quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Mensagem de Natal 2025 aos irmãos e irmãs da OFSE

O presépio de Greccio foi a primeira representação viva do nascimento de Jesus, criada por São Francisco de Assis no Natal de 1223, nesta gruta da cidade italiana de Greccio.


O SANTO NATAL DO SENHOR
E A MEMÓRIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS

Aos irmãos e irmãs da OFSE

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade.”
(João 1.14)



Amados irmãos e irmãs da Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos (OFSE), aproximamo-nos do santo tempo em que a Encarnação do Filho de Deus volta a ressoar como canto vivo de esperança entre as nações. No silêncio humilde de Belém, o Deus eterno assume carne humana e revela que o caminho do Reino não se ergue pelos montes de poder, mas floresce no chão simples onde os pobres respiram, onde os mansos caminham, onde os que choram encontram consolo.

É neste horizonte que recordamos São Francisco de Assis, cuja vida, embora honrada de diversas maneiras ao longo da história da Igreja, pode e deve ser acolhida também por nós, protestantes, como testemunho vivo da centralidade de Cristo. Francisco não é modelo de mediação espiritual — pois reconhecemos um só Mediador, Jesus Cristo — mas é testemunha luminosa do Evangelho, exemplo concreto de arrependimento, simplicidade e amor ardente ao Crucificado.

Convento Franciscano em Greccio, na Província de Rieti, na Itália



1. Francisco diante do Natal: Cristo como Pobreza Encarnada

A tradição relata que, no ano de 1223, Francisco preparou em Greccio uma celebração em torno de um presépio vivo, não por mero afeto estético, mas para “ver com os olhos do corpo as dificuldades em que nasceu o Menino de Belém”. Seu intuito era profundamente cristocêntrico: recolocar Cristo no centro da fé, devolvendo ao povo a ternura e a humanidade do Salvador.

Pesquisadores como Chiara Frugoni e Jacques Le Goff observam que o gesto de Francisco foi teologicamente ousado: ao contemplar o nascimento do Senhor, ele anunciava que o Deus Altíssimo não escolheu palácios, mas um lugar pobre para nascer. Francisco reconhecia na manjedoura o mesmo Senhor que veria mais tarde suspenso na cruz — do presépio ao Gólgota, o mesmo amor descido ao mundo.

Para a espiritualidade protestante da OFSE, isso se torna convite à contemplação reverente: o Natal não é fuga emocional, mas anúncio encarnado de que o Reino chega na vulnerabilidade de Deus feito servo.




2. A Beleza que Conduz ao Arrependimento

Francisco chorava ao meditar na humildade de Cristo. Para ele, o Natal não era celebração decorativa, mas um chamado santo ao arrependimento, palavra que guardamos com zelo em nossa ordem. O Menino deitado na palha é o julgamento gracioso de Deus contra toda arrogância, contra nossa autossuficiência espiritual, contra o orgulho que obscurece o amor.

A humildade do Cristo recém-nascido é o espelho onde nossa vaidade se desfaz; é o altar onde nos rendemos; é o colo onde somos acolhidos.





3. Cinco práticas franciscanas para os irmãos da OFSE no santo Natal

À luz da história de Francisco e sob os pilares da espiritualidade da OFSE, proponho cinco práticas devocionais para este tempo santo:

1. Contemplação Cristocêntrica

Reserve diariamente alguns minutos para contemplar apenas Jesus, sua humildade, sua pobreza e sua glória. Medite especialmente nos Evangelhos da infância (Lucas 1–2; Mateus 1–2). Deixe que a beleza simples do Cristo Menino desperte adoração silenciosa.

2. Simplicidade como testemunho

Pratique, neste mês, algum gesto de voluntária simplicidade: limitar gastos, oferecer algo precioso, evitar excessos. A simplicidade não é perda, mas liberdade. Francisco nos recorda que o Natal floresce quando os pesos da vida perdem seu domínio.

3. Serviço aos pobres e feridos

Escolha conscientemente um ato de misericórdia: visitar alguém sozinho, cooperar com uma família necessitada, apoiar um ministério de acolhimento. O Cristo que nasceu entre os pobres continua a nascer onde o amor se doa.

4. Reconciliação e perdão

No espírito franciscano, ofereça perdão a quem lhe feriu, ou busque reconciliação com quem você feriu. O Natal é o tempo em que a paz verdadeira não é enfeite, mas missão.

5. Canto, louvor e beleza

Inclua na vida comunitária e pessoal algum tipo de beleza que conduz ao louvor: um cântico, um salmo, uma leitura devocional à luz de velas. A beleza é um sacramento da graça, um modo de lembrar que o Verbo encarnado veio restaurar a criação inteira.

O artista que pintou o afresco na Grotta del Presepe em Greccio é desconhecido. Acredita-se que a obra seja de um artista anônimo do início do século XV. O afresco está localizado na capela da Gruta do Presépio (Grotta del Presepe) no Santuário de Greccio, Itália. A pintura retrata a recriação do primeiro presépio vivo por São Francisco de Assis na Véspera de Natal de 1223




4. Oração devocional

Senhor Jesus Cristo,
Filho eterno do Pai,
luz que visita nossas trevas e vida que renova o mundo,
nós Te agradecemos pelo santo mistério do Teu Natal.

Que o brilho suave do Teu nascimento encontre lugar em nosso coração,
que a humildade da manjedoura nos ensine o caminho da simplicidade,
que o Teu amor desarmado nos conduza ao arrependimento sincero,
e que, como Francisco, possamos ver em Ti
a doçura do Deus que se fez próximo.

Faz de nós, irmãos e irmãs da OFSE,
instrumentos da Tua paz,
portadores da Tua alegria,
testemunhas da Tua cruz e ressurreição.

Que Belém se repita em nós:
Cristo vivendo, Cristo reinando, Cristo transformando.
Amém.




segunda-feira, 24 de novembro de 2025

“Preparai o Caminho do Senhor” (Is 40.3): Um Caminho Franciscano-Protestante para o Natal


“Preparai o Caminho do Senhor” (Is 40.3): Um Caminho Franciscano-Protestante para o Natal

O Advento é o tempo da espera ativa, em que a Igreja se coloca novamente sob a luz das promessas e aprende a caminhar com vigilância, humildade e esperança. Para nós, irmãos franciscanos da OFSE, este período adquire um sabor particular: é o tempo de retornar ao presépio de Greccio, onde Francisco não apenas representou o nascimento de Cristo, mas buscou “ver com os olhos do corpo as dificuldades em que se achou por falta do necessário um Menino recém-nascido” (Tomás de Celano, Vida Primeira, 84).

Francisco de Assis compreendia o Natal como a festa na qual a humildade de Deus brilha com mais força. Ele dizia:

> “Celebremos, pois, o dia em que Deus se fez nosso pequenino irmão”
(Legenda Perusina, 114).

A partir deste olhar franciscano, mas firmemente enraizado na Sagrada Escritura, nós – franciscanos protestantes da OESI – recebemos o Advento como uma escola espiritual. Aqui somos conduzidos a três movimentos essenciais:

1. Memória ― recordamos que o Verbo se fez carne (Jo 1.14).


2. Conversão/Arrependimento ― preparamos o coração para acolher o Rei humilde (Mc 1.1–3).


3. Esperança ― vivemos aguardando a manifestação final da glória de Cristo (Tito 2.13).

O teólogo franciscano Boaventura afirma que “a Encarnação é a primeira expressão da humildade do Altíssimo” (Itinerarium, I). Para nós, protestantes franciscanos, essa humildade se encontra plenamente na autoridade da Escritura e na suficiência da graça manifestada em Jesus Cristo. O Advento, portanto, não é apenas preparação litúrgica, mas uma prática de discipulado: aprender a acolher Cristo em sua mansidão, sua pobreza e sua luz.

Cinco Práticas Franciscano-Protestantes para Viver o Advento

1. Contemplar a Palavra Encarnada (Lectio Franciscana – Jo 1.1–14)

Assim como os primeiros frades reuniam-se entorno da Palavra, ocupando-se de “meditar continuamente na lei do Senhor” (Regra Não Bulada, XXII), também nós somos chamados a reservar tempo diário para ler, orar e contemplar as promessas do Advento.
Prática: ler diariamente um texto messiânico (Isaías, Salmos, Mateus 1–2, Lucas 1–2, João 1) e orar pedindo: “Senhor, faze nascer em mim a tua luz.”

2. Caminhar em Humildade e Simplicidade (Fil 2.5–11)

Francisco via na manjedoura o ícone da simplicidade do Reino. Ele ensinava:

> “O Altíssimo se fez pequeno por amor a ti; faze-te pequeno por amor a Ele.”
Prática: escolher uma atitude concreta de simplicidade: reduzir excessos, praticar generosidade, viver com propósito e gratidão.

3. Cultivar o Arrependimento e a Reorientação do Coração (Mc 1.3; Tg 4.8)

Advento é tempo de preparar o caminho. Para nós da OFSE, isso significa permitir que o Espírito realinhe nossos afetos, prioridades e hábitos. O arrependimento, na tradição reformada e na Devotio Moderna — que influenciou Tomás de Kempis — é retorno amoroso ao Deus que vem ao nosso encontro.
Prática: fazer um exame diário da alma, confessando pecados, reconciliando-se com Deus e com o próximo.

4. Praticar a Caridade Encarnação (Lc 2.7; Mt 25.40)

A manjedoura é o primeiro altar da humildade divina. Por isso, Francisco dizia que o Natal era “a festa das festas”, porque ali contemplamos a pobreza do Menino que veio enriquecer a todos (cf. 2Cor 8.9).
Prática: escolher uma ação concreta de misericórdia durante o Advento (visitar alguém, enviar alimentos a uma família, apoiar missionários, consolar um enfermo, interceder intensamente por alguém).

5. Guardar o Silêncio que Espera (Sl 62.1; Hc 2.20)

Os franciscanos sempre viram no silêncio um caminho para acolher o Verbo. A OFSE, como expressão protestante dessa espiritualidade, entende o silêncio não como vazio, mas como escuta ativa, espaço para que Cristo seja formado em nós.
Prática: adotar momentos diários de silêncio orante, sem pedidos longos, apenas disponibilidade: “Fala, Senhor, o teu servo ouve.”

Conclusão: Caminhar para Belém, Caminhar para Cristo

O Advento nos ensina a viver a fé com o coração apontado para Belém e para a Jerusalém celeste. Ele nos recorda que o Salvador veio, vem e virá.

Francisco de Assis nos convida a nos aproximarmos da manjedoura “com lágrimas de alegria”, contemplando o Deus que se aproxima. Como irmãos da OFSE, chamados à simplicidade evangélica e à intercessão contemplativa, somos enviados a viver um Advento que una doutrina bíblica, devoção profunda e prática concreta.

Que possamos, neste tempo santo, caminhar com Isaías, com os profetas, com Maria, com José, com o Poverello de Assis e com toda a Igreja do Senhor, proclamando:

“O povo que andava em trevas viu uma grande luz” (Is 9.2).

Que essa luz brilhe em nossos mosteiros, casas e corações até o Dia em que veremos o Rei em sua glória.



quinta-feira, 20 de novembro de 2025

VIDA DE ORAÇÃO!

 

  EVANGELHO DE JOÃO 16,24

24- Até agora, não pedistes nada em meu nome.

Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja

completa.

É esta confiança maravilhosa que Cristo Jesus nos dá ao nos assegurar

que pedindo em seu nome, teremos nossas petições atendidas desde que

estejam em conformidade com a Santa Vontade do Pai que tanto nos ama!

Temos que ter fé e descansar em Cristo Jesus, pois desde sempre seu amor 

por nós é infinito.

Amados irmãos e irmãs, lembremo-nos sempre que Deus nosso Pai nunca se

agrada da morte do ímpio sem salvação.

Saibamos pedir e pedir com amor por todos, pois cabe somente a Deus julgar

e temos nosso grande intercessor, Jesus Cristo!

Ainda no Evangelho de João 16-33, diz:

33- Eu vos disse estas coisa para que, em mim,

tenhais paz.

No mundo tereis aflições.

Mas tende coragem!

Eu venci o mundo.

Sim, com Cristo Jesus, venceremos nossas aflições e o encontraremos tendo uma

vida de oração.

Tendo uma vida de renúncias e entrega aos cuidados do Pai amado!

Somos de Deus!

Somos de Cristo Jesus!

Somos do Espírito Santo de Deus!

Paz e bem!

Frei Isaac do Sagrado Silêncio de Deus

OESI- ORDEM EVANGÉLICA DOS SERVOS INTERCESSORES

OFSE-ORDEM FRANCISCANA DOS SERVOS EVANGÉLICOS



VIDA DE ORAÇÃO!

 

EVANGELHO DE JOÃO 16,24

24- Até agora, não pedistes nada em meu nome.

Pedi e recebereis, para que a vossa alegria seja

completa.

É esta confiança maravilhosa que Cristo Jesus nos dá ao nos assegurar

que pedindo em seu nome, teremos nossas petições atendidas desde que

estejam em conformidade com a Santa Vontade do Pai que tanto nos ama!

Temos que ter fé e descansar em Cristo Jesus, pois desde sempre seu amor 

por nós é infinito.

Amados irmãos e irmãs, lembremo-nos sempre que Deus nosso Pai nunca se

agrada da morte do ímpio sem salvação.

Saibamos pedir e pedir com amor por todos, pois cabe somente a Deus julgar

e temos nosso grande intercessor, Jesus Cristo!

Ainda no Evangelho de João 16-33, diz:

33- Eu vos disse estas coisa para que, em mim,

tenhais paz.

No mundo tereis aflições.

Mas tende coragem!

Eu venci o mundo.

Sim, com Cristo Jesus, venceremos nossas aflições e o encontraremos tendo uma

vida de oração.

Tendo uma vida de renúncias e entrega aos cuidados do Pai amado!

Somos de Deus!

Somos de Cristo Jesus!

Somos do Espírito Santo de Deus!

Paz e bem!

Frei Isaac do Sagrado Silêncio de Deus

OESI- ORDEM EVANGÉLICA DOS SERVOS INTERCESSORES

OFSE-ORDEM FRANCISCANA DOS SERVOS EVANGÉLICOS

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

A Espiritualidade da Franciscana Isabel da Hungria

A Espiritualidade da Franciscana Isabel da Hungria
falecida em 17 de novembro de 1231
Jovem viúva de 20 anos, Isabel foi expulsa de seu castelo com os quatro filhos pequenos e só conseguiu alojamento num depósito, ao lado dos porcos. 
Nessa situação,  mandou cantar um Te Deum, para agradecer a 
Nosso Senhor a graça de sofrer em união com Ele.
Isabel nasceu em 1207, na Hungria. Aos 4 anos, entrava na capela do castelo, abria o grande livro dos Salmos, e ainda sem saber ler, olhava-o longamente e passava muitas horas recolhida em oração. Ao brincar com outras meninas, procurava algum jeito de encaminhá-las para a capela. Quando esta estava fechada, beijava-lhe a porta, a fechadura, as paredes, pois, dizia ela, "Deus lá dentro repousa".
Antes de completar dez anos, perdeu a mãe, a Rainha Gertrudes. Na mesma época, faleceu também seu protetor, o Duque Herman, o qual era pai de seu futuro esposo e a tratava como filha, amando-a justamente por sua piedade inocente e graciosa.
Aos 13 anos de idade, realizou-se seu casamento com o poderoso e não menos piedoso Duque Luiz da Turíngia, ao qual havia sido prometida desde tenra infância.
Isabel fazia bom uso da imensa riqueza de seu esposo, distribuindo aos pobres generosas esmolas. Isto causava profunda irritação a muitas pessoas da corte, sobretudo aos seus dois cunhados, Henrique e Conrado. Acusando-a de estar "dilapidando o patrimônio familiar", estes não perdiam oportunidade de tentar fazer-lhe mal.
E ela, por sua vez, não se contentava em simplesmente dar moedas ou alimentos. Seu amor a Deus a impelia a ações muito mais generosas.
No ano de 1226, estando seu esposo na Itália com o Imperador Frederico II, uma terrível fome assolou toda a Alemanha, sobretudo a Turíngia. Pelas matas e campos, andavam multidões de infelizes à procura de raízes e frutas para se alimentarem. Bois, cavalos e outros animais que morriam eram logo devorados pelos homens famintos. Em breve a morte começou sua ceifa. Pelos campos e estradas, amontoavam- se os cadáveres.
Nessa terrível situação, a única ocupação de Isabel, dia e noite, era socorrer os infelizes. Transformou seu castelo na "morada da caridade sem limites", como escreve um de seus biógrafos. Distribuiu aos indigentes todo o dinheiro do tesouro Ducal. Vencendo a oposição de alguns administradores egoístas, mandou abrir os celeiros do castelo, e ela mesma dirigiu a distribuição de tudo, sem nada reservar para seus próprios familiares. Com equilíbrio e bom senso, fazia dar a cada necessitado uma ração diária. Aqueles que, por fraqueza ou doença, não conseguiam subir até o castelo, eram objeto de uma solicitude especial de parte da Santa: ela descia para ir pessoalmente socorrê-los no sopé da montanha.
Fundou três hospitais para auxiliar os doentes: um para mulheres pobres, outro só para crianças, e um terceiro para todos em geral.
Onde havia um agonizante, lá estava ela, a fim de ajudá-lo a morrer bem.
Passado esse terrível período de desolação, ela reuniu os homens e mulheres em condições de trabalhar, providenciou sapatos, roupas e ferramentas para os que não tinham, e ordenou que fossem para o campo cultivar. Em breve voltaram os bons tempos de fartura e ela pôde ver com alegria o trigo encher os celeiros e o sorriso voltar aos lábios de toda aquela gente.
Em Santa Isabel, reluz muito a solicitude para com os necessitados. Mas ela era exímia na prática de todas as virtudes. Poucas pessoas levaram tão longe quanto ela o desapego aos bens desta terra e a conformação amorosa com a vontade de Deus. Esposa exemplar, unida em matrimônio com um marido modelar, a ele dedicava todo o afeto natural e legítimo de seu nobre coração. E era retribuída na mesma proporção. Muito mais do que isso, porém, unia-os o amor a Deus, o desejo de perfeição.
Nesta perspectiva, compreende-se com facilidade a dor da separação, quando o Duque da Turíngia partiu para a Cruzada, em 1227. Sofrimento incomparavelmente maior quando, pouco tempo depois, recebeu a notícia de que ele havia falecido antes mesmo de chegar à Terra Santa.
Esse era, porém, apenas o início de uma cascata de sofrimentos. Agora ela não tinha mais a proteção de seu virtuoso esposo. Disso se aproveitaram seus dois cunhados para deixarem expandir o ódio que lhe tinham. No mesmo dia a expulsaram do castelo, sob um frio muito rigoroso, com os quatro filhos pequenos, sem lhe permitir levar qualquer dinheiro, agasalho ou alimento. E num requinte de crueldade, proibiram, sob severas penalidades, que qualquer habitante da cidade lhe desse abrigo.
Após bater sem resultado em inúmeras portas, um taberneiro - condoído, porém, temeroso de represálias - acolheu-a, mas oferecendo-lhe como albergue uma espécie de cavalariça que servia também de chiqueiro! Deste modo, a Duquesa e filha de Rei viu-se reduzida a passar a noite, com os filhos, na companhia dos porcos, agasalhando- se nos utensílios de montaria para não morrer de frio.
No dia seguinte, pessoas caridosas e de caráter levaram-lhe alimentos. Uma noite e um dia passou ela nesta "pousada dos porcos", onde foi altamente recompensada por uma aparição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Um velho sacerdote das redondezas ofereceu-lhe alojamento, não dispondo senão de um miserável casebre. Certo dia, a santa Duquesa visitou o convento dos Frades Menores para pedir... Auxílio? Não. Pediu-lhes para cantarem um Te Deum, na intenção de agradecer ao Senhor a graça de participar nos seus sofrimentos!
Por ordem de seus cunhados, alguns esbirros arrancaram-na daquele miserável abrigo, para mantê-la aprisionada em péssimas condições nas dependências de um velho castelo.
Após alguns meses de indescritíveis sofrimentos, sua tia Matilde, abadessa de Kitzing, tomou conhecimento desses fatos e enviou mensageiros com duas viaturas para levá-la com os filhos para o seu convento.
Passado pouco tempo, seu tio Egbert, Bispo-Príncipe de Bamberg, lhe comunicou uma proposta de casamento com o Imperador Frederico II, o mais poderoso soberano da época. Mas Isabel tinha ambições muito maiores! Seu coração estava todo voltado para o Infinito, nada nesta terra podia satisfazê-lo.
Passados poucos dias, regressaram à Turíngia os cavaleiros que tinham acompanhado o Duque Luiz à Cruzada. Apresentando-se a Conrado e Henrique, censuraram-lhes corajosamente a dureza e crueldade com que haviam tratado a viúva e os filhos de seu próprio irmão. Os dois culpados não resistiram à franqueza altiva dos seus vassalos. E, chorando, pediram perdão a Isabel, restituindo-lhe todos os bens de que a haviam despojado.
Isabel mandou construir ao lado do convento dos Frades Menores uma casa modestíssima - apelidada de "palácio de abjeção" pelos parentes de seu falecido marido - na qual se instalou, com os filhos e os serviçais que lhe permaneceram fiéis.

Na Sexta-Feira Santa de 1229, fez votos na Ordem de São Francisco, e tomou o hábito das Clarissas. Tendo edificado para si apenas uma pobre morada, empregou seus recursos em construir igrejas para Deus e hospitais para os doentes pobres, dos quais ela mesma passou a cuidar dia e noite, com mais carinho e solicitude do que antes. Deus concedeu-lhe a graça de servir aos desvalidos, não somente o pão para o corpo, mas também o esplendor da sua própria luz, através dos milagres que realizava por seu intermédio.
Certo dia, encontrou um menino estropiado e disforme, estendido na soleira da porta de um hospital. Além de surdo-mudo, ele não conseguia andar senão de quatro, como um animal. A mãe deixara-o ali, na esperança de que a boa Duquesa dele se apiedasse e o acolhesse. Logo que o viu, Isabel abaixou-se para acariciar-lhe os cabelos sujos e revoltos. E perguntou-lhe:
- Onde estão teus pais? Quem te deixou aqui? Não recebendo resposta, repetiu as perguntas. Mas o pobre ente apenas a fitava com olhos arregalados. Desconfiando de alguma possessão diabólica, ela disse em alta e clara voz:
- Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, eu te ordeno, a ti ou a quem em ti estiver, que me respondas de onde vens!
No mesmo instante, o menino ergueu- se e - ele que não havia aprendido a falar! - explicou-lhe com desembaraço sua triste vida. Depois, caindo de joelhos, pôs-se a chorar de alegria e louvar a Deus todo-poderoso.
- Eu não conhecia Deus, nem sabia de sua existência. Todo o meu ser era morto. Não sabia nada. Bendita sejas tu, senhora, que obtiveste de Deus a graça de não morrer como até o presente vivi. A estas palavras, Isabel pôs-se também de joelhos para agradecer ao Senhor, junto com o menino, e, por fim, recomendou-lhe:
- Agora volta para teus pais e não digas nada do que te aconteceu. Diz apenas que Deus te socorreu. Guarda-te sempre do pecado para não acontecer de voltares a ser o que eras.
A notícia desse milagre correu como um rastilho de pólvora, espalhando por toda a Turíngia a fama de santidade de Isabel. Em consequência, aumentou o número dos que a ela recorriam. E Deus dignava-Se de, por sua intercessão, atender a todos.
No dia 16 de novembro de 1231, Isabel adoeceu. Após receber a unção dos enfermos e o viático, Nosso Senhor lhe apareceu e revelou-lhe que dentro de três dias viria levá-la para o Céu. Depois desta visão, seu rosto ficou tão resplandecente que era quase impossível fixar-lhe os olhos.
Ao primeiro canto do galo do dia 19, ela disse: "Eis a hora em que Jesus nasceu de Maria Virgem. Que galo imponente e lindo seria aquele, o primeiro a cantar naquela noite maravilhosa! Ó Jesus, que resgatastes o mundo, que resgatastes a mim!"
Em seguida, disse baixinho: "Silêncio... Silêncio!..." E deixou pender a cabeça, como se dormisse. Sua alma acabava de entrar na glória celeste.


Texto baseado em: QUEIROZ, Antonio. Revista Arautos do Evangelho, Nov/2004, n. 35, p. 22 à 25)


O Presépio de Greccio – Releitura Protestante da narrativa de Tomás de Celano



O Presépio de Greccio – Releitura Protestante da narrativa de Tomás de Celano

Era tempo de Natal. Francisco, servo do Senhor, desejava celebrar o nascimento do Salvador de modo profundamente espiritual.
Dizia ele aos irmãos:

“Quero trazer à memória o nascimento do Senhor Jesus em Belém; quero contemplar, com os olhos da fé, a humildade daquele Menino que se fez carne por nós; quero recordar o modo como foi deitado numa manjedoura, entre o boi e o jumento, para que jamais esqueçamos o amor de Deus que se fez pobre para nos enriquecer com a sua graça.”

Com o coração ardente, pediu que num bosque de Greccio fosse preparado um lugar simples, com feno e uma manjedoura, e que se colocassem ali os animais do campo. Não se tratava de um espetáculo, mas de uma oração viva, um Evangelho em imagem, para reacender no povo o amor por Cristo encarnado.

Chegada a noite de Natal, irmãos e irmãs das vilas vizinhas subiram ao monte com tochas e cânticos. A luz das chamas iluminava o escuro da montanha como se o próprio céu descesse à terra. Todos se reuniram ao redor da manjedoura, e Francisco, cheio de alegria, contemplava aquele sinal: o Verbo feito carne, o Senhor da glória deitado no feno.

Ali, na simplicidade daquele lugar, a Palavra foi lida e proclamada. Francisco falou do Rei que veio pobre, do Criador que se fez criatura, do Senhor que desceu para servir. Sua voz tremia de emoção, e muitos choravam, pois compreendiam que o Salvador nasceu não em palácios, mas entre os humildes, para redimir os pecadores e reconciliar o mundo com Deus.

Entre os presentes, um dos irmãos teve uma visão interior: parecia-lhe ver o Menino Jesus deitado na manjedoura, e Francisco o tomava com ternura, como quem desperta alguém do sono. E compreendeu-se que o sentido dessa visão era espiritual: por meio do testemunho de Francisco, o amor por Cristo adormecido em muitos corações foi despertado novamente.

Desde então, Greccio tornou-se símbolo de renovação espiritual, lembrando a todos que o verdadeiro Natal acontece quando Cristo nasce no coração de quem crê.
E ali, onde antes havia apenas feno e silêncio, ergueu-se o louvor do povo que compreendeu o mistério:

“O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade” (João 1.14).

Reflexão devocional

O presépio de Greccio nos ensina que o Natal não é um enfeite, mas uma confissão: Deus veio habitar conosco.
A manjedoura é um altar da humildade divina, onde o Senhor da eternidade se curva para servir.
Assim, quando contemplamos o presépio, somos convidados não a adorar as formas, mas a adorar o Cristo vivo, o Emanuel, Deus conosco, que nasceu, morreu e ressuscitou por nós.

domingo, 2 de novembro de 2025

Comentário Devocional do Cântico das Criaturas - nos 800 anos.


Comentário Devocional do Cântico das Criaturas - nos 800 anos.

A criação que se torna oração

Por Ir. Rev. Edson — para a OFSE (Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos)

O Cântico das Criaturas, composto por São Francisco de Assis em 1225, é mais do que poesia: é uma profissão de fé cósmica. Nascido do sofrimento e da contemplação, ele traduz o Evangelho em linguagem da criação. A OFSE, ao lê-lo em chave protestante, reconhece nele uma confissão que une o amor bíblico por Deus à gratidão pela obra de suas mãos.

“Altíssimo, onipotente, bom Senhor, teus são o louvor, a glória, a honra e toda bênção.”

Francisco inicia o Cântico com uma doxologia. Como nos salmos, o louvor não é opção, mas obrigação santa (Sl 150). A teologia reformada também começa aqui: Deus é o centro de toda glória. Como declara João Calvino (Institutas, I.1.2), “a verdadeira sabedoria consiste em conhecer a Deus e a si mesmo”. A OFSE reconhece que toda vocação franciscano-evangélica começa na contemplação do Altíssimo e termina no serviço humilde.

“Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol...”

O Sol é símbolo da presença benevolente do Criador. Em Gênesis 1, o Sol e a Lua são servos de Deus, não divindades. Francisco, iluminado pela graça, os vê como irmãos. Lutero também afirmava que “todas as criaturas são máscaras de Deus” (WA 10/3, 392), isto é, instrumentos pelos quais Ele se revela. Assim, o servo da OFSE aprende a ver na natureza uma liturgia: cada raio de luz é um versículo do Evangelho natural que proclama a glória do Senhor (Sl 19.1).

“Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Lua e pelas estrelas...”

Francisco não adora os astros, mas adora o Criador que lhes deu ordem e esplendor. O monge Basílio Magno, em suas Homilias sobre a Criação (Hom. II), dizia: “Quando contemplas o céu, não te detenhas na beleza das estrelas, mas sobe em pensamento até o Criador.” A espiritualidade da OFSE retoma essa escada da contemplação: a beleza é um degrau, não o destino.

“Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão Vento, e pelo ar, e pelas nuvens, e pelo sereno e todo o tempo...”

Aqui se revela uma teologia da providência. Francisco louva o Deus que governa o clima, o invisível e o imprevisível. Em linguagem protestante, é o mesmo Deus que “faz nascer o seu sol sobre maus e bons” (Mt 5.45). Louvar o vento é confiar na soberania divina em meio às mudanças — uma lição para cada servo evangélico que vive o ministério em tempos incertos.

“Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Água... pelo irmão Fogo...”

Francisco contempla a utilidade das criaturas. A água purifica e o fogo aquece — sinais sacramentais da graça. João Wesley, em seu Sermão sobre os Meios de Graça (Sermão 16), ensina que “Deus se comunica a nós por instrumentos materiais, simples e visíveis.” A natureza, portanto, é um sacramental do amor de Deus, e a OFSE vê nela uma escola de humildade e dependência.

“Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã, a Mãe Terra...”

A terra é fecunda e paciente, como o próprio Cristo que, no silêncio do túmulo, germinou a nova criação. O servo franciscano evangélico aprende a amar o chão que pisa e a cuidar dele como mordomo do Reino (Gn 2.15). Lutero escreveu que “o trabalho do camponês é tão santo quanto o do pregador, pois ambos servem à criação de Deus” (WA 15, 664).

“Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor...”

Aqui o cântico se eleva do cosmos ao coração humano. O perdão é o milagre moral da criação redimida. É neste ponto que Francisco encontra o Cristo crucificado. A cruz é o verdadeiro sol da alma, e a OFSE, ao contemplar esse versículo, recorda que o maior louvor é suportar as dores com paz e intercessão.

“Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã, a Morte corporal...”

Francisco encerra com um canto de esperança. Para o mundo, a morte é silêncio; para o servo de Cristo, é o último versículo de um salmo que termina em glória. Paulo declarou: “Morrer é lucro” (Fp 1.21), e Wesley reafirmou: “O crente morre cantando.” A espiritualidade franciscano-evangélica acolhe essa verdade: quem vive em louvor morre em adoração.

Assim, o Cântico das Criaturas é, para a Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos (OFSE), uma lectio divina da criação — um salmo maior, onde tudo canta o Evangelho. Cantar este cântico é confessar que Cristo é Senhor do visível e do invisível, e que “nele tudo subsiste” (Cl 1.17).

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

o Cântico das Criaturas e a Reforma Protestante


O Cântico da Criaturas e a Reforma

A espiritualidade franciscana protestante do louvor

Por Ir. Rev. Edson — para a OFSE (Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos)

Em 1225, São Francisco de Assis entoou o Cântico das Criaturas, também chamado de Cântico do Irmão Sol, oferecendo à Igreja um dos mais belos testemunhos da integração entre fé e criação. O texto, nascido da pobreza e da contemplação, tornou-se uma das expressões mais puras da teologia do louvor. O que muitos esquecem é que esse mesmo espírito atravessou os séculos e reencontrou sua voz na Reforma Protestante, quando o louvor foi novamente reconhecido como resposta livre e viva à graça de Deus.

A OFSE, como expressão contemporânea do franciscanismo protestante, lê o Cântico das Criaturas à luz da Escritura e da Reforma, reconhecendo que, tanto em Francisco quanto em Lutero, há uma mesma paixão pelo Deus encarnado e pela bondade de sua criação. Ambos reagiram à espiritualidade fria e distante do seu tempo. Francisco o fez saindo dos palácios para cantar com os pobres; Lutero, saindo dos claustros para cantar com o povo de Deus.

Martinho Lutero afirmou: “A música é dom de Deus, não invenção humana; ela expulsa o demônio e torna as pessoas alegres” (WA 50, 370). O Cântico das Criaturas reflete o mesmo princípio: a criação é uma sinfonia que louva o Criador. Assim como Lutero traduziu os salmos para que o povo pudesse cantar a fé, Francisco traduziu a criação em louvor para que toda a natureza se tornasse oração.

A teologia reformada da criação, expressa em João Calvino (Institutas, I.14.20), reforça essa mesma visão: “Toda a criação é um espelho no qual podemos contemplar a glória de Deus”. Francisco, sete séculos antes, já havia contemplado essa glória ao chamar o sol, o vento e a água de irmãos e irmãs. Na espiritualidade da OFSE, esses ecos se encontram — a humildade franciscana e a reverência reformada formam uma única melodia de adoração.

Mas o louvor franciscano-protestante não é apenas estético; ele é ético e missionário. Como recorda João Wesley, “a santidade não é outra coisa senão amor em ação” (Sermão 92, Sobre a Santidade Interior e Exterior). O cântico torna-se missão quando se transforma em cuidado, quando o servo evangélico vê no irmão, na criação e nos pobres o rosto de Cristo sofredor. Assim, o louvor se faz serviço.

A Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos (OFSE) vive, portanto, essa herança de maneira encarnada: cantar é evangelizar, louvar é servir, contemplar é cuidar. No cântico e na cruz, o servo franciscano reconhece que “dele, por ele e para ele são todas as coisas” (Rm 11.36).

O Cântico das Criaturas, relido à luz da Reforma, é uma ponte espiritual entre Assis e Wittenberg. Em ambos, o Evangelho é redescoberto como liberdade e gratidão. Na OFSE, celebramos esse cântico não como relíquia medieval, mas como oração viva do coração protestante que crê, trabalha e louva — porque, em Cristo, “toda a criação geme e aguarda” (Rm 8.22), mas também canta a esperança de sua redenção.



terça-feira, 28 de outubro de 2025

O Louvor no Sofrimento - O Cântico das Criaturas como oração de esperança

O Louvor no Sofrimento - O Cântico das Criaturas como oração de esperança.

Por Ir. Rev. Edson — para a OFSE (Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos)

Francisco de Assis compôs o Cântico das Criaturas no ocaso de sua vida terrena, já marcado pela dor, quase cego e carregando em seu corpo os estigmas do Cristo Crucificado. O louvor que nasce nesse contexto não é fruto de um romantismo ingênuo, mas de uma fé pascal que transforma a dor em adoração. Em Francisco, o sofrimento não silencia a alma: torna-se cântico, torna-se evangelho vivido.

É significativo que o Cântico tenha sido escrito quando ele se encontrava enfermo em São Damião (1225), “cheio de dores nos olhos e de fraqueza no corpo”, como relata Tomás de Celano (Vita Secunda, cap. 165). E mesmo assim, “Francisco começou a louvar o Senhor pelas suas criaturas, dizendo: ‘Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas’”. O louvor brota, portanto, do meio da cruz — e é por isso que ele tem poder redentor.

A OFSE, seguindo o carisma do Pobrezinho de Assis, reconhece que o louvor verdadeiro é aquele que nasce da comunhão com o Cristo crucificado. O apóstolo Paulo escreveu: “para que eu conheça Cristo, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos” (Fp 3.10). Esse é também o caminho franciscano-evangélico: louvar não apenas quando há luz, mas quando a sombra se faz mais densa.

Martinho Lutero, em sua Teologia da Cruz (WA 5, 163), afirmou que “o verdadeiro teólogo é aquele que conhece Deus através da cruz e do sofrimento”. Francisco conheceu o Criador nas feridas do mundo. E por isso podia chamar o fogo, o vento e até a “irmã morte corporal” de irmãs suas — porque todas as coisas foram reconciliadas em Cristo (Cl 1.20).

O louvor franciscano é, portanto, profundamente evangélico e escatológico. Ele proclama, como João Wesley pregou em seu sermão Sobre a Perfeição Cristã (Sermão 40), que “a alegria perfeita não está na ausência da dor, mas na presença constante do amor de Deus”. A OFSE herda essa mística da esperança: cada irmão e irmã é chamado a cantar a fidelidade do Senhor mesmo entre as feridas da história.

Quando o servo franciscano evangélico ora e canta, ele une sua voz à do próprio Cristo, que na cruz entoou o Salmo 22. É o mesmo louvor que transforma a noite em aurora, a perda em promessa. Louvar, neste caminho, é resistir à desesperança, é confessar que a graça é mais forte que o sofrimento.

Como escreveu São Francisco: “Louvado sejas, meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor e suportam enfermidade e tribulação. Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz, pois por ti, Altíssimo, serão coroados.” (Cântico das Criaturas).

Que a OFSE continue a testemunhar, no meio do mundo ferido, este cântico que vence a dor com amor — para a glória do Altíssimo, que faz novas todas as coisas.