terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Tempo Mistério no Presépio de Greccio

O ano é de 1223 d.C. Francisco estava cansado. Já havia tido duras experiências no Oriente. A Ordem Franciscana estava dividida e com atitudes de insubordinações.

Neste mesmo ano, junto a Fonte Colombo, Francisco redige a sua 3ª Regra, que é discutida no capítulo geral de junho. A discussão continua em Roma, e em outubro Francisco se dirige ao Papa para pedir a aprovação. Finalmente no dia 29 de novembro, Honório III aprova, com bula papal, a Regra definitiva. É então tempo de celebração.

Talvez desejasse ter passado o Natal em Belém. Não conseguiu.

Mas no dia 24 de dezembro, na noite de Natal, Francisco celebra a Festa do nascimento de JESUS em Greccio. Ali Francisco constrói o primeiro presépio.

Greccio é uma comuna italiana da região do Lácio, província de Rieti, Tem hoje cerca de 1.466 habitantes. Estende-se por uma área de 17 km2, tendo uma densidade populacional de 86 hab/km2. Faz fronteira com Contigliano, Cottanello, Rieti, Stroncone.

Este local foi transformado na Nova Belém. Lugar do mais importante presépio depois de Belém. Lugar onde Francisco reviveu o natal e nos ensinou a reviver a alergia da esperança e a celebração do Cristo que veio.

O que aconteceu nesta noite de Natal?

Tomás de Celano, o mais importante Biógrafo de Francisco (Biografia de São Francisco de Assis - Tomás de Celano, nºs 84 e 86) diz que “Sua maior aspiração, seu mais vivo desejo e mais elevado propósito era observar o Evangelho em tudo o por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os “passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento de sua doutrina. Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência. Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua paixão, que nem queria pensar em outras coisas,. Precisamos recordar com todo respeito e admiração, o que fez no dia de Natal, no povoado de Gréccio, três anos antes de sua gloriosa morte. Havia nesse lugar um homem chamado João. Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamá-lo, como costuma fazer, e disse: “Se você quiser que celebremos o Natal em Gréccio, é bom começar a preparar diligentemente e desde já o que eu vou dizer. Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”. Ouvindo isso o homem bom e fiel correu imediatamente e preparou no lugar indicado o que o Santo tinha pedido. E veio o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. De muitos lugares foram chamados os Irmãos. Homens e mulheres do lugar, coração em festa, prepararam como puderam tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim chegou o Santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito. Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Gréccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade. A noite ficou iluminada como o dia: era um encanto para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em uma alegria toda nova. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava. O Santo estava diante do presépio a suspirar, cheio de piedade e de alegria. A Missa foi celebrada ali mesmo no presépio, e o sacerdote sentiu uma consolação jamais experimentada. O Santo vestiu dalmática, porque era diácono, e cantou com voz sonora o Santo Evangelho. De fato, era “uma voz forte, doce, clara e sonora”, convidando a todos às alegrias eternas., Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas doces como o mel, sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequem cidade de Belém. Muitas vezes quando queria nomear Cristo Jesus, chamava-o também com muito amor de “Menino de Belém”.

Segunda as palavras de Celano, percebemos os objetivos de Francisco ao construir o primeiro presépio. Seus objetivos foram:

a) Observar através do Presépio as palavras do Evangelho de Jesus;

b) Lembrar a humildade da encarnação do Senhor JESUS;

c) Reviver a situação pobre vivida por JESUS.

d) Contemplar a palha, o boi e o burro para tentar vivenciar a pobreza e a entrega total de JESUS

e) Reunir pessoas para a Celebração da fé na encarnação de Deus;

f) Transformar Gréccio em uma nova Belém

g) Louvar a pobreza e recomendar a humildade.

h) Realizar uma Missa, um culto a Deus vivendo e sentindo a alegria do momento do nascimento de Cristo.

i) Pregar o Evangelho e falar do grande amor de Deus.

Foram colocadas as palhas e os animais. A manjedoura ficou vazia por momentos. Mas ali Francisco pode contemplar JESUS. O Tempo Cronos deixou lugar para o tempo kairós. Entrou o tempo litúrgico, também chamado de tempo mistério. No tempo mistério não existe nem o hoje, nem o amanhã e nem o ontem. Reina o Mistério. Podemos vivenciar o que ocorreu um dia. Atualizamos os passos de Jesus. Como Isaías que vivenciou o que o messias iria passar no seu sofrimento de cruz, contando como se já estivesse acontecido.

Francisco usou o presépio para reviver, mergulhar no mistério do Natal. Não mergulhou só. Celebrou com o povo. Parecia estar com o menino no colo. Voltou a Belém e se fortaleceu em Deus para enfrentar seus últimos três anos de vida.

A fé se transformou em festa. A pobreza do menino de Belém foi o grande tesouro encontrado por Francisco.

Assim também devemos celebrar o Natal com o espírito franciscano. Vendo no Cristo de Belém o amor do Pai que se aproxima, até mesmo numa manjedoura.

Não há limites para o Deus apaixonado pelo ser humano. Está foi a grande alegria da celebração de Francisco. Esta deve ser também nossa alegria. Feliz mês do Natal.

Rev. Edson Cortasio Sardinha – edsoncortasio@hotmail.com