segunda-feira, 24 de novembro de 2025

“Preparai o Caminho do Senhor” (Is 40.3): Um Caminho Franciscano-Protestante para o Natal


“Preparai o Caminho do Senhor” (Is 40.3): Um Caminho Franciscano-Protestante para o Natal

O Advento é o tempo da espera ativa, em que a Igreja se coloca novamente sob a luz das promessas e aprende a caminhar com vigilância, humildade e esperança. Para nós, irmãos franciscanos da OFSE, este período adquire um sabor particular: é o tempo de retornar ao presépio de Greccio, onde Francisco não apenas representou o nascimento de Cristo, mas buscou “ver com os olhos do corpo as dificuldades em que se achou por falta do necessário um Menino recém-nascido” (Tomás de Celano, Vida Primeira, 84).

Francisco de Assis compreendia o Natal como a festa na qual a humildade de Deus brilha com mais força. Ele dizia:

> “Celebremos, pois, o dia em que Deus se fez nosso pequenino irmão”
(Legenda Perusina, 114).

A partir deste olhar franciscano, mas firmemente enraizado na Sagrada Escritura, nós – franciscanos protestantes da OESI – recebemos o Advento como uma escola espiritual. Aqui somos conduzidos a três movimentos essenciais:

1. Memória ― recordamos que o Verbo se fez carne (Jo 1.14).


2. Conversão/Arrependimento ― preparamos o coração para acolher o Rei humilde (Mc 1.1–3).


3. Esperança ― vivemos aguardando a manifestação final da glória de Cristo (Tito 2.13).

O teólogo franciscano Boaventura afirma que “a Encarnação é a primeira expressão da humildade do Altíssimo” (Itinerarium, I). Para nós, protestantes franciscanos, essa humildade se encontra plenamente na autoridade da Escritura e na suficiência da graça manifestada em Jesus Cristo. O Advento, portanto, não é apenas preparação litúrgica, mas uma prática de discipulado: aprender a acolher Cristo em sua mansidão, sua pobreza e sua luz.

Cinco Práticas Franciscano-Protestantes para Viver o Advento

1. Contemplar a Palavra Encarnada (Lectio Franciscana – Jo 1.1–14)

Assim como os primeiros frades reuniam-se entorno da Palavra, ocupando-se de “meditar continuamente na lei do Senhor” (Regra Não Bulada, XXII), também nós somos chamados a reservar tempo diário para ler, orar e contemplar as promessas do Advento.
Prática: ler diariamente um texto messiânico (Isaías, Salmos, Mateus 1–2, Lucas 1–2, João 1) e orar pedindo: “Senhor, faze nascer em mim a tua luz.”

2. Caminhar em Humildade e Simplicidade (Fil 2.5–11)

Francisco via na manjedoura o ícone da simplicidade do Reino. Ele ensinava:

> “O Altíssimo se fez pequeno por amor a ti; faze-te pequeno por amor a Ele.”
Prática: escolher uma atitude concreta de simplicidade: reduzir excessos, praticar generosidade, viver com propósito e gratidão.

3. Cultivar o Arrependimento e a Reorientação do Coração (Mc 1.3; Tg 4.8)

Advento é tempo de preparar o caminho. Para nós da OFSE, isso significa permitir que o Espírito realinhe nossos afetos, prioridades e hábitos. O arrependimento, na tradição reformada e na Devotio Moderna — que influenciou Tomás de Kempis — é retorno amoroso ao Deus que vem ao nosso encontro.
Prática: fazer um exame diário da alma, confessando pecados, reconciliando-se com Deus e com o próximo.

4. Praticar a Caridade Encarnação (Lc 2.7; Mt 25.40)

A manjedoura é o primeiro altar da humildade divina. Por isso, Francisco dizia que o Natal era “a festa das festas”, porque ali contemplamos a pobreza do Menino que veio enriquecer a todos (cf. 2Cor 8.9).
Prática: escolher uma ação concreta de misericórdia durante o Advento (visitar alguém, enviar alimentos a uma família, apoiar missionários, consolar um enfermo, interceder intensamente por alguém).

5. Guardar o Silêncio que Espera (Sl 62.1; Hc 2.20)

Os franciscanos sempre viram no silêncio um caminho para acolher o Verbo. A OFSE, como expressão protestante dessa espiritualidade, entende o silêncio não como vazio, mas como escuta ativa, espaço para que Cristo seja formado em nós.
Prática: adotar momentos diários de silêncio orante, sem pedidos longos, apenas disponibilidade: “Fala, Senhor, o teu servo ouve.”

Conclusão: Caminhar para Belém, Caminhar para Cristo

O Advento nos ensina a viver a fé com o coração apontado para Belém e para a Jerusalém celeste. Ele nos recorda que o Salvador veio, vem e virá.

Francisco de Assis nos convida a nos aproximarmos da manjedoura “com lágrimas de alegria”, contemplando o Deus que se aproxima. Como irmãos da OFSE, chamados à simplicidade evangélica e à intercessão contemplativa, somos enviados a viver um Advento que una doutrina bíblica, devoção profunda e prática concreta.

Que possamos, neste tempo santo, caminhar com Isaías, com os profetas, com Maria, com José, com o Poverello de Assis e com toda a Igreja do Senhor, proclamando:

“O povo que andava em trevas viu uma grande luz” (Is 9.2).

Que essa luz brilhe em nossos mosteiros, casas e corações até o Dia em que veremos o Rei em sua glória.