Inês e Clara de
Assis: Discipulado Franciscano Radical
Por que
uma pessoa rica, herdeira da nobreza, deixa tudo e vai seguir Jesus de forma
radical?
Qual a
alegria em deixar tudo para seguir o Senhor Jesus?
Tenho
coragem de deixar tudo por Jesus Cristo?
A vida de
Inês e a Carta de Clara de Assis para Inês são reflexões sérias de pessoas que
amaram Jesus até as últimas consequências.
Até que
ponto amamos verdadeiramente Jesus?
O que
desejamos em troca quando vamos a Igreja?
Somos
realmente discípulos de Jesus ou discípulos dos nossos próprios interesses?
Vamos conhecer a vida de Inês.
Inês de
Praga, ou da Boêmia, foi filha do rei Otocar I da Boêmia e da rainha Constância
da Hungria.
Nasceu em
1205 e morreu em 1282. Foi prometida como noiva a diversos príncipes, inclusive
ao futuro Herique VII, que seria imperador.
Teve uma
educação esmerada, em diversos mosteiros e cortes. Sempre se dedicou às obras
de caridade e, depois que conheceu os frades menores, que chegaram à sua cidade
em 1225, animada também pelo testemunho de sua prima Isabel da Hungria, decidiu
ser clarissa.
Construiu
uma grande obra, em que havia um hospital, um mosteiro e uma igreja de São
Francisco.
Entrou
para a Ordem em 1234, com grande repercussão em toda a cristandade. Mesmo sem
nunca terem tido a oportunidade de se conhecerem pessoalmente, ela e Clara
estabeleceram uma profunda amizade.
As Cartas a Inês
As cartas
são o ponto alto dos escritos de Clara. Nelas nós a encontramos mais livre,
pois não tinha que pensar na instituição de sua Ordem.
É muito
pessoal e solta em uma rica doutrina espiritual. Sua visão de contemplação é o
melhor que temos no franciscanismo primitivo.
Seu tema é
sempre Jesus Cristo, mas quatro aspectos fundamentais devem ser destacados:
Jesus Cristo é crucificado, Jesus Cristo é pobre, Jesus Cristo é o esposo e a
entrega a ele é feita em uma virgindade cada vez maior.
Mesmo
quando não fala de si mesma, Clara deixa evidente que está apresentando uma
doutrina que primeiro foi vivida intensamente por ela. Sua experiência de
pobre, de contemplativa, de alegre esposa, é vibrante.
É também
nas cartas que Clara mostra melhor sua grande capacidade de escritora: concisa,
clara, carinhosa, rica de citações que mostram como seus interesses eram
diversificados, embora sempre na linha da espiritualidade.
Primeira Carta de Clara a Inês:
1 À venerável e santa virgem,
dona Inês, filha do excelentíssimo e ilustríssimo rei da Boêmia,
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2 Clara, indigna fâmula de
Jesus Cristo e serva inútil das senhoras enclausuradas do mosteiro de São
Damião, sua serva sempre submissa, recomenda-se inteiramente e deseja, com
especial reverência, que obtenha
a glória (cfr. Sir 50,5) da
felicidade eterna.
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3 Sabedora da boa fama de vosso
santo comportamento e vida, que não só chegou até mim, mas foi
esplendidamente divulgada em quase toda a terra, muito me alegro e exulto no Senhor (cfr. Hab 3,18).
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4 Disso posso exultar tanto eu
mesma como todos os que prestam serviço a Jesus Cristo ou desejam fazê-lo.
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5 Porque, embora pudésseis
gozar, mais do que outros, das pompas e honras deste mundo, desposando
legitimamente, com a maior glória, o ilustre imperador, como teria sido
conveniente à vossa excelência e à dele,
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6 rejeitastes tudo isso e
preferistes a santíssima pobreza e as privações corporais, com toda a alma e
com todo o afeto do coração,
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7 tomando um esposo da mais
nobre estirpe, o Senhor Jesus Cristo, que guardará vossa virgindade sempre
imaculada e intacta.
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8 Amando-o, sois casta;
tocando-o, tornar-vos-eis mais limpa; acolhendo-o, sois virgem.
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9 Seu poder é mais forte, sua
generosidade mais elevada, seu aspecto é mais belo, o amor mais suave, e toda
a graça mais elegante.
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10 Já estais tomada pelos
abraços daquele que ornou vosso peito com pedras preciosas e colocou em
vossas orelhas pérolas inestimáveis.
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11 Ele vos envolveu de gemas
primaveris e coruscantes e vos deu uma coroa de ouro marcada com o sinal da santidade (Sir 45,14).
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12 Portanto, irmã caríssima, ou
melhor, senhora muito digna de veneração, porque sois esposa, mãe e irmã (cfr. 2Cor 11,2; Mat 12,50) do meu
Senhor Jesus Cristo,
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13 destacada pelo esplendor do
estandarte da inviolável virgindade e da santíssima pobreza, ficai firme no
santo serviço do pobre Crucificado, ao qual vos dedicastes com amor ardente.
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14 Ele suportou por todos nós a paixão (Hb 12,2) da
cruz e nos arrancou do poder do príncipe das trevas (Col 1,13), que nos acorrentava pela
transgressão de nosso primeiro antepassado, e nos reconciliou (2Cor 5,18) com Deus Pai.
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15 Ó bem-aventurada pobreza,
que àqueles que a amam e abraçam concede as riquezas eternas
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16 Ó santa pobreza, aos que a
têm e desejam Deus prometeu o reino
dos céus (cfr. Mat 5,3), e
são concedidas sem dúvida alguma a glória eterna e a vida feliz!
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17 Ó piedosa pobreza, que o
Senhor Jesus Cristo dignou-se abraçar acima de tudo, ele que regia e rege o
céu e a terra, ele que disse
e tudo foi feito(Sl 32,9; 148,5)!
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18 Pois disse que as raposas têm tocas e os
passarinhos têm ninhos mas o Filho do Homem, Jesus Cristo, não tem onde reclinar a cabeça (Mt 8,20). Mas,inclinando a
cabeça, entregou o espírito (Jo
19,30).
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19 Portanto, se tão grande e
elevado Senhor, vindo a um seio virginal, quis aparecer no mundo desprezado,
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20 indigente e pobre, para que
os homens, paupérrimos e miseráveis, na extrema indigência do alimento
celestial, nele se tornassem ricos possuindo os reinos celestes,
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21 vós tendes é que exultar e vos alegrar (cfr. Hab 3,18) muito, repleta de
imenso gáudio e alegria espiritual,
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22 pois tivestes maior prazer
no desprezo do século que nas honras, preferistes a pobreza às riquezas
temporais e achastes melhor guardar tesouros no céu que na terra,
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23 porque lá nem a ferrugem consome nem
a traça rói, e os ladrões não saqueiam nem roubam (Mt 6,20). Vossa recompensa será enorme nos
céus(Mt 5,12),
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24 e merecestes ser chamada com
quase toda a dignidade de irmã,
esposae mãe (cfr. 2Cor 11,2; Mt 12,50) do Filho do Pai Altíssimo e da
gloriosa Virgem.
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25 Creio firmemente que sabeis
que o reino dos céus não é prometido e dado pelo Senhor
senão aos pobres (cfr. Mt 5,3), porque, quando se ama
uma coisa temporal, perde-se o fruto da caridade.
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26 Sabeis que não se pode servir a Deus e às
riquezas, porque ou se
ama a um e se odeia às outras, ou serve-se a Deus e desprezam-se as riquezas (cfr. Mt 6,24).
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27 Sabeis que vestido não pode
lutar com nu, pois vai mais depressa ao chão quem tem onde ser agarrado.
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28 Sabeis que não dá para ser
glorioso no mundo e lá reinar com Cristo, e que é mais fácil o camelo passar pelo buraco da
agulha que o rico subir ao reino do céu (cfr. Mat
19,24).
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29 Por isso vos livrastes das
vestes, isto é, das riquezas temporais, para não sucumbir de modo algum ao
lutador e poder entrar no reino dos céus pelo caminho duro e pela porta estreita (cfr. Mt 7,13-14).
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30 Que troca maior e mais
louvável: deixar as coisas temporais pelas eternas, merecer os bens celestes
em vez dos terrestres, receber
cem por um e possuir a vida (cfr. Mt 19,29) feliz para sempre!
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31 Por isso achei bom suplicar
vossa excelência e santidade, na medida do possível, com humildes preces, nas entranhas de Cristo (cfr. Fp 1,8), que vos deixeis
fortalecer no seu santo serviço,
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32 crescendo de bem para
melhor, de virtude em
virtude (cfr. Sl 83,8),
para que aquele que servis com todo desejo do coração digne-se dar-vos os
desejados prêmios.
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33 Quanto me é possível, também
vos suplico no Senhor que vos lembreis em vossas
santas preces (cfr. Ro
15,30) de mim, vossa serva, embora inútil, e das outras Irmãs que vivem
comigo no mosteiro e vos apreciam.
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34 Que com a ajuda dessas
preces possamos merecer a misericórdia de Jesus Cristo, para gozar junto a
vós da eterna visão.
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35 Que o Senhor vos guarde. Orai por (cfr. 1Te 5,25) mim.
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