segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Dia de Clara de Assis e a Espiritualidade Protestante


11 de agosto - Clara de Assis.

Clara de Assis (1194 – 1253) foi uma mulher italiana do século XIII, reconhecida historicamente por seu papel decisivo no movimento de renovação espiritual iniciado por Francisco de Assis. Embora venerada como santa pela Igreja Católica, sua vida também pode ser apreciada, de uma perspectiva protestante, como exemplo de fé, serviço e dedicação radical a Cristo — ainda que dentro do contexto monástico medieval.

Contexto histórico
Clara nasceu em Assis, na Itália, por volta de 16 de julho de 1194, numa família nobre e abastada. O período era marcado pela forte influência da Igreja Romana na vida política e social da Europa, bem como pelo florescimento de movimentos de reforma religiosa, como o que Francisco de Assis iniciou ao abraçar a pobreza e pregar arrependimento.

Conversão e chamada
Em 1211 ou 1212 (as fontes variam), com cerca de 18 anos, Clara ouviu as pregações de Francisco e sentiu-se profundamente tocada pelo chamado de viver apenas para Cristo, sem riquezas e sem vaidade. Fugiu de casa à noite e foi recebida por Francisco na igrejinha de Porciúncula, onde fez votos de pobreza, castidade e obediência — características próprias do sistema monástico da época, mas que, para ela, significavam uma entrega total ao Senhor.

Fundação da ordem
Francisco a conduziu ao mosteiro beneditino de São Paulo das Abadessas, para protegê-la da oposição da família. Pouco depois, ela se estabeleceu com outras irmãs em São Damião, nos arredores de Assis, fundando a comunidade que ficou conhecida como Ordem das Damas Pobres, mais tarde chamadas Clarissas. O estilo de vida era extremamente austero, centrado na oração, no trabalho manual e na completa dependência de doações.

Ministério e influência
Clara foi abadessa por mais de 40 anos. Apesar de nunca ter saído para pregar nas ruas como Francisco, exerceu enorme influência espiritual, especialmente sobre mulheres, incentivando uma vida de simplicidade e devoção. Sua insistência na “pobreza absoluta” (sem rendas nem propriedades) foi algo incomum e controverso na estrutura medieval, mas reforçava sua convicção de depender apenas de Deus.
Em 1224, a tradição registra que, quando tropas invasoras sarracenas a serviço do imperador Frederico II cercaram Assis, Clara teria se colocado diante das portas do mosteiro com o ostensório contendo a hóstia consagrada. Mesmo que o episódio esteja envolto em elementos devocionais medievais, ele simboliza sua coragem e liderança.

Morte e legado
Clara morreu em 11 de agosto de 1253. Dois dias antes, o papa Inocêncio IV aprovou oficialmente sua “Regra”, que mantinha o ideal de pobreza total — algo pelo qual ela havia lutado por décadas. Em 1255, a Igreja Católica a canonizou.

Visão protestante
De uma perspectiva protestante, não se compartilha de todas as práticas e crenças presentes na vida monástica medieval, como o culto aos santos ou a teologia sacramental da época. No entanto, a história de Clara é relevante por mostrar:
Zelo pela Palavra (ainda que em latim e restrita naquele período).
Renúncia voluntária aos bens e posição social, em favor de um chamado espiritual.
Influência de uma vida piedosa sobre outros, especialmente mulheres, mesmo sem ocupar posição formal de pregadora.
Clara de Assis permanece como figura histórica que inspira reflexão sobre discipulado radical, coragem diante da oposição e busca por uma vida centrada em Cristo, ainda que vivida num contexto eclesiástico diferente daquele defendido pela fé reformada.