Uma Palavra Final

O Cântico das Criaturas é, há oito séculos, um testemunho de que o verdadeiro louvor nasce do coração que confia. Francisco, cego e enfermo, enxergou o mundo com os olhos da fé — e descobriu que toda a criação é uma pregação silenciosa do Evangelho.

Que o Senhor da Vida renove em nós essa visão pascal:
que saibamos ver Cristo em tudo,
amar com gratidão,
servir com humildade,
e cantar, com toda a criação,
“Louvado seja o Senhor, meu Deus!”



quarta-feira, 15 de outubro de 2025

São Francisco de Assis: O Pedagogo.

São Francisco de Assis, o Pedagogo: Uma Leitura Protestante da Sabedoria Franciscana

> “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração.” (Mateus 11:29, NAA)

Entre os muitos títulos dados a São Francisco de Assis — o Pobrezinho de Cristo, o Amigo das Criaturas, o Santo de Assis — poucos percebem o quanto ele foi, acima de tudo, um pedagogo espiritual. Não no sentido formal da educação, mas como mestre da alma e formador de consciências. Sua vida tornou-se uma verdadeira escola do Evangelho, onde cada gesto, palavra e silêncio ensinavam algo sobre o discipulado de Cristo.


1. A pedagogia da conversão

As Fontes Franciscanas, particularmente o Testamento, revelam que Francisco não começou sua vida como santo, mas como alguém profundamente educado pelo Espírito Santo por meio da dor e da revelação. Ele confessa:

> “O Senhor deu a mim, Frei Francisco, a graça de começar a fazer penitência; pois, como eu vivia em pecados, parecia-me muito amargo ver os leprosos; e o Senhor mesmo me conduziu entre eles e usei de misericórdia com eles. E quando me afastei deles, o que me parecia amargo se converteu em doçura de alma e de corpo.”
(Testamento, 1-3; Fontes Franciscanas [FF] 110)


Nesse testemunho, vemos o método pedagógico de Deus na vida de Francisco: a transformação pelo encontro. Deus não o educou por discursos, mas pela experiência concreta da misericórdia. Assim como Jesus educou seus discípulos na convivência e no serviço, também Francisco foi formado na escola do sofrimento e da compaixão.


2. O ensinamento pelas obras

Muitos atribuem a São Francisco a frase: “Pregai o Evangelho em todo tempo; se necessário, use palavras.”
Contudo, estudos críticos e edições das Fontes Franciscanas (incluindo Speculum Perfectionis e Fioretti) mostram que essa citação não aparece literalmente em nenhum escrito autêntico de Francisco. Ela é, na verdade, uma paráfrase moderna inspirada por um princípio que ele realmente escreveu em sua Regra não Bulada (1221):

> “Omnes tamen fratres operibus praedicent.”
— “Que todos, porém, os irmãos preguem pelas suas obras.”
(Regula non bullata, cap. XVII, v. 3; FF 45)

Aqui encontramos o verdadeiro coração da pedagogia franciscana: o testemunho silencioso, o ensino pelo exemplo, a coerência entre fé e vida. Francisco não opunha palavra e ação — ele as unia no mesmo movimento do Espírito, onde a pregação se torna vida encarnada.

Para nós, protestantes, esse princípio encontra eco em Tiago 1:22 — “Sede praticantes da palavra, e não somente ouvintes.” Assim, o pedagogo de Assis nos recorda que o Evangelho mais convincente é aquele que se torna visível no comportamento dos redimidos.


3. A pedagogia da humildade

O Fioretti — as “pequenas flores” da tradição franciscana — registram que Francisco via a humildade como a base de toda formação espiritual. Numa passagem marcante, lê-se:

> “Um dia, disse o bem-aventurado Francisco: ‘Tens certeza, irmão, de que sabes o que é ser verdadeiramente humilde? É quando, diante das injúrias e dos insultos, permaneces alegre por amor de Cristo.’”
(Fioretti, cap. VI; FF 1843)

Trata-se de uma pedagogia do Calvário: aprender o amor na humilhação, a paciência na ofensa, a alegria na cruz.
A humildade não era para Francisco uma teoria moral, mas um exercício prático da fé — uma escola do coração moldada pelo Espírito Santo.


4. Uma leitura protestante da pedagogia franciscana

Para os teólogos protestantes, especialmente na tradição metodista e reformada, a santificação é também um processo pedagógico.
John Wesley chamava esse processo de “school of Christ” — a escola de Cristo. Ele escreveu:

> “A santidade não é recebida num instante, mas aprendida pela convivência com o Santo. Cristo é nosso Mestre, e nós, seus alunos.”
(Sermon 85: On Working Out Our Own Salvation, Works of John Wesley)



Aqui, Francisco e Wesley se encontram: ambos acreditam que a vida cristã é um aprendizado contínuo de amor.
Enquanto Wesley falava do “caminho da perfeição cristã”, Francisco vivia a “vida de penitência”, ambas expressões da mesma pedagogia divina — o discipulado que nos conforma à imagem de Cristo.


5. Conclusão: o educador do coração

São Francisco de Assis não escreveu tratados teológicos, mas sua vida foi um catecismo vivo.
Ensinou com os pés descalços, com as lágrimas e com o cântico.
Sua escola não tinha paredes, mas campos e praças; não tinha livros, mas gestos e orações.

Em tempos de erudição sem piedade e de fé sem prática, sua pedagogia é um apelo à coerência evangélica.
O protestante que contempla Francisco pode, sem idolatria, reconhecer nele um educador do discipulado, alguém que nos recorda que aprender Cristo é o maior de todos os saberes.

> “O verdadeiro saber é amar a Deus.”
(Admoestação 27; FF 178)

E quem melhor do que Francisco para ensinar essa lição que nenhum diploma concede, mas que o Espírito Santo grava no coração?



Referências Primárias (Fontes Franciscanas)

Regula non bullata (1221), cap. XVII, 3 – “Omnes tamen fratres operibus praedicent.” (FF 45).

Testamento de São Francisco – vv. 1-3 (FF 110).

Admoestações, n. 27 (FF 178).

I Fioretti di San Francesco, cap. VI (FF 1843).

Speculum Perfectionis — não contém a frase “Pregai o Evangelho em todo tempo...”, confirmando a misatribuição.


Referências Secundárias

Francis of Assisi: Early Documents, ed. Regis J. Armstrong, J. A. Wayne Hellmann, William J. Short (New York: New City Press, 1999–2001).

Franciscan Media, “Did St. Francis Really Say That?” (2023).

The Gospel Coalition, “FactCheck: Preach the Gospel, If Necessary Use Words.” (2020).

Aleteia, “St. Francis Never Said ‘Preach the Gospel, Use Words if Necessary’.” (2018).

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

O Dia da Morte se São Francisco de Assis. de protestante para protestante.

O Dia da Morte de Francisco de Assis – 04 de outubro de 1226

Uma reflexão protestante para protestantes

No dia 4 de outubro de 1226, em Assis, na Itália, faleceu um dos cristãos mais conhecidos da história da Igreja: Francisco de Assis. Ainda que pertença ao período medieval e esteja ligado a tradições que depois a Reforma Protestante questionaria, sua vida permanece como um testemunho inspirador para todos os que seguem a Jesus Cristo.

Francisco não foi um reformador no sentido doutrinário, mas foi um homem que, em meio a um cristianismo institucionalizado e muitas vezes corrompido pelo poder e pela riqueza, buscou viver de modo simples, tomando o evangelho ao pé da letra. Ele acreditava que, se Cristo é Senhor, então a vida do discípulo deve refletir essa realidade em humildade, compaixão e obediência.

Quando lembramos o dia de sua morte, não o fazemos para venerar um santo, mas para recordar que Deus levanta testemunhas em todas as épocas. Francisco morreu cantando salmos, entregando-se ao Senhor, como quem desejava que a sua vida fosse toda uma oração. Sua última atitude foi a de confiança plena em Cristo — e este é o exemplo que permanece para nós.

A Escritura nos ensina:

> "Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo." (1Co 11.1)



Nesse sentido, a lembrança de Francisco nos convida a não imitarmos homens por si mesmos, mas a observar como homens e mulheres, em sua fraqueza, podem espelhar o evangelho. Francisco nos lembra que a vida cristã não é acumular títulos, mas seguir o Cordeiro de Deus em simplicidade.

No dia 04 de outubro, quando recordamos sua partida, que possamos pensar não em tradições humanas, mas naquilo que é eterno:

a necessidade de viver com humildade diante de Deus,

o chamado para servir aos pobres e marginalizados,

e a urgência de viver cada dia como peregrinos neste mundo, aguardando a Cidade Celestial (Hb 13.14).


Francisco morreu em 1226, mas o Cristo que ele buscou seguir continua vivo e reinando. E é a esse Senhor que prestamos culto e a quem devemos obediência.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Visio Divina com Ícone de Francisco de Assis



Vamos fazer a visio divina deste ícone de São Francisco de Assis. A prática da visio divina é semelhante à lectio divina, mas em vez de meditarmos na Palavra escrita, contemplamos a Palavra revelada através da imagem sagrada. É um caminho de oração que envolve ver, meditar, orar e descansar em Deus.


1. Ver (Visio)

Olhamos atentamente a imagem.

  • São Francisco aparece de hábito simples, marrom, sinal de pobreza e desapego.
  • Ele segura um livro com uma cruz dourada: o Evangelho, sua regra de vida.
  • Na outra mão, um pássaro pousa, recordando sua fraternidade com toda a criação.
  • O rosto é sereno, mas marcado por austeridade e profundidade interior.
  • As mãos exibem as marcas dos estigmas de Cristo.
  • Ao redor, flores, pássaros e montanhas: o universo reconciliado, em paz com Deus.
  • Atrás da cabeça, o halo dourado mostra a luz da santidade.

2. Meditar (Meditatio)

Que mensagem esta imagem comunica?

  • Pobreza e Evangelho: Francisco aponta para Cristo como centro, vivendo o Evangelho em simplicidade.
  • Fraternidade cósmica: os pássaros lembram o “Cântico das Criaturas” – toda a criação louva ao Criador.
  • Identificação com Cristo: os estigmas em suas mãos dizem que sua vida foi tão unida a Cristo que carregou em si os sinais da cruz.
  • Serenidade: o rosto transmite paz profunda, fruto de uma vida entregue a Deus.

Perguntas para o coração:

  • Como eu acolho a simplicidade evangélica no meu cotidiano?
  • Vejo a criação como irmã, louvando a Deus junto comigo?
  • Onde a cruz de Cristo se manifesta em minha vida, transformando dor em amor?

3. Orar (Oratio)

Do coração, brota a oração:

Senhor Altíssimo e Bom,
que deste a São Francisco um coração pobre,
faze-me também livre dos excessos,
contente apenas com a Tua graça.

Que eu veja na criação não coisas a consumir,
mas irmãos e irmãs a respeitar.

Dá-me, ó Cristo crucificado,
coragem para abraçar minhas feridas,
transformando-as em fontes de vida,
como Francisco recebeu os Teus estigmas.

Ensina-me a viver em paz,
simples e cheio de alegria no Espírito Santo.
Amém.


4. Contemplar (Contemplatio)

Agora permanecemos em silêncio diante da imagem. Não mais analisamos nem falamos: apenas deixamos que a presença de Deus, refletida no ícone, penetre no coração.

  • O olhar de Francisco nos chama à simplicidade.
  • O pássaro repousando nos lembra que no coração que confia, até a criação encontra abrigo.
  • O halo dourado nos recorda que todo ser humano é chamado à santidade.

 

Conclusão:

Assim, este ícone se torna não apenas arte, mas uma janela para o divino. Ele nos convida a viver como Francisco: com o Evangelho nas mãos, as chagas de Cristo no corpo e a criação como irmã.



sábado, 20 de setembro de 2025

São Francisco de Assis e o Valor das Escrituras Sagradas

Irmã Marisa, oesi, lendo o Salmo Responsorial. 

São Francisco de Assis e o Valor das Escrituras Sagradas

Introdução

A história da espiritualidade cristã está marcada por homens e mulheres que, em diferentes épocas, redescobriram a centralidade da Palavra de Deus. No século XIII, em meio a um cristianismo medieval frequentemente marcado por tensões entre riqueza e pobreza, poder e simplicidade, surge a figura de São Francisco de Assis (1181/82–1226). Sua vida não foi apenas um testemunho de desapego e fraternidade, mas, sobretudo, de obediência radical às Escrituras Sagradas.

As fontes primitivas franciscanas testemunham que Francisco não quis fundar uma ordem baseada em sua própria criatividade, mas apenas “viver segundo a forma do santo Evangelho” (Regra não bulada, 1,1). Tal princípio mostra que para ele a Escritura não era um texto a ser apenas lido ou interpretado, mas um caminho de vida a ser encarnado. Sua herança foi transmitida não só pela prática dos frades menores, mas também pela tradição intelectual franciscana, que buscou unir o ardor da experiência evangélica à reflexão teológica.


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Francisco e a Palavra como Regra de Vida

As biografias iniciais de São Francisco deixam claro que sua conversão foi profundamente bíblica. Tomás de Celano, em sua Vita Prima (1228–1229), narra que Francisco, ao ouvir o Evangelho da missão dos discípulos (Mt 10,7-10), exclamou: “Isto é o que eu quero, isto é o que eu procuro, isto é o que eu desejo fazer de todo o coração” (1Cel 22). Esse episódio mostra como a Escritura se tornou para ele norma imediata de existência, não objeto distante de estudo, mas Palavra viva que convoca e transforma.

No seu Testamento, escrito pouco antes da morte, Francisco reforça a mesma convicção: “E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrava o que eu deveria fazer, mas o próprio Altíssimo me revelou que eu devia viver segundo a forma do santo Evangelho” (Test 14). Aqui aparece a centralidade da Escritura como revelação direta de Deus e fundamento da fraternidade.

Essa relação direta com a Bíblia não exclui a Igreja, mas revela sua raiz carismática. Francisco não pretendeu criar um novo cânon espiritual, mas devolver ao povo a simplicidade da Palavra, vivida em obediência, pobreza e fraternidade.


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A Prática da Palavra: Ouvir e Viver

As Admoestações de Francisco são um testemunho de sua leitura bíblica orante. Em várias delas, Francisco cita literalmente a Escritura. Por exemplo, na Admoestação VII, ele diz: “Onde há caridade e sabedoria, aí não há temor nem ignorância”, ecoando 1Jo 4,18. Já na Admoestação I, recorda a humildade de Cristo: “Consideremos todos, irmãos, o bom pastor, que para salvar suas ovelhas suportou a paixão da cruz”.

Tomás de Celano relata que Francisco amava ouvir a Palavra proclamada e que “frequentemente pedia que lhe lessem os Evangelhos do Senhor” (2Cel 102). A Escritura era alimento de sua alma e critério de discernimento. Não se tratava apenas de ouvir, mas de imitar: “Os irmãos nada mais devem ter a não ser este: o santo Evangelho” (Regra não bulada, 1,1).

Esse amor pela Escritura moldou também sua pregação. Francisco não era um orador eloquente segundo os padrões escolásticos, mas falava como quem vive a Palavra. Celano descreve que “sua língua era como fogo ardente, porque o coração estava cheio de amor pela Escritura” (1Cel 97).


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Ecos Intelectuais Franciscanos

A partir de Francisco, a tradição franciscana uniu experiência bíblica e reflexão teológica. São Boaventura, na Legenda Maior (1263), afirmou: “A intenção de Francisco não era outra senão observar o Evangelho em tudo e por tudo, com toda vigilância, todo esforço, todo desejo” (LM Prologus 2). Para Boaventura, a vida de Francisco era uma “exegese viva” do Evangelho, uma hermenêutica prática da Palavra.

Alexandre de Hales, mestre de teologia e franciscano, via na experiência de Francisco a confirmação de que a verdadeira teologia nasce da escuta da Escritura no seio da Igreja. Ele dizia: “A pobreza evangélica de Francisco é a chave que abre o sentido espiritual das Escrituras”.

Mais tarde, João Duns Scotus (†1308), conhecido como “Doutor Sutil”, ressaltou que a encarnação de Cristo — centro da devoção franciscana — manifesta o primado do amor de Deus, verdade proclamada nas Escrituras e assumida radicalmente por Francisco. Para Scotus, a fidelidade à Palavra era inseparável da contemplação do Verbo encarnado.


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O Valor da Escritura para Francisco e para Nós

Para Francisco, a Bíblia não era apenas objeto de veneração, mas Regra de vida. Seu modo de falar e agir mostrava que a Palavra de Deus estava no coração de sua espiritualidade. A sua obediência literal — “nada possuir, anunciar a paz, viver entre os pobres” — pode soar ingênua ou radical demais, mas traduz o desejo profundo de viver em comunhão com o Cristo dos Evangelhos.

Para nós, herdeiros da Reforma e da tradição protestante, esse testemunho franciscano continua atual. O princípio da Sola Scriptura, tão caro à fé reformada, encontra em Francisco um eco existencial: a Escritura não deve ser apenas estudada, mas encarnada na vida. Enquanto os reformadores insistiam no retorno à Palavra como autoridade suprema, Francisco já havia intuído, de modo carismático, que viver o Evangelho é deixar-se configurar pelo Cristo que fala nas Escrituras.

Assim, tanto na espiritualidade franciscana como na tradição protestante, encontramos um convite comum: voltar sempre à Palavra de Deus como fonte, regra e alimento.


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Conclusão

São Francisco de Assis não escreveu tratados exegéticos, mas sua vida se tornou comentário vivo da Escritura. Ele nos recorda que a Palavra de Deus não é apenas letra, mas Espírito que dá vida (2Cor 3,6). Seus biógrafos, suas próprias palavras e a tradição franciscana posterior testemunham a centralidade da Bíblia em sua vocação.

Hoje, em meio às tentações do consumismo e da superficialidade, o exemplo de Francisco continua a provocar a Igreja a voltar-se ao Evangelho com simplicidade e radicalidade. A Reforma protestante, ao recuperar a centralidade das Escrituras, partilha com Francisco a mesma intuição: a Palavra é o fundamento, a regra e a vida da comunidade cristã.

Que possamos, como Francisco, como os reformadores e como tantos santos do povo de Deus, redescobrir o poder transformador das Sagradas Escrituras. 

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

O Domingo na Espiritualidade Franciscana e Metodista

O Domingo na espiritualidade Franciscana é Metodista.

Na espiritualidade cristã, o Domingo sempre foi chamado de “o Dia do Senhor” (Ap 1.10). Ele recorda a ressurreição de Jesus, a vitória da vida sobre a morte e a inauguração de uma nova criação. Para nós, metodistas, o Domingo é mais do que um dia de descanso: é um memorial da graça, um tempo de culto, de comunhão e de renovação do coração na presença de Deus.

Quando olhamos para a vida de São Francisco de Assis, percebemos que ele também via no Domingo uma ocasião especial para louvar o Senhor. Tomás de Celano, em sua Primeira Vida, relata:

> “Ele honrava de modo especial o domingo, porque neste dia começou a nossa salvação. Dizia que todos os cristãos deviam se alegrar nele mais do que nos outros dias, pois nesse dia o Senhor, ressuscitando, encheu de alegria o céu e a terra” (1Cel 82).



Esse testemunho mostra como Francisco não apenas amava a criação e os pobres, mas também tinha consciência litúrgica: via o tempo como espaço de encontro com Deus. Para ele, o Domingo era uma festa da esperança, uma proclamação da vitória de Cristo, celebrada tanto no coração quanto na vida em comunidade.

Na tradição metodista, aprendemos com John Wesley que a graça de Deus é ordinariamente comunicada por meio dos meios de graça — e o culto dominical é central entre eles. É no Domingo que a comunidade metodista se reúne para ouvir a Palavra, cantar hinos, partilhar a Ceia do Senhor e renovar o compromisso com a santidade prática. Assim, o Domingo é um dia missionário, pois nos envia de volta ao mundo para vivermos a fé em amor.

O blog OFSE entende que celebrar o Domingo é também um exercício franciscano de simplicidade: parar as atividades comuns, alegrar-se no Senhor, reconhecer o dom da vida e renovar o compromisso com Cristo ressuscitado. Para Francisco, cada Domingo era uma antecipação do céu, e para nós, discípulos metodistas, também é um sinal escatológico, apontando para a plenitude do Reino de Deus.

Aplicação para hoje

1. Guardar o Domingo não como obrigação, mas como alegria do evangelho.


2. Viver o Domingo com gratidão pela criação e pela redenção.


3. Celebrar em comunidade, mas também cultivar um coração franciscano: simples, alegre e cheio de louvor.

Assim, unindo o testemunho de São Francisco à herança metodista, proclamamos: “Este é o dia que o Senhor fez; alegremo-nos e regozijemo-nos nele” (Sl 118.24).

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

São Francisco de Assis e a Vida de oração


São Francisco de Assis e a Vida de Oração

A oração é o respirar da alma diante de Deus. O salmista declara: “Ó Deus, tu és o meu Deus; de madrugada te buscarei; a minha alma tem sede de ti” (Salmo 63.1). Assim como Davi ansiava pela presença do Senhor, todo cristão é chamado a viver em constante diálogo com o Criador, em espírito e em verdade.

Entre os exemplos de homens e mulheres que se dedicaram a uma vida de oração, destaca-se São Francisco de Assis. Embora pertença à tradição católica medieval, sua vida inspira a todos nós, inclusive a nós protestantes, no chamado para uma espiritualidade simples, centrada em Cristo e alimentada pela oração.

Francisco não buscava a oração apenas como obrigação, mas como encontro vivo com Deus. Conta-se que ele passava longas horas em silêncio, contemplando a bondade do Senhor na criação e derramando diante d’Ele suas lágrimas e seus cânticos. Para ele, orar era mais do que falar; era ouvir, adorar e se entregar totalmente ao amor de Deus.

O apóstolo Paulo nos exorta: “Orai sem cessar” (1 Tessalonicenses 5.17). Essa mesma disposição encontramos em Francisco, que via a oração como respiração contínua da fé. Assim como Wesley, que entendia a oração como meio de graça indispensável à vida cristã, Francisco nos lembra que a intimidade com Deus transforma o coração e gera frutos de santidade e alegria.

A vida de oração, portanto, não nos afasta do mundo, mas nos devolve a ele com novo olhar. Francisco, depois de orar, levantava-se para servir os pobres e anunciar Cristo. Do mesmo modo, nós, metodistas e protestantes, entendemos que a verdadeira oração deve se traduzir em amor prático: amar a Deus e ao próximo, em palavras e em ações (Mateus 22.37–39).

Que possamos aprender com o exemplo de São Francisco a buscar ao Senhor em oração constante, não como fuga, mas como fonte de força e transformação. Pois a oração que nasce do coração toca o céu e desce em forma de serviço.


Oração

Senhor,
ensina-nos a viver em oração constante,
como filhos que confiam no Teu amor.
Que em cada respiração possamos lembrar da Tua presença.
Dá-nos simplicidade para orar com o coração,
como fez São Francisco,
e ousadia para viver a fé com alegria,
como ensinaram os apóstolos e os reformadores.

Em nome de Jesus,
Amém.

Assim, a vida de oração não é apenas tradição monástica ou católica, mas uma herança de toda a Igreja de Cristo. Francisco nos inspira a redescobrir a simplicidade e a beleza de viver em diálogo permanente com o Senhor.

A Alegria que vem de Deus

A Alegria que Vem de Deus

A verdadeira alegria não é apenas um sentimento passageiro; ela nasce do coração que encontrou sua esperança em Cristo. O apóstolo Paulo nos lembra: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Filipenses 4.4). Essa alegria é mais profunda do que as circunstâncias, pois vem do Espírito Santo e floresce mesmo em meio às dificuldades.

Alegria na Simplicidade – São Francisco de Assis

São Francisco nos ensinou que a “perfeita alegria” não está em aplausos, riquezas ou reconhecimento, mas em carregar a cruz com Cristo e ainda assim cantar louvores. A verdadeira alegria é aprender a viver na simplicidade e encontrar contentamento em Deus.

Alegria no Serviço – São Bento

São Bento, em sua Regra, escreveu que devemos “servir ao Senhor com alegria” (Sl 100.2). O caminho da disciplina e da obediência não é peso, mas fonte de contentamento. Servir humildemente ao próximo é experimentar a alegria do Evangelho em ação.

Alegria na Fé – Martinho Lutero

Para Lutero, a alegria do Evangelho estava em saber que somos justificados pela fé, não pelas obras. Ele disse: “A fé é uma confiança viva e ousada na graça de Deus”. Essa confiança liberta do medo e enche o coração de júbilo, mesmo nas provações.

Alegria na Santidade – João Wesley

João Wesley testemunhou a alegria de ter o coração “estranhamente aquecido” pelo Espírito. Para ele, a santidade era inseparável da alegria: “A religião genuína é felicidade, paz e alegria no Espírito Santo.” A alegria é fruto da presença real de Deus em nós.

Uma Alegria que Transforma

A alegria em Cristo não foge das dores, mas floresce em meio a elas. É a alegria do servo que canta como Francisco, serve como Bento, confia como Lutero e testemunha como Wesley. Como declara o salmista: “Na tua presença há plenitude de alegria; à tua direita, delícias perpetuamente” (Sl 16.11).

Oração pela Alegria em Cristo

Senhor amado,
ensina-nos, como Francisco, a encontrar alegria na simplicidade e na cruz.
Guia-nos, como Bento, a servir-Te com disciplina e coração alegre.
Dá-nos, como Lutero, a confiança ousada na Tua graça que nos liberta.
E aquece, como em Wesley, o nosso coração com a chama do Teu Espírito.

Que a nossa vida transborde em alegria verdadeira,
não nas coisas deste mundo,
mas na certeza da Tua presença.

Em nome de Jesus,
Amém.



A pobreza de Cristo, de Francisco de Assis e a liberdade do discípulo

 


A pobreza de Cristo, de Francisco de Assis e a liberdade do discípulo

“Pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos.”
(2 Coríntios 8.9)

Reflexão

O apóstolo Paulo lembra que a nossa fé nasce do movimento descendente de Cristo: Ele, sendo eterno e rico em glória, fez-se pobre por amor, para que tivéssemos vida abundante em Deus.

As primeiras biografias de São Francisco de Assis relatam que ele abraçou a pobreza não como miséria, mas como liberdade: “não possuir nada, para possuir tudo em Cristo”. Ele via na renúncia material um testemunho da suficiência do Evangelho.

Os reformadores também entenderam isso. Para Calvino, a lembrança da pobreza de Cristo é o fundamento da vida cristã: toda liberalidade, toda simplicidade, todo desapego nasce do reconhecimento de que já somos ricos em Cristo. Não buscamos mérito; vivemos em resposta à graça recebida.

Séculos depois, John Wesley ecoou a mesma verdade. Ele exortava os metodistas: “Ganhai tudo o que puderdes, poupando tudo o que puderdes, para dar tudo o que puderdes”. Para Wesley, a riqueza não era fim em si mesma, mas instrumento de amor. A vida cristã deveria refletir uma economia de graça: trabalho diligente, simplicidade pessoal e generosidade missionária.

Assim, Francisco, a Reforma e Wesley convergem:

  • Cristo é o centro,

  • a graça é o fundamento,

  • a liberdade do discípulo se expressa em desapego, serviço e generosidade.

A verdadeira riqueza do crente não está em posses, mas na comunhão com o Senhor.

Oração

Senhor Jesus,
Tu, que sendo rico, te fizeste pobre por nós,
ensina-nos, como ensinaste a Francisco,
a viver na liberdade do desapego.
Faz-nos, como lembraram os reformadores,
descansar na tua graça, não em nossas obras.
E inspira-nos, como ensinou Wesley,
a usar os bens desta vida para servir o próximo.
Seja Cristo nossa riqueza, hoje e sempre.
Amém.

domingo, 31 de agosto de 2025

UM CLAUSTRO ESPIRITUAL

 

Busca então separar-se em santificação para o Senhor Deus.

Atenta tua mente, teu coração e deixa teu corpo, alma e espírito

para uso exclusivo do Senhor Deus.

Tudo em ti deve ser dedicado a fazer a vontade de Deus!

Uma vida de intensa dedicação à oração, será necessária e de igual

modo, uma vida de dedicado estudo da Palavra de Deus.

Mais que um claustro de pedras, cria em ti um claustro espiritual.

Onde fores, serás cativo do Deus de Israel e serás livre no Deus de

Israel!

Servo de Cristo Jesus, irmão de todos, servo de todos!

Legítimo anunciador do Evangelho de Cristo Jesus!

Deuteronômio 8:3

" Ele te humilhou, fazendo-te passar fome e, depois te alimentou com

maná que nem tú, nem teus pais conheciam, para mostrar que não só

de pão vive o homem, mas de toda Palavra que procede da boca do

Senhor."

Viva o amor de Deus!

Viva o amor de Cristo Jesus!

Viva o amor do Espírito Santo de Deus!

Espelhe-se no exemplo de Maria, mãe do Senhor Jesus, que abençoada,

viveu um Ministério materno de amor, silêncio orante, obediência a Deus

e comunhão com todos.

O claustro espiritual, gera bênçãos sem medida, bênçãos do Altíssimo Deus!

Bênçãos eternas de amor!

Paz e Bem!

Frei Isaac

OFSE- ORDEM FRANCISCANA DOS SERVOS EVANGÉLICOS 

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Dia de Clara de Assis e a Espiritualidade Protestante


11 de agosto - Clara de Assis.

Clara de Assis (1194 – 1253) foi uma mulher italiana do século XIII, reconhecida historicamente por seu papel decisivo no movimento de renovação espiritual iniciado por Francisco de Assis. Embora venerada como santa pela Igreja Católica, sua vida também pode ser apreciada, de uma perspectiva protestante, como exemplo de fé, serviço e dedicação radical a Cristo — ainda que dentro do contexto monástico medieval.

Contexto histórico
Clara nasceu em Assis, na Itália, por volta de 16 de julho de 1194, numa família nobre e abastada. O período era marcado pela forte influência da Igreja Romana na vida política e social da Europa, bem como pelo florescimento de movimentos de reforma religiosa, como o que Francisco de Assis iniciou ao abraçar a pobreza e pregar arrependimento.

Conversão e chamada
Em 1211 ou 1212 (as fontes variam), com cerca de 18 anos, Clara ouviu as pregações de Francisco e sentiu-se profundamente tocada pelo chamado de viver apenas para Cristo, sem riquezas e sem vaidade. Fugiu de casa à noite e foi recebida por Francisco na igrejinha de Porciúncula, onde fez votos de pobreza, castidade e obediência — características próprias do sistema monástico da época, mas que, para ela, significavam uma entrega total ao Senhor.

Fundação da ordem
Francisco a conduziu ao mosteiro beneditino de São Paulo das Abadessas, para protegê-la da oposição da família. Pouco depois, ela se estabeleceu com outras irmãs em São Damião, nos arredores de Assis, fundando a comunidade que ficou conhecida como Ordem das Damas Pobres, mais tarde chamadas Clarissas. O estilo de vida era extremamente austero, centrado na oração, no trabalho manual e na completa dependência de doações.

Ministério e influência
Clara foi abadessa por mais de 40 anos. Apesar de nunca ter saído para pregar nas ruas como Francisco, exerceu enorme influência espiritual, especialmente sobre mulheres, incentivando uma vida de simplicidade e devoção. Sua insistência na “pobreza absoluta” (sem rendas nem propriedades) foi algo incomum e controverso na estrutura medieval, mas reforçava sua convicção de depender apenas de Deus.
Em 1224, a tradição registra que, quando tropas invasoras sarracenas a serviço do imperador Frederico II cercaram Assis, Clara teria se colocado diante das portas do mosteiro com o ostensório contendo a hóstia consagrada. Mesmo que o episódio esteja envolto em elementos devocionais medievais, ele simboliza sua coragem e liderança.

Morte e legado
Clara morreu em 11 de agosto de 1253. Dois dias antes, o papa Inocêncio IV aprovou oficialmente sua “Regra”, que mantinha o ideal de pobreza total — algo pelo qual ela havia lutado por décadas. Em 1255, a Igreja Católica a canonizou.

Visão protestante
De uma perspectiva protestante, não se compartilha de todas as práticas e crenças presentes na vida monástica medieval, como o culto aos santos ou a teologia sacramental da época. No entanto, a história de Clara é relevante por mostrar:
Zelo pela Palavra (ainda que em latim e restrita naquele período).
Renúncia voluntária aos bens e posição social, em favor de um chamado espiritual.
Influência de uma vida piedosa sobre outros, especialmente mulheres, mesmo sem ocupar posição formal de pregadora.
Clara de Assis permanece como figura histórica que inspira reflexão sobre discipulado radical, coragem diante da oposição e busca por uma vida centrada em Cristo, ainda que vivida num contexto eclesiástico diferente daquele defendido pela fé reformada.

quinta-feira, 17 de julho de 2025

UM GRANDE AMOR DE DEUS!

                                  SALMO 67

1- Que o Eterno nos conceda sua Graça e nos abençoe, e que faça resplandecer sobre nós a sua face,

2- para que sejam conhecidas na terra o teu caminho, a tua salvação entre todas as nações.


O desejo de um irmão menor , é exatamente cumprir o IDE DE CRISTO JESUS!

Tamanha benção se torna seu chamado por entender ser este um grande sinal do 

amor de Deus para toda a humanidade.

Cumprir o chamado com alegria, com disposição para uma vida de entrega e de oração, uma vivência de pleno amor e comunhão com a Igreja de Jesus Cristo.

Somos todos irmãos em Cristo, com Cristo e para Cristo Jesus.

Entrega-te com fé nas mãos do Altíssimo Deus, descansa com fé e tenha paz!

Por ventura um Pai que ama verdadeiramente, abandonará seu filho?

De certo que não.

Por isto diz a Palavra do Senhor:

João 3:16

16- Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu

seu único Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Busquemos a essência deste amor divino dentro de nós e derramemos este amor no próximo, com misericórdia, paciência e perdão.

Que possamos pregar o arrependimento sem acusação, mas nos lembremos com

amor que devemos pregar o arrependimento para o perdão dos pecados como Jesus Cristo nos ensinou.

Nunca podemos nos esquecer que a Graça do Senhor nos basta e é eficaz!

Paz e Bem!

Frei Isaac

OFSE-ORDEM FRANCISCANA SECULAR EVANGÉLICA