Confraternização
Mesa de Natal
CAPÍTULO 30. Prepara um presépio no dia de Natal
84. Sua maior aspiração, seu mais vivo desejo e mais elevado propósito
era observar o Evangelho em tudo e por tudo, imitando com perfeição, atenção,
esforço, dedicação e fervor os "passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no
seguimento de sua doutrina".
Estava sempre meditando em suas palavras e recordava seus atos com muita
inteligência.
Gostava tanto de lembrar a humildade de sua encarnação e o amor de sua
paixão, que nem queria pensar em outras coisas.
Precisamos recordar com todo respeito e admiração o que fez no dia de
Natal, no povoado de Greccio, três anos antes de sua gloriosa morte.
Havia nesse lugar um homem chamado João, de boa fama e vida ainda melhor,
a quem São Francisco tinha especial amizade porque, sendo muito nobre e honrado
em sua terra, desprezava a nobreza humana para seguir a nobreza de espírito.
Uns quinze dias antes do Natal, São Francisco mandou chamá-lo, como
costumava fazer, e disse: "Se você quiser que celebremos o Natal em
Greccio, é bom começar a preparar diligentemente e desde já o que eu vou dizer.
Quero lembrar o menino que nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi
posto num presépio, e contemplar com os próprios olhos como ficou em cima da
palha, entre o boi e o burro".
Ouvindo isso, o homem bom e fiel correu imediatamente e preparou no lugar
indicado o que o santo tinha pedido.
85. E veio o dia da alegria, chegou o tempo da exultação. De muitos lugares
foram chamados os irmãos. Homens e mulheres do lugar, coração em festa,
prepararam como puderam tochas e archotes para iluminar a noite que tinha
iluminado todos os dias e anos com sua brilhante estrela.
Por fim, chegou o santo e, vendo tudo preparado, ficou satisfeito.
Fizeram um presépio, trouxeram palha, um boi e um burro.
Greccio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a
pobreza e recomendando a humildade.
A noite ficou iluminada como o dia: era um encanto para os homens e para
os animais. O povo foi chegando e se alegrou com o mistério renovado em uma
alegria toda nova.
O bosque ressoava com as vozes que ecoavam nos morros. Os frades
cantavam, dando os devidos louvores ao Senhor e a noite inteira se rejubilava.
O santo estava diante do presépio a suspirar, cheio de piedade e de
alegria.
A missa foi celebrada ali mesmo no presépio, e o sacerdote sentiu uma
consolação jamais experimentada.
86. O santo vestiu dalmática, porque era diácono, e cantou com voz sonora
o santo Evangelho. De fato, era "uma voz forte, doce, clara e sonora",
convidando a todos às alegrias eternas.
Depois pregou ao povo presente, dizendo coisas doces como o mel sobre o nascimento
do Rei pobre e sobre a pequena cidade de Belém.
Muitas vezes, quando queria nomear Cristo Jesus, chamava-o também com muito
amor de "menino de Belém", e pronunciava a palavra "Belém" como
o balido de uma ovelha, enchendo a boca com a voz e mais ainda com a doce
afeição. Também estalava a língua quando falava
"menino
de Belém" ou "Jesus", saboreando a doçura dessas palavras.
Multiplicaram-se nesse lugar os favores do Todo-Poderoso, e um homem de
virtude teve uma visão admirável. Pareceu-lhe ver deitado no presépio um bebê
sem vida, que despertou quando o santo chegou perto. E essa visão veio muito a
propósito, porque o menino Jesus estava de fato esquecido em muitos corações,
nos quais, por sua graça e por intermédio de São Francisco, ele ressuscitou e deixou
a marca de sua lembrança.
Quando terminou a vigília solene, todos voltaram contentes para casa.
87. Guardaram a palha usada no presépio para que o Senhor curasse os
animais, da mesma maneira que tinha multiplicado sua santa misericórdia. De
fato, muitos animais que padeciam das mais diversas doenças naquela região
comeram daquela palha e ficaram curados.
Mais: mulheres com partos longos e difíceis tiveram um resultado feliz
colocando sobre si mesmas um pouco desse feno. Da mesma sorte, muitos homens e
mulheres conseguiram a cura das mais variadas doenças.
O presépio foi consagrado a um templo do Senhor e no próprio lugar da
manjedoura construíram um altar em honra de nosso pai São
Francisco e
dedicaram uma igreja, para que, onde os animais já tinham comido o feno,
passassem os homens a se alimentar, para salvação do corpo e da alma, com a
carne do cordeiro imaculado e incontaminado, Jesus Cristo nosso Senhor, que se
ofereceu por nós com todo o seu inefável amor e vive com o Pai e o Espírito
Santo eternamente glorioso por todos os séculos dos séculos. Amém.
Aleluia,
Aleluia.
Termina aqui o primeiro livro da vida e atos de São Francisco.
O que você deseja destacar neste
texto?
Como este texto pode servir para
sua espiritualidade cristã?
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