O SANTO NATAL DO SENHOR
E A MEMÓRIA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Aos irmãos e irmãs da OFSE
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade.”
(João 1.14)
Amados irmãos e irmãs da Ordem Franciscana dos Servos Evangélicos (OFSE), aproximamo-nos do santo tempo em que a Encarnação do Filho de Deus volta a ressoar como canto vivo de esperança entre as nações. No silêncio humilde de Belém, o Deus eterno assume carne humana e revela que o caminho do Reino não se ergue pelos montes de poder, mas floresce no chão simples onde os pobres respiram, onde os mansos caminham, onde os que choram encontram consolo.
É neste horizonte que recordamos São Francisco de Assis, cuja vida, embora honrada de diversas maneiras ao longo da história da Igreja, pode e deve ser acolhida também por nós, protestantes, como testemunho vivo da centralidade de Cristo. Francisco não é modelo de mediação espiritual — pois reconhecemos um só Mediador, Jesus Cristo — mas é testemunha luminosa do Evangelho, exemplo concreto de arrependimento, simplicidade e amor ardente ao Crucificado.
1. Francisco diante do Natal: Cristo como Pobreza Encarnada
A tradição relata que, no ano de 1223, Francisco preparou em Greccio uma celebração em torno de um presépio vivo, não por mero afeto estético, mas para “ver com os olhos do corpo as dificuldades em que nasceu o Menino de Belém”. Seu intuito era profundamente cristocêntrico: recolocar Cristo no centro da fé, devolvendo ao povo a ternura e a humanidade do Salvador.
Pesquisadores como Chiara Frugoni e Jacques Le Goff observam que o gesto de Francisco foi teologicamente ousado: ao contemplar o nascimento do Senhor, ele anunciava que o Deus Altíssimo não escolheu palácios, mas um lugar pobre para nascer. Francisco reconhecia na manjedoura o mesmo Senhor que veria mais tarde suspenso na cruz — do presépio ao Gólgota, o mesmo amor descido ao mundo.
Para a espiritualidade protestante da OFSE, isso se torna convite à contemplação reverente: o Natal não é fuga emocional, mas anúncio encarnado de que o Reino chega na vulnerabilidade de Deus feito servo.
2. A Beleza que Conduz ao Arrependimento
Francisco chorava ao meditar na humildade de Cristo. Para ele, o Natal não era celebração decorativa, mas um chamado santo ao arrependimento, palavra que guardamos com zelo em nossa ordem. O Menino deitado na palha é o julgamento gracioso de Deus contra toda arrogância, contra nossa autossuficiência espiritual, contra o orgulho que obscurece o amor.
A humildade do Cristo recém-nascido é o espelho onde nossa vaidade se desfaz; é o altar onde nos rendemos; é o colo onde somos acolhidos.
3. Cinco práticas franciscanas para os irmãos da OFSE no santo Natal
À luz da história de Francisco e sob os pilares da espiritualidade da OFSE, proponho cinco práticas devocionais para este tempo santo:
1. Contemplação Cristocêntrica
Reserve diariamente alguns minutos para contemplar apenas Jesus, sua humildade, sua pobreza e sua glória. Medite especialmente nos Evangelhos da infância (Lucas 1–2; Mateus 1–2). Deixe que a beleza simples do Cristo Menino desperte adoração silenciosa.
2. Simplicidade como testemunho
Pratique, neste mês, algum gesto de voluntária simplicidade: limitar gastos, oferecer algo precioso, evitar excessos. A simplicidade não é perda, mas liberdade. Francisco nos recorda que o Natal floresce quando os pesos da vida perdem seu domínio.
3. Serviço aos pobres e feridos
Escolha conscientemente um ato de misericórdia: visitar alguém sozinho, cooperar com uma família necessitada, apoiar um ministério de acolhimento. O Cristo que nasceu entre os pobres continua a nascer onde o amor se doa.
4. Reconciliação e perdão
No espírito franciscano, ofereça perdão a quem lhe feriu, ou busque reconciliação com quem você feriu. O Natal é o tempo em que a paz verdadeira não é enfeite, mas missão.
5. Canto, louvor e beleza
Inclua na vida comunitária e pessoal algum tipo de beleza que conduz ao louvor: um cântico, um salmo, uma leitura devocional à luz de velas. A beleza é um sacramento da graça, um modo de lembrar que o Verbo encarnado veio restaurar a criação inteira.
4. Oração devocional
Senhor Jesus Cristo,
Filho eterno do Pai,
luz que visita nossas trevas e vida que renova o mundo,
nós Te agradecemos pelo santo mistério do Teu Natal.
Que o brilho suave do Teu nascimento encontre lugar em nosso coração,
que a humildade da manjedoura nos ensine o caminho da simplicidade,
que o Teu amor desarmado nos conduza ao arrependimento sincero,
e que, como Francisco, possamos ver em Ti
a doçura do Deus que se fez próximo.
Faz de nós, irmãos e irmãs da OFSE,
instrumentos da Tua paz,
portadores da Tua alegria,
testemunhas da Tua cruz e ressurreição.
Que Belém se repita em nós:
Cristo vivendo, Cristo reinando, Cristo transformando.
Amém.