Louvor e Adoração na Prática Franciscana
Ir. Edson
Cortasio Sardinha, OESI/OFSE
Francisco teve
uma experiência de conversão extremamente profunda e radical no ano 1204 d.C.
durante a uma longa doença. Deus o transformou por inteiro. Transformou todas
as áreas de sua vida. Deu-lhe uma gratidão tão intensa que sua vida foi marcada
por cânticos de louvor e adoração ao Senhor.
Neste texto
vamos ver várias passagens nas primeiras biografias franciscanas que falam de
seu estilo de vida de adorador.
Louvor
com todas as criaturas
Francisco
desenvolveu o louvor como estilo de vida. Sua adoração era tão envolvente que
atraia inclusive os animais para bendizer ao Senhor.
Tomás de Celano
afirma que havia na Porciúncula, ao
lado da cela de Francisco, uma figueira onde uma cigarra “costumava cantar com
suavidade”. Certa vez Francisco a chamou dizendo: “Cigarra, minha irmã, vem
cá!"
Como se tivesse razão, ela foi logo para sua mão. E ele: "Canta,
minha irmã cigarra, louva com júbilo o Senhor Criador!" Ela obedeceu sem demora,
começou a cantar e não parou enquanto o homem de Deus, juntando seus louvores
ao cântico, não a mandou de volta para o seu lugar. Lá ficou por oito dias,
como se estivesse presa. Quando o Francisco descia de sua cela, tocava-a com as
mãos e mandava que cantasse. Ela estava sempre pronta para obedecer-lhe.
Depois Francisco disse aos seus discípulos: “Vamos despedir nossa irmã
cigarra, que já nos alegrou bastante aqui com o seu louvor, para que isso não
seja causa de vanglória para nós".
Com sua permissão, ela foi embora, e não apareceu mais por lá. Os frades
ficavam admiradíssimos, vendo tudo isso[1].
Francisco louvava a Deus em harmonia com todas as criaturas de Deus.
Bem cedo, na aurora, quando estava em oração, vieram pássaros de diversos
tipos para cima da cela onde ficava, não todos juntos, mas primeiro vinha um e
cantava, demonstrando o seu doce verso, e depois ia embora. Depois vinha outro,
cantava e ia embora; e assim fizeram todos. Francisco ficou muito admirado com
isso e teve a maior consolação, mas começou a meditar sobre o que seria isso. E
foi dito pelo Senhor em espírito: “Isso é sinal de que o Senhor vai te fazer o
bem nessa cela e vai dar-lhe muitas consolações”[2].
Certa vez, passando por um caminho,
levantou os olhos e viu algumas árvores na margem do caminho, sobre as quais
estava uma quase infinita multidão de passarinhos; do que Francisco se
maravilhou e disse aos companheiros: "Esperai-me aqui no caminho, que vou
pregar às minhas irmãs aves". E entrando no campo começou a pregar às aves
que estavam no chão; e subitamente as que estavam nas árvores vieram a ele e
todas ficaram quietas até que Francisco acabou de pregar; e depois não se
partiram enquanto ele não lhes deu a sua bênção. E conforme contou depois Frei
Masseo a Frei Tiago de Massa, andando
Francisco entre elas a tocá-las com a capa, nenhuma se moveu. A
substancia da prédica de Francisco foi esta: "Minhas irmãs aves, deveis
estar muito agradecidas a Deus, vosso Criador, e sempre em toda parte o deveis
louvar, porque vos deu liberdade de voar a todos os lugares, vos deu urna veste
duplicada e triplicada; também porque reservou vossa semente na Arca de Noé, a
fim de que vossa espécie não faltasse ao mundo; ainda mais lhe deveis estar
gratas pelo elemento do ar que vos concedeu. Além disto não plantais e não
ceifais; e Deus vos alimenta e vos dá os rios e as fontes para beberdes, e vos
dá os montes e os vales para vosso refúgio, e as altas arvores para fazerdes
vossos ninhos e, porque não sabeis fiar nem coser, Deus vos veste a vós e aos
vossos filhinhos; muito vos ama o vosso Criador, pois vos faz tantos
benefícios, e portanto guardai-vos, irmãs minhas, do pecado de ingratidão e
empregai sempre os meios de louvar a Deus".
Dizendo-lhes Francisco estas palavras, todos e todos estes passarinhos
começaram a abrir os bicos, a estender os pescoços, e a abrir as asas, e a
reverentemente inclinar as cabeças para o chão, e por seus atos e seus cantos a
demonstrar que as palavras lhes deram grandíssima alegria. E Francisco
juntamente com elas se rejubilava, se deleitava, se maravilhava muito com tal
multidão de pássaros e com a sua belíssima variedade e com a sua atenção e
familiaridade[3]
Uma vez, Francisco tinha se retirado para um eremitério, como era seu
costume, para escapar da vista e da companhia dos homens. Um falcão que por lá
tinha o seu ninho fez com ele um grande pacto de amizade. Sempre cantava para
acorda-lo e indicar a hora em que costumava levantar-se para os santos
louvores. Francisco gostava muito disso, porque toda essa atenção que o pássaro
demonstrava para com ele impedia todo atraso por preguiça. Quando Francisco
estava um pouco mais doente que de costume, o falcão o poupava e não vinha dar
os sinais das horas de vigília. Como se fosse instruído por Deus, tocava ao
amanhecer a campainha de sua voz[4].
Seu estilo de vida era acordar e repousar louvando ao Senhor pelo sol e
pelo fogo. Francisco dizia: “De manhã, quando nasce o sol, toda pessoa deveria
louvar a Deus que o criou, porque por ele os olhos se iluminam de dia; de
tarde, quando cai a noite, toda pessoa deveria louvar a Deus pela outra
criatura, o irmão fogo, porque por ele nossos olhos se iluminam de noite. Nós
todos somos como que cegos, e o Senhor ilumina nossos olhos por essas duas
criaturas. Por isso sempre devemos louvar o glorioso Criador por essas e outras
criaturas suas de que usamos todos os dias”[5].
Louvor que traz concórdia
Certa vez usou a arma do louvor para trazer a concórdia entre a liderança
da igreja e a liderança civil da cidade de Assis. A Legenda da Perusa narra que
quando Francisco jazia doente, tendo já pregado e composto os Louvores, o que
então era bispo da cidade de Assis, excomungou o prefeito da cidade. Pois, indignado
contra ele, o que era prefeito fez forte e curiosamente preconizar pela cidade
de Assis que ninguém vendesse ou comprasse alguma coisa dele, ou fizesse algum
contrato; e por isso eles se odiavam muito um ao outro.
O bem-aventurado Francisco, como estava tão doente. Ficou com pena deles,
principalmente porque nenhum religioso ou secular se intrometia para cuidar de
sua paz e concórdia. E disse a seus companheiros: “É uma grande vergonha para
vós, servos de Deus, que o bispo e o prefeito se odeiem desse jeito e nenhuma
pessoa entre no meio para cuidar de sua paz e concórdia”. E sim fez um verso
nos seus Louvores para aquela ocasião, este: “Louvado sejas, meu Senhor, pelos
que perdiam pelo teu amor e suportam enfermidade e tribulação; bem-aventurados
os que as suportarem em paz, porque por ti, Altíssimo, serão coroados”.
Depois chamou um de seus companheiros, dizendo-lhe: “Vá dizer de minha
parte ao prefeito que ele com os magnatas da cidade e outros, que pode levar
consigo, venha ao palácio do bispo”. E quando ele foi disse a outros dois
companheiros seus: “Ide também diante do bispo, do prefeito e dos outros que
estão com eles e cantai o Cântico de Frei Sol. E confio no Senhor que há de
humilhar os corações deles, vão fazer as pazes entre eles e voltaram à antiga
amizade e bem-querer”. E quando todos se reuniram na praça do claustro da casa
do bispo, levantaram-se aqueles dois frades e um disse: “O bem-aventurado
Francisco compôs em sua doença os Louvores do Senhor por suas criaturas, para
louvor dele e edificação do próximo. Por isso ele vos roga que as ouçais com
grande devoção”. E então começaram a cantar e a dizer-lhes. E imediatamente o
prefeito levantou-se, juntou os braços e as mãos com grande devoção, como se
fosse o Evangelho do Senhor, e também com lágrimas, ouviu atentamente. Pois
tinha muita confiança e devoção por Francisco. Quando acabaram os Louvores do
Senhor, o prefeito disse diante de todos: “Na verdade eu vos digo que perdoo
não só ao senhor bispo, que preciso ter como meu senhor, mas perdoaria mesmo
quem matasse meu irmão ou filho”. E assim se lançou aos pés do senhor bispo,
dizendo-lhe: “Eis que estou pronto a satisfazer-vos em tudo, como vos aprouver
por amor de nosso Senhor Jesus Cristo e de seu servo Francisco”.
O bispo, tomando-o pelas mãos, levantou-o e lhe disse: “Por meu ofício
convinha que eu fosse humilde, mas como sou notavelmente inclinado à ira, é
preciso que me perdoes”. E assim com muita bondade e afeição se abraçaram e
beijaram”[6].
Francisco buscava o consolo e a reparação da ingratidão através dos
louvores a Deus. O Espelho da Perfeição faz a seguinte narração: Levantando-se
de madrugada, ele confessou a seus companheiros: "Se o imperador desse um
reino inteiro a um de seus companheiros, não deveria este alegrar-se muito com
isto? E se lhe desse todo o seu reino não se alegraria ainda mais? Devo desde
agora alegrar-me grandemente nas provações e moléstias, encontrar repouso no
Senhor e render graças a Deus e a seu Filho único, Jesus Cristo, e ao Espírito
Santo, por tal graça que me foi concedida pelo Senhor, que se dignou
garantir-me a posse do seu reino, eu, seu indigno servidor, preso ainda a este
corpo. Para a sua glória e para a nossa consolação e edificação do próximo,
quero compor um novo cântico de louvor às criaturas do Senhor, de quem nos
servimos todos os dias e sem as quais não poderíamos viver e com quem o gênero
humano ofende sempre a seu Criador. Somos sempre ingratos, em virtude de
recebermos tantas graças e benefícios e não louvarmos ao Senhor Criador de
todos estes dons, como devíamos". Sentou-se e refletiu durante algum
tempo. Depois pôs-se a cantar: "Altíssimo, poderoso e bom Senhor,
etc." Compôs a melodia deste cântico e ensinou a seus companheiros para
que o recitassem cantando[7].
Pregação e Louvor
A vida de Francisco era cercada de louvor a Deus. Tinha a prática de
andar cantando louvores. Boaventura escreveu que “depois de uma longa
caminhada, Francisco e seu companheiro chegaram sem dificuldade, cantando hinos
e cânticos de louvor, à hospedaria onde deviam ficar”[8].
Seu estilo de evangelização era pregar e cantar ao mesmo tempo. Certa vez
ele disse: “Por isso eu quero, para o seu louvor e para nossa consolação e
edificação do próximo, fazer um novo Louvor do Senhor por suas criaturas, das
quais nos servimos todos os dias e sem as quais não podemos viver. E nas quais
o gênero humano ofende muito o Criador, e todos os dias somos ingratos por tão
grande graça, porque não louvamos como devemos o nosso Criador e doador de
todos os bens”.
E sentando-se começou a meditar e depois a dizer: “Altíssimo, onipotente,
bom Senhor”. E compôs um cântico nessas palavras e ensinou seus companheiros a
cantá-lo. Pois seu espírito estava em tamanha doçura e consolação, que queria
mandar buscar Frei Pacífico, que no século era chamado rei dos versos e foi um
mestre muito cortês de cânticos, e dar-lhe alguns frades bons e espirituais,
para que fossem pelo mundo pregando e louvando a Deus. Pois queria e dizia que,
primeiro, algum deles, que soubesse pregar, pregasse ao povo, e depois da
pregação cantassem os Louvores do Senhor como jograis de Deus[9].
Como evangelizava cantando e adorando, se dizia os jograis de Deus. Ele
fez a seguinte orientação aos seus discípulos pregadores que dissesse ao povo:
“Nós somos os jograis do Senhor e nisto queremos a vossa remuneração, isto é,
que estejais no verdadeiro arrependimento”. E dizia: “Que são os servos de Deus
senão, de algum modo, uns jograis seus, que devem mover o coração dos homens e
levanta-los para a alegria espiritual?”. E especialmente dos frades menores
dizia que foram dados ao povo para sua salvação[10].
O ato de cantar ao Senhor era seu estilo de vida. Como amava o Francês,
era comum cantar nesta língua. Sua alegria por Cristo era tão intensa que
explodia em louvores.
Tomás de Celano conta que “às vezes,
acontecia o seguinte: A suavíssima melodia de seu coração se expressava em
palavras que ele cantava em francês. E também era em alegres cânticos franceses
que ele extravasava o que Deus lhe tinha murmurado furtivamente ao ouvido. Às
vezes - como pude ver com meus próprios olhos - pegava um pedaço de pau no
chão, punha-o sobre o braço esquerdo, segurava na direita um arco retesado por
um fio, passava-o no pedaço de pau como se fosse um violino e, balançando o
corpo com ritmo, cantava ao Senhor em francês.
Frequentemente essa festa toda acabava em lágrimas, e o júbilo se
dissolvia na compaixão para com a paixão de Cristo. Então começava a suspirar
sem parar, gemendo muito, e logo, esquecido do que tinha nas mãos, era
arrebatado ao céu[11].
A Legenda dos Três Companheiros afirma que seus discípulos caminhavam
pela Marca de Ancona, exultando de alegria no Senhor, enquanto Francisco, em
voz alta e clara, cantava em francês os louvores do Senhor, bendizendo e
glorificando a bondade do Altíssimo. Andavam tão alegres como alguém que
tivesse encontrado um grande tesouro no campo evangélico da Senhora Pobreza,
por cujo amor haviam desprezado, voluntária e generosamente, todas as coisas
temporais, considerando-as como esterco[12].
Louvor e Sofrimento
Seu louvor a Deus não estava relacionado às coisas boas da vida. Criou um
estilo de adoração que permaneceu até a hora de sua morte. A Legenda de Perusa
narra que Francisco, mesmo sofrendo muito pelas enfermidades, louvou ao Senhor
com grande fervor do espírito e alegria do corpo e da alma. Na hora da morte
ele disse: “Então, se devo morrer logo, chamai-me Frei Ângelo e Frei Leão, para
que me cantem sobre a irmã morte”.
Esses frades se apresentaram diante dele e cantaram com muitas lágrimas o
Cântico de Frei Sol e das outras criaturas ao Senhor, que o próprio Francisco
fizera em sua doença para louvar o Senhor e para consolar sua alma e a dos
outros, no qual canto colocou antes do último um verso sobre a irmã morte, a
saber: “Louvado sejas meu Senhor, por nossa irmã a morte corporal da qual
nenhum homem vivo pode escapar. Ai de quem morrer em pecado mortal. Felizes os que
ela encontrar em tuas santíssimas vontades, porque a morte segunda não lhes
fará mal”[13].
Nada podia retirar o louvor a Deus de seus lábios. Louvava a Deus
inclusive na enfermidade.
A Legenda de Perusa diz que “em sua
saúde e enfermidade fez e fazia de boa vontade louvar o Senhor e também animava
os outros a isso. Mesmo quando estava sofrendo pela doença, começava ele mesmo
a dizer os Louvores do Senhor, e depois fazia que seus companheiros cantassem
para que, em consideração do louvor do Senhor, pudesse ser esquecida a
atrocidade das dores e doenças. E assim fez até o dia de sua morte”[14].
Francisco acreditava que os cânticos
ao Senhor trazia alívio para as aflições. Depois que compôs o Cântico das
Criaturas, compôs também alguns cânticos para consolação e edificação das
Pobres Damas, pois sabia-as muito aflitas com suas enfermidades[15]
.
Nunca parou de cantar ao Senhor, mesmo diante de tribulações e ladrões.
Boaventura diz que “desprezando o mundo, livre das cobiças mundanas, deixou sua
cidade natal, alegre e despreocupado. No meio da floresta, cantava ele em
francês os louvores do Senhor, quando apareceram alguns ladrões. O arauto do
Grande Rei, sem nenhum medo, continuou seu canto. Viajante seminu e desprovido
de tudo, encontrava sua alegria, tal como o Apóstolo, nas tribulações.[16]
Para muitas pessoas, era um
escândalo Francisco cantar na hora da dor e da morte. Alguns dias antes de sua morte, esteve doente em Assis no palácio do
Bispo, com alguns de seus companheiros. Apesar de toda a sua doença, ele
cantava muitas vezes certos louvores de Cristo. Um dia, disse-lhe um de seus
companheiros: “Pai, tu sabes que estes cidadãos têm grande fé em ti e te julgam
um santo homem. Por isso podem pensar que, se tu és quem eles creem, deverias,
nesta enfermidade, pensar na morte e antes chorar que cantar, pois estás tão
doente. E acha que o teu cantar e o nosso, que nos fazes fazer, é ouvido por
muita gente do palácio e de fora, porque por ti este palácio está cercado por
muitos homens armados que, com isso, poderiam ter um mau exemplo. Por isso eu
acho, disse o frade, “que tu farias bem sair daqui e que nós voltássemos todos
para Santa Maria dos Anjos, pois não estamos bem aqui, entre seculares”[17]
.
Seu exemplo foi seguido pela multidão no dia de sua morte. Tomás de
Celano informa que quando Francisco morreu, na manhã seguinte, juntou-se a
multidão de Assis com todo o clero e, carregando seu corpo do lugar onde
morrera, levaram-no para a cidade entre hinos e louvores, tocando trombetas.
Cada um levava um ramo de oliveira ou de outras árvores e seguiam solenemente o
enterro, com muitas luminárias e cantando louvores em alta voz[18].
Louvor no Natal do Senhor
O Natal era para Francisco um tempo de louvores ao Deus que se fez pobre
e veio habitar em uma manjedoura.
Três anos antes de sua morte,
resolveu celebrar com a maior solenidade possível, perto de Greccio, a memória
da Natividade do Menino Jesus, a fim de aumentar a devoção dos habitantes.
Francisco mandou pois preparar um presépio e trazer muito feno, juntamente com
um burrinho e um boi, dispondo tudo ordenadamente; reuniram-se os irmãos
chamados dos diversos lugares; acorreu o povo, ressoaram vozes de júbilo por
toda parte e a multidão de luzes e archotes resplandecentes juntamente com os cânticos
sonoros que brotavam dos peitos simples e piedosos transformaram aquela noite num
dia claro, esplêndido e festivo. E Francisco lá estava diante do rústico
presépio em êxtase, banhado de lágrimas e cheio de gozo celestial. Principiou
então a missa solene, na qual Francisco, que oficiava como diácono, cantou o
Evangelho. Pregou em seguida ao povo e falou-lhe do nascimento do Rei pobre a
quem ele chamava com ternura e amor de Menino de Belém[19]
.
Louvor
e dependência completa do Senhor
Francisco
louvava a Deus por poder ter aprendido a depender unicamente dele. Este era o
seu entendimento da pobreza. Poder depender somente de Deus.
Unido à senhora pobreza por um vínculo indissolúvel, esperava seu dote
futuro, não o presente. Cantava com maior fervor e alegria os Salmos que falam
da pobreza como: "Não ficará o pobre em eterno esquecimento", e
"Olhai, pobres, e alegrai-vos"[20].
Cântico das Criaturas
Eis o "Cântico das Criaturas" que Francisco compôs quando o
Senhor lhe assegurou que entraria no seu reino:
Altíssimo, onipotente, bom Senhor, Teus são o louvor, a glória, a honra E
toda a bênção. Só a ti, Altíssimo, são devidos; E homem algum é digno De te
mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor, Com todas as tuas criaturas, Especialmente o
senhor irmão Sol Que clareia o dia E com sua 'luz nos alumia. E ele é belo e
radiante Com grande esplendor: De ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor, Pela irmã Lua e as estrelas Que no céu
formaste claras E preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, Pelo irmão Vento, Pelo ar, ou nublado Ou
sereno, e todo o tempo Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor, Pela irmã Água Que é mui útil e humilde E
preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, Pelo irmão Fogo Pelo qual iluminas a noite. E
ele é belo e jucundo E vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, Por nossa irmã a mãe Terra Que nos sustenta e
governa, E produz frutos diversos E coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor, Pelos que perdoam por teu amor, E suportam
enfermidades e tribulações. Bem-aventurados os que as sustentam em paz, Que por
ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, Por nossa irmã a Morte corporal, Da qual homem
algum pode escapar. Ai dos que morrerem em pecado mortal! Felizes os que ela
achar Conformes à tua santíssima vontade, Porque a morte segunda não lhes fará
mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor, E dai-lhe graças, E servi-o com grande humildade[21].
Francisco chamava todas as criaturas de irmãs, intuindo seus segredos de
maneira especial, por ninguém experimentada, porque na verdade parecia já estar
gozando a liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Na certa, ó bom Jesus, ele que
na terra cantava o vosso amor a todas as criaturas, estará agora a louvar-vos
nos céus com os anjos porque sois admirável[22].
O que você deseja destacar no texto?
Como ele serviu para sua espiritualidade?
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