Ir. Edson Cortasio
Sardinha
Partes 6
Consolidação do
Ministério
6. Consolidação do Ministério
Francisco teve que retornar a Roma
por causa da Ordem dos Frades Menores e desejou falar com o Papa Honório
e os Cardeais. Sabendo disso, Dom Hugolino, bispo de Óstia, ficou
preocupado, pois sabia que Francisco era uma pessoa muito simples; apesar
disso, o apresentou ao Papa e aos Cardeais. Diante de todos, Francisco teve
oportunidade de falar com intrepidez: falava com tanto fervor, que se movia com
os pés como se estivesse dançando. Isso levou a todos a uma comoção. Dom
Hugolino permaneceu em oração e preocupado, pois tinha grande admiração por
Francisco. Foi nesta ocasião que Francisco se encontrou com São Domingos
e ambos conversaram sobre suas Ordens:
Depois
de terem conversado coisas muito agradáveis a respeito de Deus, disse-lhes o
bispo (Dom Hugolino): ‘Na Igreja primitiva, os pastores da Igreja eram homens
pobres e transbordavam de caridade, não de cobiça. Por que não fazemos bispos e
prelados os vossos frades que se destacam entre os outros pela doutrina e pelo
exemplo?’ Surgiu, então, entre os dois santos [Domingos e Francisco],
uma porfia, não para ver quem respondia primeiro, mas porque um cedia ao outro
a honra e, assim, queria obrigá-lo a responder antes. Na realidade,
superavam-se numa competição de mútua veneração. Por fim, a humildade venceu
Francisco, para que não se oferecesse, e também venceu Domingos para que,
respondendo primeiro, obedecesse humildemente. Disse, pois, o bem-aventurado
Domingos ao bispo: ‘Senhor, meus frades já foram promovidos a um bom grau, se o
souberem reconhecer, e, se depender de mim, não permitirei que assumam outro
tipo de dignidade’. Depois que ele fez esse breve discurso, São Francisco se
inclinou diante do bispo e disse: ‘Senhor, meus frades têm o nome de menores
para não presumirem ser maiores. Sua vocação ensina-os a ficar embaixo,
seguindo os vestígios de Cristo, e, dessa maneira, na glorificação dos santos,
serão mais exaltados que os outros. Se queres que produzam fruto na Igreja de
Deus, conservai-os no estado de sua vocação. Reduzi-os ao chão, mesmo contra
sua vontade. Por isso, pai, eu vos
suplico: para que não sejam tanto mais soberbos quanto mais pobres, nem
insolentes com os outros, de maneira alguma permitais que sejam promovidos a
prelaturas’ (2Cel 148.2-11).
Como se percebe na transcrição
acima, Francisco tinha uma grande preocupação com os pobres, por amor ao
Senhor: chegava a pedir roupas e peles aos ricos para dar aos pobres. Também
tinha um carinho especial pelas ovelhas, pois elas representavam,
simbolicamente, o Ministério do Senhor Jesus: por duas vezes, comprou ovelhas
que estavam para ser vendidas ou eram maltratadas; uma delas ele doou ao bispo,
que a encaminhou para um convento, e, a outra, ele comprou e pediu ao próprio
dono para nunca mais vendê-la...
Portanto, Francisco tinha um grande amor por todas as criaturas, por
causa do Criador:
Ao
ver o sol, a lua, as estrelas e o firmamento, enchia-se, muitas vezes, de
alegria admirável e inaudita. Piedade simples, simplicidade piedosa! Tinha um
amor enorme até pelos vermes, por ter lido sobre o Salvador: ‘Sou um verme e
não um homem’. Recolhia-os, por isso, no caminho, e os colocava em lugar
seguro, para não serem pisados pelos que passavam (1Cel 29.80).
Tudo na criação lhe falava de Jesus:
tinha, assim, uma cosmovisão cristocêntrica – tudo conduzia a Cristo.
Que
alegria a sua diante das flores, ao admirar-lhes a delicada forma ou aspirar o
suave perfume! Passava, imediatamente, a pensar na beleza daquela flor, que
brotou da raiz de Jessé, no tempo esplendoroso da primavera e, com seu perfume,
ressuscitou milhares de mortos. Quando encontrava muitas flores juntas, pregava
para elas e as convidava a louvar o Senhor, como se fossem racionais. Da mesma
maneira, convidava, com muita simplicidade, os trigais e as vinhas, as pedras,
os bosques e tudo o que há de bonito nos campos, as nascentes e tudo o que há
de verde nos jardins, a terra e o fogo, o ar e o vento, para que tivessem muito
amor e louvassem, generosamente, ao Senhor. Afinal, chamava todas as criaturas
de irmãs, intuindo seus segredos de maneira especial, por ninguém
experimentada, porque, na verdade, parecia já estar gozando a liberdade
gloriosa dos filhos de Deus. Na certa, ó bom Jesus, ele, que, na terra, cantava
o vosso amor a todas as criaturas, estará, agora, a louvar-vos nos céus com os
anjos, porque sois admirável (1Cel 29.81. 3-5).
Francisco tinha, também, profunda
devoção pelo Nome do Senhor e pelas Sagradas Escrituras: “É impossível
compreender o quanto se comovia, quando pronunciava Vosso Nome, Senhor Santo!
Parecia um outro homem, um homem de outro mundo, todo cheio de júbilo e do mais
puro prazer” (1Cel 29.80). Cuidava de tudo para que o Nome do Senhor não fosse
blasfemado: tudo o que possuía o Nome do Senhor, ele recolhia e guardava, para
que o Senhor não fosse blasfemado: até mesmo textos de grupos considerados
hereges – como, por exemplo, os Valdenses –, Francisco recolhia com muito
temor, pois ali estavam porções das Escrituras.
Francisco era um homem cheio da
graça do Senhor: sua beleza era espiritual. Tomás de Celano escreve detalhes
sobre sua aparência física:
Era
de estatura um pouco abaixo da média, cabeça proporcionada e redonda, rosto um
tanto longo e fino, testa plana e curta; olhos nem grandes nem pequenos, negros
e límpidos; cabelos castanhos; pestanas retas; nariz proporcional, delgado e
reto; orelhas levantadas, mas pequenas; têmporas achatadas; língua
pacificadora, ardente e penetrante; voz forte, doce, clara e sonora; dentes
unidos, alinhados e brancos; lábios pequenos e delgados; barba preta e um tanto
rala; pescoço esguio; ombros retos; braços curtos; mãos delicadas; dedos
longos; unhas compridas; pernas delgadas; pés pequenos; pele fina; enxuto de
carnes. Vestia-se rudemente, dormia pouco e era muito generoso (1Cel 29.83).
Francisco
desejava recordar a humildade do Senhor em todos os aspectos, e a Encarnação de
Jesus era, para ele, muito significativa, uma vez que simbolizava total
humildade. No dia de Natal, no povoado de Grécio, três anos antes de sua morte,
Francisco desejou encenar o nascimento de Cristo. Havia um homem chamado João,
muito amigo de Francisco, nobre e honrado, e que tinha um espírito santo e
humilde; quinze dias antes do Natal, Francisco mandou chamá-lo e disse: “Se
você quiser que celebremos o Natal em Grécio, é bom começar a preparar,
diligentemente e desde já, o que eu vou dizer. Quero lembrar o Menino que
nasceu em Belém, os apertos que passou, como foi posto num presépio; e
contemplar, com os próprios olhos, como ficou em cima da palha, entre o boi e o
burro” (1Cel 29.84). João fez exatamente o que Francisco desejava. Na noite de
Natal, vieram pessoas de vários lugares, alguns com tochas nas mãos; quando
Francisco chegou, tudo já estava preparado e ele ficou muito feliz. Fizeram um
presépio (manjedoura), colocaram palha, trouxeram um boi e um burro – a cidade
de Grécio se tornou uma nova Belém!
Os frades cantavam louvores a Deus pelo
Natal. Naquele local, foi celebrada uma missa por um sacerdote convidado, que
recebeu “uma consolação jamais experimentada” (1Cel 29.85). Francisco vestiu a
“dalmática” (porque era diácono) e cantou, com voz sonora, o santo Evangelho;
depois, pregou o Evangelho, falando do nascimento do Rei pobre, e da pequena
cidade de Belém. Parecia que Francisco via Jesus deitado no presépio! Ao
terminar a vigília, todos voltaram para casa. Muitos animais receberam curas ao
comerem dessa palha; mulheres tiveram resultado feliz em seus partos, colocando
um pouco desse feno sobre suas barrigas, e muitos homens e mulheres foram
curados (1Cel 29.87). No lugar onde foi erguido o presépio, foi construída uma
Igreja.
O que
você destaca no texto?
Como
serve para sua espiritualidade?
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