terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Tempo Mistério no Presépio de Greccio

O ano é de 1223 d.C. Francisco estava cansado. Já havia tido duras experiências no Oriente. A Ordem Franciscana estava dividida e com atitudes de insubordinações.

Neste mesmo ano, junto a Fonte Colombo, Francisco redige a sua 3ª Regra, que é discutida no capítulo geral de junho. A discussão continua em Roma, e em outubro Francisco se dirige ao Papa para pedir a aprovação. Finalmente no dia 29 de novembro, Honório III aprova, com bula papal, a Regra definitiva. É então tempo de celebração.

Talvez desejasse ter passado o Natal em Belém. Não conseguiu.

Mas no dia 24 de dezembro, na noite de Natal, Francisco celebra a Festa do nascimento de JESUS em Greccio. Ali Francisco constrói o primeiro presépio.

Greccio é uma comuna italiana da região do Lácio, província de Rieti, Tem hoje cerca de 1.466 habitantes. Estende-se por uma área de 17 km2, tendo uma densidade populacional de 86 hab/km2. Faz fronteira com Contigliano, Cottanello, Rieti, Stroncone.

Este local foi transformado na Nova Belém. Lugar do mais importante presépio depois de Belém. Lugar onde Francisco reviveu o natal e nos ensinou a reviver a alergia da esperança e a celebração do Cristo que veio.

O que aconteceu nesta noite de Natal?

Tomás de Celano, o mais importante Biógrafo de Francisco (Biografia de São Francisco de Assis - Tomás de Celano, nºs 84 e 86) diz que “Sua maior aspiração, seu mais vivo desejo e mais elevado propósito era observar o Evangelho em tudo o por tudo, imitando com perfeição, atenção, esforço, dedicação e fervor os “passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento de sua doutrina. Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita inteligência. Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua paixão, que nem queria pensar em outras coisas,. Precisamos recordar com todo respeito e admiração, o que fez no dia de Natal, no povoado de Gréccio, três anos antes de sua gloriosa morte. Havia nesse lugar um homem chamado João. Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamá-lo, como costuma fazer, e disse: “Se você quiser que celebremos o Natal em Gréccio, é bom começar a preparar diligentemente e desde já o que eu vou dizer. Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em cima da palha, entre o boi e o burro”. Ouvindo isso o homem bom e fiel correu imediatamente e preparou no lugar indicado o que o Santo tinha pedido. E veio o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. De muitos lugares foram chamados os Irmãos. Homens e mulheres do lugar, coração em festa, prepararam como puderam tochas e archotes para iluminar a noite que tinha iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela. Por fim chegou o Santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito. Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro. Gréccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade. A noite ficou iluminada como o dia: era um encanto para os homens e para os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em uma alegria toda nova. O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava. O Santo estava diante do presépio a suspirar, cheio de piedade e de alegria. A Missa foi celebrada ali mesmo no presépio, e o sacerdote sentiu uma consolação jamais experimentada. O Santo vestiu dalmática, porque era diácono, e cantou com voz sonora o Santo Evangelho. De fato, era “uma voz forte, doce, clara e sonora”, convidando a todos às alegrias eternas., Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas doces como o mel, sobre o nascimento do Rei pobre e sobre a pequem cidade de Belém. Muitas vezes quando queria nomear Cristo Jesus, chamava-o também com muito amor de “Menino de Belém”.

Segunda as palavras de Celano, percebemos os objetivos de Francisco ao construir o primeiro presépio. Seus objetivos foram:

a) Observar através do Presépio as palavras do Evangelho de Jesus;

b) Lembrar a humildade da encarnação do Senhor JESUS;

c) Reviver a situação pobre vivida por JESUS.

d) Contemplar a palha, o boi e o burro para tentar vivenciar a pobreza e a entrega total de JESUS

e) Reunir pessoas para a Celebração da fé na encarnação de Deus;

f) Transformar Gréccio em uma nova Belém

g) Louvar a pobreza e recomendar a humildade.

h) Realizar uma Missa, um culto a Deus vivendo e sentindo a alegria do momento do nascimento de Cristo.

i) Pregar o Evangelho e falar do grande amor de Deus.

Foram colocadas as palhas e os animais. A manjedoura ficou vazia por momentos. Mas ali Francisco pode contemplar JESUS. O Tempo Cronos deixou lugar para o tempo kairós. Entrou o tempo litúrgico, também chamado de tempo mistério. No tempo mistério não existe nem o hoje, nem o amanhã e nem o ontem. Reina o Mistério. Podemos vivenciar o que ocorreu um dia. Atualizamos os passos de Jesus. Como Isaías que vivenciou o que o messias iria passar no seu sofrimento de cruz, contando como se já estivesse acontecido.

Francisco usou o presépio para reviver, mergulhar no mistério do Natal. Não mergulhou só. Celebrou com o povo. Parecia estar com o menino no colo. Voltou a Belém e se fortaleceu em Deus para enfrentar seus últimos três anos de vida.

A fé se transformou em festa. A pobreza do menino de Belém foi o grande tesouro encontrado por Francisco.

Assim também devemos celebrar o Natal com o espírito franciscano. Vendo no Cristo de Belém o amor do Pai que se aproxima, até mesmo numa manjedoura.

Não há limites para o Deus apaixonado pelo ser humano. Está foi a grande alegria da celebração de Francisco. Esta deve ser também nossa alegria. Feliz mês do Natal.

Rev. Edson Cortasio Sardinha – edsoncortasio@hotmail.com

sábado, 14 de novembro de 2009

A SAUDAÇÃO "PAZ E BEM"

Hoje as igrejas evangélicas tem suas saudações próprias: Paz do Senhor; Graça e Paz; Paz seja convosco!

Alguns protestantes tem horror a saudações entre os crentes, mas usam com orgulho e soberba o Paz e Bem dos Franciscanos (ou usam com profunda sinceridade e carinho).

Alguns para se afirmarem como tradicionais e opositores ao movimento carismático, preferem um grande e gritante Bom Dia. Outros, para aparentarem avivamento ou falsa irmandade, dizem "Paz do Senhor. Irmão"!

O carinho e o simbolismo da saudação sempre esteve presente entre os discípulos e discípulas de Francisco.

Francisco saudava com Paz e Bem?

Talvez sim. Mas esta não foi a exigência entre seus discípulos.


A saudação franciscana de "Paz e Bem" tem sua origem na descoberta e na vocação do envio dos discípulos, que Francisco descobriu no Evangelho e, que ele colocou na Regra dos Frades Menores - "o modo de ir pelo mundo".

Lucas (10,5) fala na saudação "A paz esteja nesta casa", e Francisco acrescenta que a saudação deve ser dada a todas as pessoas que os frades encontrarem pelo caminho: "O Senhor vos dê a paz".

Observe que ele não diz PAZ e BEM. Diz pelo contrário: "O Senhor vos dê a paz".

No seu Testamento, Francisco revela que recebeu do Senhor mesmo esta saudação. Portanto, ela faz parte de sua inspiração original de vida: anunciar a paz.

A origem da saudação "Paz e Bem"

Muito antes de Francisco, o Mestre Rufino (bispo de Assis, na época em que Francisco nasceu), já escrevera um tratado, "De Bono Pacis" - "O Bem da paz" e, que certamente deve ter influenciado a mística da paz na região de Assis.

Na cidade haviam diferentes formas de saudação da paz, entre elas a de "Paz e Bem".

A paz interior como fundamento da paz exterior. Na Legenda dos três companheiros (58), Francisco dá para seus frades, o significado único para a paz:

"A paz que anunciais com a boca, mais deveis tê-la em vossos corações. Ninguém seja por vós provocado à ira ou ao escândalo, mas todos por vossa mansidão sejam levados à paz, a benignidade e à concórdia. Pois é para isso que fomos chamados: para curar os feridos, reanimar os abatidos e trazer de volta os que estão no erro".

Trata-se da paz do coração que conquistaram. Francisco exorta seus frades a anunciar a paz e a testemunhá-la com doçura, porque este é o único caminho de comunicação para atrair todos os homens para a verdadeira paz, Jesus Cristo. Nosso Senhor.

A saudação da paz, como primeira palavra que os frades dirigem aos outros, tem o objetivo de abrir os corações à paz, isto é, à força espiritual interior: a paz interior da bem-aventurança e a paz proclamada e dirigida a todos, constituem uma única e mesma realidade.

Os Franciscanos, primeiros discípulos de Francisco, aceitaram a pequena fórmula de Paz como um dos principais símbolos franciscanos. Ficou assim: Paz e Bem. Mesmo não sendo esta a saudação recomendada por Francisco.

Mais do que Paz do Senhor, Graça e Paz, O Senhor vos de a Paz (saudação de Francisco), ou Paz e Bem (saudação dos discípulos de Francisco), deve estar e reinar a verdadeira Paz em Nosso Coração. Só deseja paz verdadeira quem vive a paz verdadeira.

A paz verdadeira é Jesus, nosso único e suficiente salvador.

Edson Cortasio Sardinha

PESQUISA: http://www.franciscanos.org.br/carisma/simbolos/pazebem.php



quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O TAU É BÍBLICO?


O Tau é Bíblico?

Há certos sinais que revelam uma escolha de vida. O TAU, um dos mais famosos símbolos franciscanos, hoje está presente no peito das pessoas num cordão, num broche, enfeitando paredes numa escultura expressiva de madeira, num pôster ou pintura. Existe uma idolatria com relação ao TAU. Alguns usam este símbolo procurando a proteção de Deus.
Por este motivo nós protestantes temos certas reservas com este importante símbolo da fé.
O TAU é um SINAL BÍBLICO. Existe somente um texto bíblico que menciona explicitamente o TAU, última letra do alfabeto hebraico, Ezequiel 9, 1-7: "Passa pela cidade, por Jerusalém, e marca com um TAU a fronte dos homens que gemem e choram por todas as práticas abomináveis que se cometem".
O TAU é selo de Deus; significa estar sob o domínio do Senhor, é a garantia de ser reconhecido por Ele e ter a sua proteção.
Deus manda Ezequiel marcar os homens que gemem e choram desejando a santidade do Senhor. Choram por ver abominações no Templo.
O TAU é a marca dos irmãos e irmãs que não aceitam um cristianismo adulterado pelo pecado. Secularizado pelas falsas teologias.
Francisco assumiu para si a marca do TAU como sinal de sua conversão e da dura batalha que travou para vencer-se. Não era tão fácil para o jovem renunciar seus sonhos de cavalaria para chegar ao despojamento do Crucificado que o fascinou. Escolhe ser um cavaleiro em santificação: eliminar os excessos, os vícios e viver a transparência simples das virtudes.
O Encontro de Francisco com o TAU foi tremendo. No mês de novembro de 1215, o Papa Inocêncio III presidia um Concílio na Igreja Constantiniana de Roma. Lá estavam presentes 1.200 prelados, 412 bispos, 800 abades e priores. Entre os participantes estavam Domingos e Francisco de Assis. Na sessão inaugural do Concílio, no dia 11 de novembro, o Papa falou com energia, apresentou um projeto de reforma para uma Igreja ferida pela heresia, pelo clero imerso no pecado, no luxo e no poder temporal. Papa Inocêncio III recordou e pregou o simbolismo do TAU de Ezequiel 9, 1-7.
Foi uma mensagem que falou ao coração de Francisco. Ele saiu do Concílio disposto a aceitar a convocação da Palavra de Deus e andou marcando os irmãos com o TAU. Eram marcados seus irmãos que desejavam uma vida santa. Uma vida convertida. Uma vida que denunciava o pecado.
Passou a ser o sinal de santidade diante da idolatria e do pecado que a própria igreja estava mergulhada.
Os primeiros biógrafos escreveram: "O sinal do TAU era o preferido sobre qualquer outro sinal", " Francisco recomendava, freqüentemente, em suas palavras e o traçava com as próprias mãos no rodapé das breves cartas que escrevia, como se todo o seu cuidado fosse gravar o sinal do TAU, segundo o dito profético, sobre as fontes dos homens que gemem e lutam, convertidamente a Jesus", "O traçava no início de todas as suas ações", "Com ele selava as cartas e marcava as paredes das pequenas celas" (cf. LM 4,9; 2,9; 3Cel 3).
Assim Francisco vestia-se da túnica em forma de TAU. O TAU passou a ter total investidura de um ideal que abriu muitos caminhos.
Francisco se apropriou da bênção deuteronômica, transcreveu-a com o próprio punho e deu a Frei Leão: "Que o Senhor te abençoe e te guarde. Que o Senhor mostre a tua face e se compadeça de ti. Que o Senhor volva o teu rosto para ti e te dê a paz. Irmão Leão; o Senhor te abençoe!" Sob o texto da bênção, o próprio Frei Leão fez a seguinte anotação: "Francisco escreveu esta bênção para mim, Irmão Leão, com seu próprio punho e letra, e do mesmo modo fez a letra TAU como base".
O TAU é a última letra do alfabeto judaico e a décima nona letra do alfabeto grego. Não está aí por acaso; um código de linguagem reflete a vivência das palavras. O mundo judaico e, conseqüentemente, a linguagem bíblica mostram a busca do transcendente. É preciso colocar o Deus da Vida como centro da história. É a nossa verticalidade, isto é, o nosso voltar-se para o Alto. O mundo grego nos ensinou a pensar e perguntar pelo sentido da vida, do humano e das coisas. Descobrir o significado de tudo é pisar melhor o chão, saber enraizar-se. É a nossa horizontalidade. A Teologia e a Filosofia são servas da fé e do pensamento. Quem sabe onde está parte para vôos mais altos. É como o galho de pessegueiro, cortado em forma de tau é usado para buscar veios d'água. Ele vibra quando a fonte aparece cheia de energia.
Em geral, o Tau é pendurado no pescoço por um cordão com três nós. O fio condutor do Evangelho. A síntese da Boa Nova são os três conselhos evangélicos= obediência, pobreza, pureza de coração.
Antes de ser um símbolo da idolatria ou da proteção mágica dos símbolos (animismo), o TAU é símbolo dos que sofrem por uma igreja santa, livre do pecado e do mundanismo.
I João 5:19 - Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno.
I João 5:4 - Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé.
I João 5:5 - Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?

Que sejamos selados no coração pelo TAU do Senhor.
Francisco escolheu um símbolo maravilhoso para seu grupo de discípulos. Um símbolo que ainda fala no cotidiano da igreja do século XXI.

Edson Cortasio Sardinha
Baseado nos estudos do Por Frei Vitório Mazzuco, OFM.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A REFORMA FRANCISCANA



“Vá e restaura a minha igreja que está em ruínas”.



Francisco está junto às ruínas da Igreja de São Damião. Lá está um altar quebrado e uma cruz caída com um ícone de JESUS. O ano é 1205.

De onde veio esta voz?

Qual a mensagem de Deus a Francisco?

O que esta mensagem tem a ver conosco no século XXI?

Este momento é importante para entendermos a Reforma Franciscana. Conhecemos a Reforma Luterana e agora precisamos conhecer também sobre e Reforma que ocorreu 300 anos antes.

Francisco ouviu a voz do Senhor em 1205. Neste mesmo ano começaram os conflitos com o pai. Francisco não sabe o que acontecerá com sua vida. Mas decide ser instrumento de Deus. Não entende a voz e começa a restaurar igrejas quebradas, velhas e sujas de mato e entulhos.

Depois terá um esclarecimento sobre a revelação recebida: Ele estava sendo levantado para reformar a Igreja que estava em ruínas pelo pecado, a riqueza e do poder. Foi um instrumento de anuncio e denuncia contra a própria igreja.

Francisco nasceu em 1181/82 na cidade de Assis. Itália. É Batizado com o nome de Giovanni di Pietro (pai) di Bernardone (avô). Seu nome foi mudado mais tarde para Francisco.

Em 1202 vai a guerra civil entre Perúsia e Assis.

Assis é vencida em Collestrada. Francisco, com 20 anos, passa um ano preso em Perúsia. Lá encontra com o Evangelho de JESUS Cristo traduzido para a língua vulgar. É Resgatado pelo pai e está muito fraco devido à várias doenças. Nesse tempo a família de Clara está refugiada em Perúsia. Ela tem 8 ou 9 anos de idade. Clara será a mulher do ministério de oração e adoração perpétua de Jesus. Aprenderá com Francisco a viver o Evangelho.

A doença de Francisco é longa. Este é um período de tratamento de Deus. Fica enfermo até 1204: Uma Longa doença de dois anos.

Mas seu coração ainda não foi totalmente convertido. Foi um processo apenas iniciado e parado. Em 1204 ou 1205 Francisco parte novamente para a guerra. Agora ele vai para a guerra da Apúlia, no sul.

Mas tem uma visão e recebe uma mensagem em Espoleto. Deus lhe fala em sonhos. Ele escuta uma voz:

“A quem queres servir: ao servo ou ao Senhor?”

Francisco respondeu prontamente: “Ao Senhor, é claro!”

A voz tornou: ”Por que insistes então servir ao servo?”

Francisco entende que buscava apenas a glória humana e passageira, fazendo a vontade dos homens e não a vontade do Senhor..Deus estava chamando-o para ser cavalheiro de um comandante maior e mais poderoso.

Francisco Regressa a Assis.

Começa um momento de luta. É acusado de desertor. Passa a ser uma vergonha para o pai. Reinicia sua conversão gradual.

Sem entender os desígnios de Deus, vai para a Igreja de São Damião em 1205. Enquanto mexia nos entulhos da igreja, escuta a voz do Senhor lhe dizendo: “Vá e restaura a minha igreja que está em ruínas”.


De onde veio esta voz?

A voz não veio do ícone de JESUS na cruz. A voz veio do Senhor que escolheu Francisco para uma obra extraordinária: Mas Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes. I Coríntios 1:27


Qual a mensagem de Deus a Francisco?

Era uma mensagem de restauração e reforma da Igreja. A igreja estava em ruínas. São Damião representava o estado da Igreja que deixou o Evangelho do Senhor JESUS. Com a entrada de Constantino Magno, (313 d.C) a igreja foi se afastando do caminho da simplicidade e da fé na Palavra de Deus. A igreja começou a se envolver no pecado da política e foi devorada pela idolatria do poder. A igreja se perdeu e estava destruída, arrasada e em pedaços. Francisco estava sendo levantado para ser um instrumento de Deus e preparar a Igreja para a descoberta do Evangelho de Cristo.


O que esta mensagem tem a ver conosco no século XXI?

Como está a nossa igreja hoje? Podemos olhar para o movimento protestante. Ele tem sido uma vergonha em toda o mundo. Casamento de Gays; brigas por posições políticas; relativismo da Palavra de Deus; sincretismo religioso e ecumenismo que nega a soberania do Evangelho, a prosperidade como símbolo da fé, igrejas históricas vendendo seus templos para boates; igrejas em todo canto escandalizando o nome do Senhor. Um cristianismo frio, racional, relativista, mundano, sujo. Uma total ausência de santidade. Igreja com relacionamentos quebrados. Vidas doentes e em ruínas. Uma igreja amiga do mundo. Dominada pelo mundo. Atrapalhada pelo mundo. Igreja sem sal.

O Evangelho tem sido envergonhado todos os dias.


Deus continua falando que sua igreja está em ruínas?

Acredito que sim. Por isso que a mensagem de Francisco e seu amor incondicional pelo Evangelho de JESUS ainda agride nossos ouvidos e nos provoca. Sentimos envergonhados e longe dos projetos de Deus. Precisamos retornar a São Damião.


Rev. Edson Cortasio Sardinha

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

CLARA e o Ministério de Intercessão


“Escuta, filha, vê e presta atenção,

Esquece o teu povo e a casa de teu pai.

De tua Beleza se encantará o rei;

Ele é teu Senhor, inclina-te diante dele!”


(Salmo 44)



Chiara Favarone di Offreduccio nasceu a 16 de julho de 1194, em Assis. Seu nome, dado pela mãe, é a sua carteira de identidade: “Clara de nome, mais clara por sua vida e claríssima nas virtudes” (1Cel 8 ).

Clara morreu aos 11 de Agosto de 1253, no Convento de São Damião, aos sessenta anos, apertando nas mãos e no coração a Regra de Vida aprovada por Inocêncio IV, seu sonho, vocação e realização.


Aos dezoito anos, no dia 19 de Março de 1212, junta-se a Francisco de Assis, na Porciúncula e, a partir dali, Assis e o mundo ganham um modo fascinante e próprio de encarnar o Evangelho. A gentil dama assisiense diz adeus aos projetos da família biológica, às ofertas do mundo, à sua beleza e aos dotes matrimoniais, à riqueza, ao palácio, castelo e nobreza, à presença na sociedade de Assis, e vai, com sensibilidade e coragem indomável, seguir os caminhos do Senhor numa nova família espiritual.

Esta escolha juvenil teve as marcas da fidelidade por quarenta anos.
Na sua adolescência e juventude, antes de seguir radicalmente o Evangelho, Clara já acolhia, atendia, cuidava e nutria enfermos, pobres e leprosos. Distribuía sorrisos, presença, sopa, ataduras e aquele modo feminino de aliviar as misérias de então. Era uma mulher destinada às cortes e aos príncipes mas que encontrou tempo para os que estão fora do status e da riqueza.

Esta bela mulher funda uma ordem de intercessoras. Passou a viver para orar pela igreja e ser pobre. Na pobreza de depender só de JESUS.

Ela é a fundadora da Segunda Ordem Franciscana, as Damas Pobres, as Reclusas de São Damião, as Damianitas, enfim as Clarissas.

Quem tem uma vida concreta arrasta atrás de si seguidoras: Inês e Beatriz, suas irmãs de sangue, sua mãe Ortolana, cinqüenta Irmãs naquele primeiro Mosteiro de Assis e muitas outras Irmãs Clarissas espalhadas pelo mundo.

Quem são as Clarissas? Vamos buscar a resposta nas Fontes primitivas:


Clara e suas irmãs tiveram a coragem de centrar toda a energia do amor no Único Esposo, um amor incondicional, um amor de intimidade; que encontram na oração e na contemplação os canais mais convergentes para o Divino; na quietude e na solicitude, na fraternidade e na atividade, na minoridade e na benignidade, a tarefa de amar e servir.

Seu grande ministério na Igreja de Cristo foi largar todo o mundo e viver para Deus como intercessora. Que Deus levante intercessores que se dediquem de tempo integral para a restauração da igreja e preparação para a volta de JESUS. Intercessoras apaixonadas por Cristo como nosso irmã Clara de Assis.


EDSON CORTASIO SARDINHA

Baseado no texto de Frei Vitório in http://carismafranciscano.blogspot.com/2009/08/santa-clara-de-assis.html

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A Festa Ágape


O Encontro de Francisco e Clara

A Festa Ágape

Algumas igrejas cristãs, como a metodista, relembram a festa primitiva chamada Festa ágape. Hoje no ritual metodista temos um roteiro para esta graciosa celebração com Pão e Água.

Francisco também teve sua Festa ágape com Clara.

Francisco já havia feito um caminho de seis anos após a sua conversão quando recebeu Claro no seu ministério.

Assim escreveu Omer Englebert, em sua “Vida de São Francisco de Assis”: "Clara possuía grande bom senso, um coração afetuoso e fiel, uma doce e prudente obstinação, uma coragem que não recuava diante de nada. Tinha o dom de fazer-se amar e era tão persuasiva que Francisco, os cardeais e os papas acabavam cedendo ao seu parecer (...). Clara é uma crente de Jesus com as características mais nobres e encantadoras de que a história tem notícia.

Francisco deixou Clara caminhar e descobrir sua própria experiência com Deus. Clara foi morar em São Damião e ali viver de oração e santidade. Criou um ministério de intercessão integral. Francisco não foi muito a São Damião respeitando sempre a caminhada de Clara.

Omer Englebert diz: "Se, por vários anos, Francisco deixou de percorrer com a mesma assiduidade de antes o caminho que leva da Porciúncula a São Damião, foi sobretudo para instrução dos seus: "Não penseis, dizia aos que o censuravam, que meu amor por irmã Clara e suas companheiras tenha diminuído, mas é que devo servir-vos de exemplo. O ministério das irmãs somente devem exercê-lo aqueles que tenham demonstrado, através de longa experiência, possuir o espírito de Deus".

Um dia consentiu em convidar Clara para um jantar em Santa Maria dos Anjos. Tratava-se de um favor que Clara há tempo procurava em vão obter. Confiou sua causa aos amigos mais caros de Francisco, que também eram seus, os quais lhe disseram: - É excessivo e contrário à caridade divina o rigor com que recusas atender ao desejo de Clara, virgem tão piedosa e cara ao Senhor. Não esqueças que, afinal, ela é tua plantinha espiritual e que foram tuas exortações que a tiraram das ilusões do século.

- Então, pensais que devo jantar com ela?


- Seguramente! E ainda que te pedisse muito mais, tu devias lho conceder.


- Pois bem, se este é vosso parecer, concordo convosco. E para que seja maior o contentamento de nossa irmã Clara, tomaremos a refeição aqui na Porciúncula. Pois há muito tempo que ela vive reclusa em São Damião e nada poderá agradar-lhe mais do que rever o lugar de seus esponsais com o Senhor.


No dia combinado, Clara chegou acompanhada de outra irmã. Reviveu com carinho seus primeiros passos de consagração integral a Deus.

Francisco, que, segundo seu costume, fizera servir a mesa sobre o chão, sentou ao lado dela; os demais tomaram seus respectivos lugares e todos se dispuseram a comer. Mal, porém, haviam tomado os primeiros bocados, Francisco se pôs a falar de Deus e todos foram arrebatados em êxtase.

Logo, uma multidão acorreu ao convento. Eram habitantes de Assis, de Bettona e arredores que, vendo chamas sobre o bosque, acreditavam ter irrompido um grande incêndio em Santa Maria dos Anjos, e vinham para apagá-lo. Mas puderam constatar que não havia dano algum. Quando, ao entrar na sala do banquete, encontraram Francisco e os demais comensais com as mãos juntas e os olhos fixos no céu, compreenderam que as chamas que pensaram ver eram as da Unção de Deus que ardiam sobre aqueles crentes. Os habitantes de Assis retiraram-se edificados e confortados.
O documento biográfico intitulado “Fioretti” diz que foi tal a abundância de consolações espirituais, que Francisco, Clara e os demais irmãos mal tocaram nos alimentos, e vários deles não provaram sequer bocado.


O amor de Francisco e Clara era intenso. Eram irmãos na fé. Fortaleciam-se com palavras de poder e unção. Por isso, nas horas de desalento, lutas e de trevas, encontramos Francisco “regressando aos humildes muros de São Damião, berço de sua vocação, para buscar junto à sua filha espiritual o consolo e a confiança de que necessitava”.

“Francisco e Clara ensinam para nós que o humano se define em relações. Encontrar-se é dividir e transmitir o fervor existencial que contagia o coração. O encontro puro e límpido de Clara e Francisco está dentro de uma forte vivência, por isso é um dom gracioso. O forte Amor pelo mesmo Amado aprofunda o encontro e coloca os dois nos acontecimentos do cotidiano com maior profundidade. Isso é que ilumina o silêncio, a fala, a mesa, o fato. A chama do Amor se debruça sobre a cena para comemorar a experiência do encontro; não é só um encontro que ilumina, mas que acende”. (Vitório Mazzuco Filho[1]).


EDSON CORTASIO SARDINHA


[1] http://www.franciscanos.org.br/carisma/frei_vitorio/clara_francisco.php

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Francisco de Assis e João Wesley

“O mundo é o meu convento”
Francisco de Assis


“O mundo é a minha paróquia” .
João Wesley


Rev. Edson Cortasio Sardinha[1]

Introdução:

Os homens usam métodos. Deus usa homens (e mulheres) (T.L.O).

Francisco e Wesley foram pessoas tremendamente usadas por Deus.

Tiveram muitas coisas em comum apesar de viveram em países diferentes, em épocas diferentes e em culturas cristãs diferentes. (Francisco é da Idade Média. Wesley é do final da Idade Moderna). Mas para muitos, falar da semelhança entre Francisco de Assis e João Wesley é totalmente impossível. Não existe comparações. A não ser o primeiro nome: Giovani (italiano) e John (ingles). Ambos se chamavam João.

Contudo, desejo apresentar alguns pontos que demonstram uma linha de atuação comum entre esses dois homens de Deus: Francisco e Wesley foram homens “levantados por Deus, não para fundar uma nova seita, mas para transformar o mundo, pricipalmente e Igreja”. Foram homens que marcaram suas gerações. Foram instrumentos de Deus em suas situações históricas concretas. Foram homens usados por Deus. Homens que marcaram o nosso mundo e a história da Igreja. É impossível estudar a história eclesiástica sem fazer referência a estes dois homens.

Hoje Deus não tem mais Francisco, nem Wesley.

Quem deseja ser “instrumento da paz” de Cristo nos dias de hoje?

Com a história destes homens poderemos reler nossa própria história e adquirir coragem de Deus para viver, ser discípulos/as, fazer discípulos/as e transformar nosso cotidiano segundo a experiencia com o Senhor de Francisco e de Wesley.


Como protestantes e evangélicos brasileiros, temos preconceitos com o nome São Francisco de Assis. Associamos o nome a idolatria popular brasileira. Creio que precisaremos conhecer um pouco mais sobre esse santo homem de Deus e descobrir a riqueza de sua espiritualidade e exemplo de santidade.

Francisco de Assis nasceu com o nome de Giovanni Battista di Pietro Bernardone, na cidade de Assis, Itália, no Verão ou Outono - junho/dezembro de 1181 ou 1182 , e faleceu no dia 3 de Outubro de 1226. Foi leigo católico romano, fundador do Movimento de santidade e avivamento chamado de "Ordem dos Frades Menores". O movimento ficou conhecido posteriormente como Franciscanismo.

João Wesley nasceu em Epworth, Inglaterra, no dia 17 de junho de 1703Londres, e faleceu no dia 2 de março de 1791. Foi clérigo anglicano e fundador do Movimento de Santidade e Avivamento chamado de movimento metodista. O movimento se transformou posteriormente em Igreja Metodista.

Francisco e os Franciscanos e Wesley e os Metodistas foram homens e movimentos dirigidos por Deus para transformar a Igreja e auxiliá-la a retornar ao seu amor original a Cristo.

Tanto Francisco quanto João Wesley nunca deixaram suas amadas igrejas. Foram críticos, denunciaram o pecado, viveram radicalmente para Cristo, mas não deixaram suas igrejas de origem. Francisco não deixou de ser católico, apesar dos grandes problemas que o catolicismo medieval estava enfrentando. Wesley não deixou de ser anglicano, apesar de todos os problemas internos da igreja anglicana. Ambos foram perseguidos, incompriendidos, mas avançaram na Visão de Deus para suas vidas e marcaram suas gerações.


Conhecendo um pouco Francisco de Assis

Existem algumas lendas (melhor legendas) relacionadas a Francisco. Mas sabemos que esse homem de Deus foi filho de Pietro Bernadone dei Moriconi e da nobre Pica Bourlemont. Nasceu numa família da burguesia emergente da cidade de Assis que, graças as atividades de comercio na França (Provenza), conquistou riqueza e bem estar.

Francisco foi batizado com o nome de Giovanni (em homenagem ao apóstolo João). O pai decidiu mais tarde trocar o seu nome para Francisco, em honra a França, a que ele atribui o sucesso de sua atividade comercial a qual lhe trouxe fortuna e também porque sua esposa era do Sul da França. Alguns acreditam que Francisco teve esse nome como apelido de infância, pois além de falar o italiano, falava também o francês que aprendeu com sua mãe. Francisco significa pequeno francês.

Em 1202 ocorreu a Guerra civil entre Perúsia e Assis. Os soldados de Assis foram vencidos em Collestrada. Francisco, com 20 anos, passou um ano preso em Perúsia. Foi Resgatado pelo pai. Estava muito doente.

Foi na Perúsia que Francisco teve seu primeiro encontro com a Bíblia: Um Novo Testamento traduzido por um “herege”, em sua língua vulgar. Francisco lê e entende. Sua doença durou até 1204. Deus já estava trabalhando em seu coração. Entre 1204 e 1205, Francisco parte novamente para a guerra da Apúlia, no sul. Em Espoleto Francisco recebe uma visão e mensagem de Deus e volta para Assis. Agora começava novamente sua conversão gradual.

Em 1205 Francisco recebe uma mensagem de Deus quando visitava sozinho a Igreja de São Damião, fora dos muros de Assis. JESUS lhe falou:Vai e restaura minha igreja que está em ruínas”.

Francisco deseja agora servir só a Deus e inicia um conflito com seu pai. Começou a pegar os bens da família e lançar aos pobres. Vendeu alguns tecidos para conseguir restaurar a Igreja de São Damião. Seria um refúgio para os pobres.

Em janeiro de 1206 é levado pelo pai perante o bispo Dom Guido II. Ali Francisco renuncia os bens, a herança do pai e o próprio sobrenome. Entrega tudo ao pai e sai nu. Nesse mesmo ano começa seu trabalho de evangelização e cuidado com os leprosos em Gúbio, perto de Assis.

Com roupas de eremita, começa a reparação da capela de São Damião. Conseguiu restaurar três igrejas: São Damião, São Pedro e Santa Maria dos Anjos ou Porciúncula.

No dia 24 de fevereiro de 1208 Francisco escuta o Evangelho da missa de São Matias, na Porciúncula, sobre a missão apostólica. Possivelmente a leitura de Mateus 10. Muda as vestes de eremita e passa a usar as de pregador ambulante e descalço. Inicia seu trabalho de pregação missionária.

Finalmente no dia 16 de Abril de 1209, funda com doze discípulos, a família dos doze irmãos menores, que viria a ser conhecida como a Ordem dos Frades Menores.

Francisco havia escrito breve Regra e vai a Roma com os seus discípulos. Obtém a aprovação do Papa Inocêncio III, só oralmente. Seria esta a primeira Regra que foi perdida. Na volta passam por Orte e se estabelecem em Rivotorto perto de Assis, num rancho abandonado.

O Grupo de Discipulado de Francisco cresceu com o passar dos anos. Em 1219 houve uma grande expansão para a Alemanha, Hungria, Espanha, Marrocos e França. Neste mesmo ano Francisco vai em missão para o Oriente. Durante sua ausência, vigários modificam algumas regras da Ordem e no mesmo ano de 1219, Francisco se demite da direção da Ordem.

Com o crescimento da Ordem, quase 5.000 discípulos em 1221, uma nova regra foi escrita por Francisco em 29 de novembro de 1223 que foi aprovada pelo papa Honório. É a que vigora até hoje.

Os últimos escritos de Francisco são entre 1225 e 1226, dentre eles o Cântico das Criaturas e o Testamento. Nestes mesmos dois anos, Francisco vai a vários lugares da Itália para tratar de suas vistas. Passa por diversas cirurgias e morre aos 03 de outubro de 1226, num sábado, com 45 anos.

A Missão de Francisco nunca foi reformar a Igreja de pedras, mas Reformar a Igreja de Cristo que estava em ruínas espirituais. A forma de condenar a corrupção do clero e o desprezo da sociedade pelos pobres foi, mesmo sendo rico, abandonar tudo e abraçar a pobreza como ideal de vida. Não via virtude na pobreza, mas desejou ser pobre como JESUS e viver uma vida de santidade, discipulado e pregação.


A Experiência de Wesley em sua geração.

522 anos depois de Francisco, nasceu João Wesley.

Wesley viveu na Inglaterra do século XVIII, numa sociedade trasnformada e doente pela Revolução Industrial, onde crescia em muito o número de desempregados. A Inglaterra estava cheia de mendigos itinerantes, políticos corruptos, vícios e violência generalizada. O cristianismo, em todas as suas denominações, estava definhando e necessitava de uma Reforma. A Igreja estava em ruínas semelhante a igreja da época de Francisco.

Ao invés de influenciar o mundo, o cristianismo estava sendo influenciado pela sociedade pagã. João Wesley não se conformava com esse estado paralisante da religião cristã. Foi o décimo terceiro filho do ministro anglicano Samuel e de Susana Wesley. Nasceu a 17 de junho de 1703, em Epworth na Inglaterra.

Como já descrevemos, o pai de Francisco era um rico comerciante, pouco preocupado com a religião, apesar de ser católico praticante. Sua mãe, dona Pica, foi a grande influência na Vida de Francisco.

João Wesley, por sua vez, foi neto e filho de pobres pastores anglicanos. Mas devido às atividades pastorais do seu pai, Reverendo Samuel, Wesley não teve a devida assistência paterna. Susana, sua mãe, assumiu a administração financeira da família e a educação dos filhos e filhas. Disciplinava com rigidez os filhos, mantendo horário para cada atividade e reservando um tempo de encontro com cada filho para conversar, estudar e orar.

Tanto Francisco quanto Wesley tiveram como referência a influência cristã de suas mães. Mas Wesley teve, desde a infância, uma inclinação para a ação de Deus em sua vida.

Ainda na infância, João Wesley foi o último a ser salvo, de forma miraculosa, em um incêndio que destruiu toda sua casa, onde estivera preso no segundo andar. A partir desse dia, Susana, sua mãe, dedicou-lhe atenção especial, pois entendeu que Deus havia poupado sua vida para algo muito especial.

Aos cinco anos de idade, Susana Wesley começou a alfabetizar João, usando o livro dos Salmos como apostila. João estudou com sua mãe até os 11 anos. Entrou, então, para uma escola pública, onde ficou como aluno interno por seis anos. Aos 17 anos, foi para a Universidade de Oxford.

Em Oxford onde começa a se reunir com um grupo de estudantes para meditação bíblica e oração, sendo conhecidos pelos colegas universitários de "Clube Santo",

Wesley não inventou o nome Metodista. Os alunos de Oxford, notando que os membros do grupo tinham horário e método para tudo que faziam, os taxaram como “metodistas.

Neste grupo Wesley e seu irmão Carlos iniciaram um trabalho de visista e evangelismo nos presídios. Wesley passou então a se interessar mais pela questão social de seu país, ou seja, se voltou para a miséria que a Inglaterra vivia na época. Wesley graduou-se em Teologia, e ajudou seu pai na direção da Igreja Anglicana.

Com 32 anos, ouviu a necessidade de missionários na Virgínia, Nova Inglaterra. Foi aos EUA para "evangelizar os índios" sendo praticamente fracassado. Em sua viagem de retorno expressa sua frustração: "fui à América evangelizar os índios, mas quem me converterá?".

Durante uma tempestade na travessia do Oceano Atlântico, Wesley ficou impressionado com a espiritualidade de um grupo de morávios (grupo de cristãos pietistas que buscavam a conversão pessoal mediante o Espírito Santo) a bordo do navio. A fé que tinham diante do risco da morte (o medo de morrer acompanhava Wesley constantemente durante a sua juventude) predispôs Wesley à fé evangélica dos morávios. Retornou à Inglaterra em 1738.

Após 2 anos, volta desiludido com o trabalho realizado na Virgínia. Encontra-se, então, com Pedro Böhler, em Londres. Böhler era pastor moraviano (da Morávia, Alemanha) e com ele João Wesley se convence de que a fé é uma experiência total da vida humana.

Após esse encontro João Wesley procurou libertar-se da religião formalista e fria para viver, na prática, os ensinos de Jesus.

No dia 24 de maio de 1738, na rua Aldersgate, em Londres, numa pequena reunião, ouvindo a leitura de um comentário escrito por Martinho Lutero, sobre a carta aos Romanos, João sente seu coração se aquecer. Experimenta grande confiança em Cristo e recebe a segurança de que Deus havia perdoado seus pecados.

Nos 50 anos seguintes, Wesley pregou uma média de três sermões por dia; a maior parte ao ar livre. Houve uma vez que pregou a cerca de 14.000 pessoas. Milhares saíram da miséria e da imoralidade. João Wesley e seu irmão Carlos deram a religião cristã um novo sentido de alegria e vida.

Francisco também em sua geração fez uma opção de pregar aos leprosos e evangelizar os pobres. Reconstruiu a Igreja de São Damião para acolher os excluídos da igreja de Assis. Wesley, por sua vez, como não havia muitas oportunidades na Igreja Anglicana, passou a pregar aos operários em praças, minas de carvão e salões.

Com relação ao discipulado, Francisco organizou o movimento em grupos pequenos de dois em dois. Sua primeira formação foi de 12 discípulos. Demorou um ano de reunir estes discípulos.

Wesley também, influenciado pelos moravianos, organizarou pequenas sociedades e classes dentro da Igreja da Inglaterra, liderados por leigos, com os objetivos de compartilhar, estudar a Bíblia, orar e pregar. Essas classes cresceram aos milhares.

Apaixonado por Cristo, Wesley andava por toda a parte a cavalo pregando o Evangelho do Senhor Jesus. Calcula-se que, em 50 anos, Wesley tenha percorrido 175 mil quilômetros e pregado 40 mil sermões, com uma média de 800 sermões por ano.

Francisco pregou o Evangelho do Senhor por vários países da Europa e fez missões entre os mulçumanos e cristãos que estavam nas Cruzadas para retomar Jerusalém. Levou a paz de Cristo numa terra sem paz. Saiu decepcionado com os cristãos e foi acolhido pelos mulçumanos. Eles viram nas atitudes e simplicidade de Francisco, a pessoa de Cristo.


Franciscanos e Wesleyanos:

Movimetos de Santidade

  • Francisco não gostava da nomeclatura “Franciscano”. Preferia o nome “Imãos Menores”. Wesley também não adotou o nome de Wesleyano para o seu movimento. Com relação ao nome metodista chegou a dizer: “Eu ficaria contente se o próprio nome metodista não voltasse a ser mencionado jamais e fosse sepultado em eterno esquecimento”.

  • Francisco renunciou a liderança de sua própria Ordem. Wesley também disse: “Pouca é a minha ambição de ser o cabeça de uma nova seita ou partido”.

  • Francisco viveu a conversão na prática. Lutou para poder viver o Evangelho no cotidiano e praticar literalmente o Evangelho do Senhor Jesus. Wesley também ensinava que a conversão a Jesus é comprovada pela prática, e não pelas emoções do momento.

  • Francisco reuniu 12 discípulos e deu início ao seu movimento de Reforma. Valorizou os pregadores leigos. O movimento franciscano ficou organizado em: 1) Irmãos Menores (Primeira Ordem) que saiam pelo mundo de dois a dois pregando o Evangelho (maioria leigos); 2) Ordem das Clarissas (Segunda Ordem). Liderada por Clara que ficou num convento em São Damião e iniciou um movimento de oração e intercessão pelos Menores e pela Reforma e Santidade da Igreja, e a 3) Ordem Secular (Terceira Ordem) foi formada por irmãos e irmãs que viviam o Evangelho de Jesus no cotidiano secular e sustentava a missão dos Menores pelo mundo. Francisco, como leigo, pregava para multidões e exortava a conversão na prática valorizando o trabalho leigo. Wesley também valorizou os pregadores leigos que participavam lado a lado com os clérigos da Missão de evangelização, assistência e capacitação de outras pessoas.

  • Francisco ressaltava a importãncia da relação pessoal com o Cristo. Questionado sobre o conhecimento teológico, ele disse, perto de sua morte: “Não preciso conhecer mais nada. Já descobrir que meu pobre Jesus Cristo morreu na Cruz”. Wesley também afirmava que o centro da vida cristã está na relação pessoal com Jesus Cristo. “É Jesus quem nos salva, nos perdoa, nos transforma e nos oferece a vida abundante de comunhão com Deus”.

  • Francisco foi convidado a viver como monge. Alguns padres e bispos acharam que a vontade de Deus para Francisco fosse a vida contemplativa isolada do mundo, num mosteiro. Clara só ficou isolada no convento por causa das exigencias sociais e preconceitos da época. Francisco queria viver o Evangelho com o próximo, na vida, nas ruas, junto dos necessecitados e emprobrecidos. Wesley também reconheceu a necessidade de se viver o Evangelho comunitariamente no mundo. João Wesley afirmou com relação a vida contemplativa e isolada que "tornar o Evangelho em religião solitária é, na verdade, destruí-lo".

  • Francisco se preocupou com os leprosos e pobres. Não apenas investia em suas vidas espirituais, mas cuidava dos enfermos e recolhia comida para os pobres. Wesley também se peocupou com o ser humano total. Para Wesley, os seguidores de Cristo devem cuidar do próximo integralmente, principalmente dos necessitados e marginalizados sociais.

  • Francisco foi ao Papa solicitar a autorização para viver o Evangelho e pregar o Evangelho. Não desejava ser rico. Desejava apenas poder comunicar o Evangelho ao próximo, pricipalmente os excluídos da igreja. Wesley também enfatizou a paixão pela evangelização. Dizia: “Desejamos e devemos trabalhar com paixão, perseverança e alegria para que o amor e a misericórdia de Deus alcancem homens e mulheres em todos os lugares e épocas”.

  • Francisco não rompeu com sua igreja. Até porque isso poderia lhe levar a morte como herege. Mas também porque tinha um grande amor pela igreja. Não desejou destruí-la, mas transformá-la. O movimento Franciscano primário foi um movimento de Santidade e renovação dentro da Igreja medieval. Weley também não deixou sua amada igreja Anglina. Morreu anglicano. Não sonhava em fundar uma nova seita (denominação cristã). Seu sonho era transformar a igreja através da vida em santidade.

  • Francisco conhecia, que em Cristo, ele tinha poder de Deus para ser testemunha e instrumento para a transformação dos homens. A experiência com Deus tirava todo o medo. Francisco dizia: “O que você tem a temer? Nada. Quem você precisa temer? Ninguém. Por quê? Porque aqueles que se unem a Deus obtêm três grandes privilégios: onipotência sem poder, embriaguez sem vinho e vida sem morte." Francisco cria que a verdadeira vida Cristã está na mudança de vida e no relacionamento com o próximo. Palavras somente não convenciam Francisco. Ele dizia: "Já foi o tempo em que acreditei em palavras." Wesley também pregava a necessidade de uma experiência pessoal com Deus. Sua experiência pessoal com Deus poderia ser intrumento para atrair novas vidas a Cristo. Ele dizia: "Eu me coloco em chamas, e o povo vem para me ver queimar."

  • Francisco abalou o mundo de sua época e até hoje seu testemunho é uma influência positiva nas vidas dos cristãos. Foi considerado a maior personalidade do segundo milênio, segundo uma pesquisa da Time. Wesley também é considerado por diversas igrejas cristãs, como um ícone que restaurou a necessidade da experiência de santidade e a evangelização intergal. Wesley conhecia o poder de Deus que pode transforamr o mundo através do testemunho. Wesley dizia: "Dai-me cem homens que nada temam senão o pecado, e que nada desejam senão a Deus, e eu abalarei o mundo."

  • Francisco não aceitou ficar preso a um convento. Ele disse: “O mundo é o meu convento”. Wesley também não aceitou ficar preso a uma paróquia. Após ser impedido de pregar na igreja de seu pai, Wesley disse: "o mundo é a minha paróquia".

  • Para Francisco Deus era seu tudo: "Meu Deus é meu tudo." Todoas as pessoas e toda a criação de Deus precisam ser amadas e respeitadas: Francisco dizia: "Todas as coisas da criação são filhos do Pai e irmãos do homem. Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda. Toda criatura em desgraça tem o mesmo direito a ser protegida." Na obra de Deus e na relação com o próximo, Francisco dizia: "Comece por fazer o que é necessário, depois o que é possível e, de repente, estará a fazer o impossível." "Devemos aceitar com serenidade as coisas que não podemos modificar, ter coragem para modificar as que podemos e sabedoria para perceber a diferença.” Wesley também via como obrigação espiritual e moral estender a mão para o próximo que sofre e carece do nosso auxílio. Wesley dizia: "Faça todo o bem que puder, de todas as formas, a todas as pessoas, enquanto for possível."



Conclusão:

Tanto Francisco quanto Wesley foram instrumentos de Deus para a sua geração. Desejamos ser instrumentos de Deus para a nossa geração?

Como metodistas, devemos ver e aprender com a caminhada de cristãos e cristãs da história da Igreja. Aprender com Wesley e aprender com outros irmãos e irmãs que viveram e testemunharam a santidade bíblica. O próprio Wesley valorizava a tradição cristã e o testemunho deixado por discípulos e discípulas na história da igreja.

Podemos hoje ler a história da igreja sem preconceitos e sem medo. Não importa se o/a discípulo/a de Deus foi ortodoxo, católico, protestante ou pentecostal. Importa como ele foi aos olhos de Deus. Como dizia Francisco: "Um ser humano vale o que ele é aos olhos de Deus e nada mais."

Com amor. Paz e Bem. Graça e Paz.

Irmão Edson.

Bibliografia usada e recomendada:

  • LEITE, Deodato Ferreira. Francisco Cantor da Paz e da Alegria. São Paulo: paulinas, 1964.
  • LELIÈVRE, Mateo. João Wesley. Sua vida e Obra. São Paulo: Vida, 1997.
  • LARRAÑAGA, Inácio. O Irmão de Assis. São Paulo: paulinas, 2007.
  • HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado Metodista. Rio de Janeiro: Pastoral Bennett, 1996.
  • SILVEIRA, Frei Ildefonso. Org. São Francisco de Assis. Escritos e biografias de São Francisco de Assis, Crônicas e outros Testemunhos do primeiro século franciscano. 9ª Edição. Petrópolis: Vozes, FFB, 2000.
  • BURTNER, Robert, CHILES, Robert. Coletânia da Teologia de João Wesley. Rio de Janeiro: Pastoral Bennett, Igreja Metodista, 1995.
  • ALVES, Mary Emmanuel. São Francisco de Assis. São Paulo: Paulinas, 2008.
  • JENNINGS, Daniel R. The Supernatural Occurrences of John Wesley, Oklahoma City: SEAN Multimedia, 2005.

[1] Presbítero Metodista – 1ª Região – servindo aos Campos Missionários da Amazônia (REMA).

Pedagogo (Universidade Federal de Rondônia –Ji-Paraná – RO), Especialista em Ciência da Religião (I. M.Bennett – Rio de Janeiro - RJ), Pastoral Urbana (UBL – San José - Costa Rica) e Liturgia e Artes Sacras (Instituto Franciscano de Petrópolis – Petrópolis - RJ). Membro da OASF. edsoncortasio@hotmail.com