Por Ir. Rev. Edson — para a OFSE (Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos)
Francisco de Assis compôs o Cântico das Criaturas no ocaso de sua vida terrena, já marcado pela dor, quase cego e carregando em seu corpo os estigmas do Cristo Crucificado. O louvor que nasce nesse contexto não é fruto de um romantismo ingênuo, mas de uma fé pascal que transforma a dor em adoração. Em Francisco, o sofrimento não silencia a alma: torna-se cântico, torna-se evangelho vivido.
É significativo que o Cântico tenha sido escrito quando ele se encontrava enfermo em São Damião (1225), “cheio de dores nos olhos e de fraqueza no corpo”, como relata Tomás de Celano (Vita Secunda, cap. 165). E mesmo assim, “Francisco começou a louvar o Senhor pelas suas criaturas, dizendo: ‘Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas’”. O louvor brota, portanto, do meio da cruz — e é por isso que ele tem poder redentor.
A OFSE, seguindo o carisma do Pobrezinho de Assis, reconhece que o louvor verdadeiro é aquele que nasce da comunhão com o Cristo crucificado. O apóstolo Paulo escreveu: “para que eu conheça Cristo, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos” (Fp 3.10). Esse é também o caminho franciscano-evangélico: louvar não apenas quando há luz, mas quando a sombra se faz mais densa.
Martinho Lutero, em sua Teologia da Cruz (WA 5, 163), afirmou que “o verdadeiro teólogo é aquele que conhece Deus através da cruz e do sofrimento”. Francisco conheceu o Criador nas feridas do mundo. E por isso podia chamar o fogo, o vento e até a “irmã morte corporal” de irmãs suas — porque todas as coisas foram reconciliadas em Cristo (Cl 1.20).
O louvor franciscano é, portanto, profundamente evangélico e escatológico. Ele proclama, como João Wesley pregou em seu sermão Sobre a Perfeição Cristã (Sermão 40), que “a alegria perfeita não está na ausência da dor, mas na presença constante do amor de Deus”. A OFSE herda essa mística da esperança: cada irmão e irmã é chamado a cantar a fidelidade do Senhor mesmo entre as feridas da história.
Quando o servo franciscano evangélico ora e canta, ele une sua voz à do próprio Cristo, que na cruz entoou o Salmo 22. É o mesmo louvor que transforma a noite em aurora, a perda em promessa. Louvar, neste caminho, é resistir à desesperança, é confessar que a graça é mais forte que o sofrimento.
Como escreveu São Francisco: “Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor e suportam enfermidade e tribulação. Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz, pois por ti, Altíssimo, serão coroados.” (Cântico das Criaturas).
Que a OFSE continue a testemunhar, no meio do mundo ferido, este cântico que vence a dor com amor — para a glória do Altíssimo, que faz novas todas as coisas.